O segredo de Éfrata

Por Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

 

Éfrata existe “desde os dias da eternidade”, assim se disse o profeta Miqueias. Ela é esperança daqueles que vivem na opressão e trôpegos pela falta de esperança. 

Éfrata é o antigo nome de Belém, foi ali, em suas portas, que Raquel foi enterrada; foi ali, na poeira do mundo, que a visão de um profeta adquiriu contornos límpidos e se tornou vida. 

Nenhuma cidade, entretanto, existe desde a eternidade, só Deus é eterno, mas Éfrata existe. 

Não existe como a cidade que viríamos a conhecer mais tarde, mas existe na ideia de Deus. 

O tempo aproximado no plano de Deus arremessou a eternidade para a história com a encarnação do filho amado. Foi por isso que Jesus disse: “Eu vim para fazer a tua vontade” (Hb 10,9). 

Oculta desde os abismos do tempo é a vontade de Deus. Nela já estava estabelecida que Éfrata seria o lugar da Encarnação, porque não importa os interstícios do tempo, a vontade de Deus se consumará sempre; e, se consumar no tempo é se fazer, e para que tomemos ciência do que foi feito o evento se tornou humano no Natal. 

Éfrata está por toda parte! Por todo canto testemunhamos o seu desenrolar na ação daqueles que amam a Deus, e nele expressa a sua fé. Éfrata é uma ideia maior que nós mesmos. Nem os mais sábios chegam a dominá-la completamente. Seus mistérios e surpresas germinam quotidianamente nas desconexões das incontáveis vidas e experiências vividas no escorrer do tempo sem fim. 

Embora Éfrata não possa ser conquistada, ela pode ser colhida no estender de seus incontáveis ramos que florescem nas terras abandonadas da existência de quem tem coragem de procurá-la. 

Éfrata é mistério desvelado daquele que deveria vir e veio. Também Malaquias fala desse aparecimento dizendo que Ele é “Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos lavadeiros” (3,2). 

Como fogo da Forja, em Éfrata espera-se aquele que tudo liquefará para modelar de novo a humanidade e o porvir. A forja que tudo transforma não consumirá o mundo, mas o fará ainda melhor, quase outra coisa em vista do que tinha sido até então. A história começou a ser remodelada. E, onde o desespero havia se imposto, a esperança o subjuga e cresce. 

Continua dizendo Malaquias sobre aquele que veio, que o seu forjar é como a barrela que purificará. Como a roupa é lavada com a barrela, também o mundo o será com esta nova presença. 

Éfrata, portanto, não é um lugar, embora em um lugar esteja. Éfrata é o lugar que Deus escolheu para cumprir o seu projeto de amor por nós. Tendo que se encarnar em algum lugar, desde a eternidade Éfrata estava em seu pensamento junta com todas as outras coisas. É a sua ideia que existe desde sempre, pois desde sempre no pensamento de Deus estávamos todos nós. 

Assim, a partir daquela forja irresistível, projetada numa manjedoura, o mundo contemplou o seu porvir e sua salvação nos braços de Jesus Cristo, que existe desde os dias da eternidade! 

Fonte: CNBB

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