O privilégio do desapego

Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Por Frei Gustavo Medella

 

“Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26).

À primeira vista, a frase de Jesus parece chocar quem a lê, dado que os laços familiares são, a princípio, algo importante e central na vida do ser humano. No entanto, se o leitor, em vez de colocar a ênfase do ensinamento sobre os parentes (pai, mãe, irmãos etc.) e perceber que no centro da questão está o desapego, a compreensão se torna mais fácil e plausível.

Apegar-se é um caminho que aprisiona e aliena, pois geralmente leva a uma espécie de “objetificação” do outro. Quem vive apegado a pessoas corre o risco de considerá-las coisas de sua propriedade. Pais com apego excessivo aos filhos, por exemplo, podem torná-los muito dependentes e pouco preparados para enfrentar os desafios da vida. No relacionamento a dois, o apego geralmente gera ciúmes excessivos e até violência. Ninguém é propriedade de ninguém.

Desapegar-se é, portanto, uma graça. É adquirir a maturidade de que a vida é maravilhosa, mas muito curta e passageira, tal como reza o salmista, quando diz que os dias do ser humano, “Eles passam como o sono da manhã, são iguais à erva verde pelos campos: De manhã ela floresce vicejante, mas à tarde é cortada e logo seca” (Sl 89). Carregar a cruz significa aceitar os limites a abraçá-los com amor, vivendo na gratuidade e confiando-se ao seguimento de Cristo sob os olhos amorosos do Pai.

Fonte: Franciscanos


FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.

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