O ódio rejeita, o amor acolhe

Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Por Frei Clarêncio Neotti

 

Jesus passou a maior parte de sua vida na Galileia, região norte da Palestina, administrada por Herodes. Como nessa província moravam ‘pagãos’ que, muitas vezes, casavam com hebreus, ou hebreus que comerciavam com ‘pagãos’, os galileus eram malvistos pelos judeus ortodoxos, principalmente pelos que moravam na parte sul da Palestina, chamada Judeia, cuja capital era Jerusalém. Para ir da Galileia à Judeia, o caminho mais curto consistia em descer pelo vale do Jordão, atravessando a Samaria, até Jericó e subir, então, quase mil metros de montanha semidesértica, passando por Betânia e Betfagé, ambas as vilas já nas encostas do Monte das Oliveiras.

Entre judeus e samaritanos existia ódio de morte e contínuos atritos de fundo religioso, racial e político. Os samaritanos eram intrusos, sem o querer. Quando os assírios destruíram o reino de Israel (722 a. C.), deportaram todos os habitantes da região e, em seu lugar, trouxeram um povo ‘pagão’. Voltando os israelitas do exílio (538 a. C.), os samaritanos ficaram na região, adotando costumes israelitas, inclusive o monoteísmo. Mas, não tendo sangue hebreu, jamais conseguiram a amizade, nem mesmo comercial, com os judeus. É, então, compreensível que os samaritanos neguem hospedagem ao grupo de Jesus por “ser evidente que estavam indo para Jerusalém” (v. 53).

Mas esse episódio está carregado de símbolos. Quando Jesus foi a primeira vez a Jerusalém, ainda no seio de Maria, para alcançar Belém, não havia lugar na hospedaria (Lc 2,7). Agora, na última ida a Jerusalém, quando deve acontecer o Natal de toda a humanidade, também não há lugar. Hospedar-se, sentar-se à mesa com alguém indica aceitação. E Jesus não é aceito, é rejeitado (Lc 9,22). Mas sua resposta não é a violência e a vingança como querem Tiago e João. Cristo é a encarnação da misericórdia, e o tempo, agora, é de perdão e salvação. O fogo que Jesus enviará não é destruidor, mas o fogo do Espírito Santo (At 2,3), no dia de Pentecostes, com força para “derrubar os muros da separação e da inimizade” (Ef 2,14).

Fonte: Franciscanos


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

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