“É a elevação sobrenatural que estabelece em nós relações diferenciadas com as três pessoas divinas. Somos filhos do Pai, irmãos de Cristo, no amor do Espírito Santo.”
Por Jackson Erpen
No programa passado, que teve por tema “Igreja da Trindade”, padre Gerson Schmidt* começou recordando que “Deus Pai tem a iniciativa da Igreja, pois tem criado o mundo para salvar-nos em Cristo e, portanto, por meio da Igreja.” Na edição de hoje deste nosso espaço, o sacerdote gaúcho aprofunda o tema da relação da Igreja com as Pessoas da Trindade, falando sobre “O mistério do Pai na Igreja”:
“A Constituição Dogmática conciliar Lumen Gentium, resgatando pensamento paulino da Carta aos Romanos, aponta que a todos os eleitos desde toda a eternidade, o Pai os conheceu de antemão e os predestinou a ser conformes à imagem de seu Filho, para que este seja primogênito entre muitos irmãos (cf. Rm 8,29; LG, 02). Deus Pai tem a iniciativa da Igreja, pois tem criado o mundo para salvar-nos em Cristo e, portanto, em sua Igreja.
“O mundo tem sido criado em Cristo e com vistas a Cristo, aponta o teólogo SAYÉS. O mundo de fato tem sido criado em Cristo, conforme a Carta aos Efésios e a carta aos Colossenses (Ef 1; Col 1,15). O concílio se limita a um fato real: a encarnação e, portanto, a Igreja tem sido decretada por Deus Pai para elevar o homem à participação da vida divina e, caído no pecado, não o abandonou, mas que lhe dirigiu sempre sua ajuda e atenção a Cristo Redentor. A Igreja já estava prefigurada nas origens da humanidade, quando em Adão, o homem havia sido elevado à vida divina. O teólogo Hermas escreveu: “o mundo foi criado em vistas à Igreja”. Portanto, por meio destes teólogos, percebemos que o desígnio de Deus Pai foi criar o mundo em vista da Igreja, para operar, por meio dela, a obra redentora de Seu Filho.
O desígnio do Pai de salvar os homens pela Igreja tem as seguintes etapas históricas:
Primeiro: A Prefiguração – no começo do mundo;
Segundo: A preparação – na história de Israel;
Terceiro: A instituição – no tempo de Cristo;
Quarto: A consumação – no final da história[1].
A Igreja estava prefigurada nas origens da humanidade, quando da criação. Deus, conhecedor da história de todos os tempos, já havia pensado na Igreja. A prefiguração da Igreja acontece no começo do mundo. O Concílio de Trento diz que Adão foi constituído em santidade e justiça. A graça que Adão possuía não pode ser uma graça à margem de Cristo e, portanto, à margem da Igreja. A graça é nossa entrada no seio mesmo da Trindade, e entramos como filhos no Filho Unigênito do Pai.
É a elevação sobrenatural que estabelece em nós relações diferenciadas com as três pessoas divinas. Somos filhos do Pai, irmãos de Cristo, no amor do Espírito Santo. Algo deve estar claro: se Deus deu ao homem sua intimidade desde o princípio, fez isso por Cristo. Deus criou no princípio o mundo em Cristo, em vistas dele. E todo o Espírito concedido aos homens antes da encarnação foi em vista dela.
Na profissão de fé, do Credo católico, professamos que cremos na Igreja. Não podemos dizer “Creio na Santa Igreja” da mesma forma como dizemos que cremos nas pessoas da Santíssima Trindade. A Igreja não é uma criatura que pode ser colocada ao nível de Deus. Mas também a Igreja não é uma simples criação, mas que entra no mistério de Deus e se une a Cristo como seu corpo e sua esposa. É assim que pensavam os escolásticos. Cremos na Igreja, não como realidade sociológica, mas enquanto está mergulhada no mistério salvífico de Deus.”
Fonte: Vatican News
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] SAYÉS, José Antonio. La Iglesia de Cristo, Curso de Eclesiologia, Editora Pelicano, Madrid, 1999, p. 33.