O teólogo Sayes aponta que “só o Filho e o Espírito são enviados. Não o é o Pai. Só o Verbo se encarna. De modo que, ainda que a obra salvífica seja comum às três pessoas porque interveem todas elas, cada uma o faz de modo peculiar. Só a pessoa do Verbo, o filho, é enviado para realizar pessoalmente a redenção; só o Verbo de Deus assume fisicamente a natureza humana formada no seio de Maria e só dele se pode atribuir as ações realizadas mediante essa natureza humana”.
Por Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
Inspirado no número 3 da Lumen Gentium, “Missão e obra do Filho: fundação da Igreja”, padre Gerson Schmidt* dá sequência a sua série de reflexões sobre a Igreja, nos propondo hoje “O Mistério do Filho na sua Igreja”:
“A Constituição Dogmática sobre a Igreja, no número 3, aponta o mistério de Cristo em sua Igreja, como enviado do Pai. Diz assim a LG: “Veio, pois, o Filho, enviado pelo Pai, que n’Ele nos elegeu antes de criar o mundo, e nos predestinou para sermos seus filhos de adoção, porque lhe aprouve reunir n’Ele todas as coisas (cfr. Ef. 1, 45. 10). Por isso, Cristo, a fim de cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao Reino dos Céus e nos revelou o seu mistério, realizando, com a própria obediência, a redenção. A Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus. Tal começo e crescimento exprimem-nos o sangue e a água que manaram do lado aberto de Jesus crucificado (cfr. Jo. 19,34), e preanunciam-nos as palavras do Senhor acerca da Sua morte na cruz: «Quando Eu for elevado acima da terra, atrairei todos a mim» (Jo. 12,32). Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, na qual «Cristo, nossa Páscoa, foi imolado» (1 Cor. 5,7), realiza-se também a obra da nossa redenção. Pelo sacramento do pão eucarístico, ao mesmo tempo é representada e se realiza a unidade dos fiéis, que constituem um só corpo em Cristo (cfr. 1 Cor. 10,17). Todos os homens são chamados a esta união com Cristo, luz do mundo, do qual vimos, por quem vivemos, e para o qual caminhamos” (LG, 3).
Em toda a vez que a Igreja celebra e atualiza o sacrifício pascal de Cristo no altar, renova a redenção realizada para toda a humanidade, se efetua a obra de nossa salvação. Ao mesmo tempo, o sacramento do pão eucarístico não só representa, mas reproduz a unidade dos fiéis, que constituem um só corpo em Cristo, conforme a primeira carta aos Coríntios (1Cor 10,17). É ao Filho que corresponde executar o plano de salvação do Pai, embora haja a participação da Trindade. Cristo, o Verbo encarnado, foi enviado pelo Pai para o perdão de nossos pecados e tornar-nos filhos adotivos. Assim, nos tornamos filhos no Filho Unigênito do Pai. Por vontade do Pai, Cristo realiza a obra salvífica, por meio do Espírito Santo, que perpetua em sua Igreja.
Mediante a criação, todos os seres criados participam do ser divino, comum às três pessoas divinas. Embora haja uma cooperação das três pessoas da Santíssima Trindade, na obra da criação, redenção e santificação, o teólogo SAYES aponta que no mistério trinitário, há funções específicas e peculiares de cada pessoa divina. Lembra que “só o Filho e o Espírito são enviados. Não o é o Pai. Só o verbo se encarna. De modo que, ainda que a obra salvífica seja comum às três pessoas porque interveem todas elas, cada uma o faz de modo peculiar. Só a pessoa do Verbo, o filho, é enviado para realizar pessoalmente a redenção; só o Verbo de Deus assume fisicamente a natureza humana formada no seio de Maria e só dele se pode atribuir as ações realizadas mediante essa natureza humana”[1]. A fórmula da encarnação é tão forte que os Padres da Igreja chegam a afirmar que “um da Santíssima Trindade tem sofrido”.
Essa redenção do Filho se perpetua nas ações da Igreja. Quando a Igreja atua, é Cristo quem opera, por obra do Espírito, a salvação entre nós. E o número 4 da LG aponta essa obra perpetuada: “O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo (cfr. 1 Cor. 3,16; 6,19), e dentro deles ora e dá testemunho da adopção de filhos (cfr. Gál. 4,6; Rom. 8, 1516. 26). A Igreja, que Ele conduz à verdade total (cfr. Jo. 16,13) e unifica na comunhão e no ministério, enriquece-a Ele e guia-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos e adorna-a com os seus frutos (cfr. Ef 4, 1112; 1 Cor. 12,4; Gl 5,22). Pela força do Evangelho rejuvenesce a Igreja e renova-a continuamente e leva-a à união perfeita com o seu Esposo. Porque o Espírito e a Esposa dizem ao Senhor Jesus: ‘Vem’ (cfr. Apc 22,17)!” (LG,4). Assim a Igreja toda aparece como «um povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo”[2].”
Fonte: Vatican News
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] SAYÉS, José Antonio. La Iglesia de Cristo, Curso de Eclesiologia, Editora Pelicano, Madrid, 1999, p. 37.
[2] S. Cipriano, De orat. Dom. 23: PL 4, 553; Hartel, III A, p. 285. S. Agostinho, Serm. 71, 20, 33: PL 38, 463 s. S. J. Damasceno, Adv. Iconocl. 12: PG 96, 1358 D.