O mistério da Igreja

Celebração da Paixão do Senhor (02/04/2022) - foto/reprodução Vatican Media/ Vatican News

“A Igreja, sendo uma realidade visível e histórica, é, no fundo, a realidade histórica do desígnio de salvação que nasce da Trindade e que à ela conduz. O mistério de Deus operado em Cristo por meio da Igreja tem, pois, como contraponto o mistério da in (em) equidade. É a ação de satanás que põe obstáculos à ação salvadora de Deus. Mas a vitória final dos eleitos e escolhidos tem em sua base e fundamento o mistério pascal de Cristo.”

 

Por Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“É na Igreja que Cristo realiza e revela o seu próprio mistério, como a meta do desígnio de Deus: «recapitular tudo n’Ele». São Paulo chama «grande mistério» à união esponsal de Cristo e da Igreja. Porque está unida a Cristo como a seu esposo, a própria Igreja, por seu turno, se torna mistério. E é contemplando nela este mistério, que S. Paulo exclama: «Cristo em vós — eis a esperança da glória!» (CIC 772).”

Dando sequência a sua série de reflexões sobre a Igreja, padre Gerson Schmidt* nos fala hoje sobre “O mistério da Igreja”:

“O Concílio se voltou à teologia do Mistério da Igreja. A Igreja só pode ser entendida como é, como o mistério de salvação, que nascendo no seio da Trindade, se realiza em Cristo por obra do Espírito Santo para introduzir os homens na família de Deus, superando o pecado e a morte[1]. A Igreja não nasce de iniciativa humana no intento de superar os limites e sofrimentos humanos. Não é uma fraternidade puramente social nem consequências de forças puramente humanas. A Igreja é superior ao tempo e está preparada desde toda a eternidade no desígnio salvador de Deus Pai em Cristo.

No Cristianismo, se fala do mistério de Cristo que o homem não pode conquistar por sua inteligência, tão somente por suas próprias forças e cumprimento exaustivo da lei, senão recebendo somente como dom e graça do alto. Jesus mesmo diz: “Ninguém vem a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair”(Jo 6,44).

Muitos teólogos escrevem sobre o Mistério da Igreja: Casel, Congar, Romano Guardini, Philips e outros. O Teólogo Collantes aponta assim: “A Igreja é vida e ação de Deus sobre a história humana. Cada indivíduo é uma pequena Igreja, porque no mais íntimo da decisão pessoal se desenrola o drama de sua própria entrega à ação salvadora de Deus ou de sua frustração como escolhido. A Igreja, em grande, não é outra coisa senão a socialização da ação divina que se realiza comunitariamente em todos aqueles que aceitam a chamada de Deus”[2].

Enquanto Cristo é o sacramento do Pai, temos que entender que a Igreja é o sacramento de Cristo, como sinal que tem presente entre nós o mistério do desígnio salvador de Deus. São Paulo fala da teologia do mistério quando aponta que o mistério escondido desde toda a eternidade, tem sido revelado e tem se manifestado em Cristo Jesus, chegando ao conhecimento das nações por meio do Evangelho e a pregação, para conduzir-nos à fé e à obediência. “A Igreja é a realização efetiva do mistério. A Igreja é o mistério de Cristo tornado visível através dos séculos. O plano de salvação não é só revelado ou proclamado por meio do Evangelho, mas também é realizado efetivamente pela Igreja. Como Cristo é o mistério de Deus tornado visível, assim a Igreja é o mistério (aqui poderíamos dizer sacramento) de Cristo tornado visível nos séculos. Neste sentido, ‘mistério” é equivalente a ‘sacramento’: Cristo, sacramento de Deus; a Igreja, sacramento de Cristo”[3].

A Igreja, sendo uma realidade visível e histórica, é, no fundo, a realidade histórica do desígnio de salvação que nasce da Trindade e que à ela conduz. O mistério de Deus operado em Cristo por meio da Igreja tem, pois, como contraponto o mistério da in equidade. É a ação de satanás que põe obstáculos à ação salvadora de Deus. Mas a vitória final dos eleitos e escolhidos tem em sua base e fundamento o mistério pascal de Cristo. Por isso, toda a importância da Igreja deriva de sua relação com Cristo. Na Igreja se tem presente a páscoa do Senhor, que é nossa salvação. Se compreende assim que mistério e sacramento vem a ser o mesmo. Por isso, o termo latino “sacramentum” se traduz em termo grego “mysterion”. É na Eucaristia, segundo a linguagem paulina, que a Igreja se congrega como Corpo do Senhor, pois nos alimentamos com o mesmo pão e formamos a mesma família (cf. 1Cor 10,17). A LG, no número 26, aponta que o mistério da Igreja se realiza ali onde se reúnem os fiéis mediante a pregação e se alimentam do corpo do Senhor, sob a presidência do pastor.”

Fonte: Vatican News

 

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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[1] SAYÉS, José Antonio. La Iglesia de Cristo, Curso de Eclesiologia, Editora Pelicano, Madrid, 1999, p.25.

[2] J. COLLANTES, La Iglesia de la palavra, Madrid, 1972, I, 108.

[3] SAYÉS, José Antonio. La Iglesia de Cristo, Curso de Eclesiologia, Editora Pelicano, Madrid, 1999, p. 28.

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