Por Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
A Semana Santa marca os últimos dias vividos por Cristo antes de sua Paixão, Morte e Ressurreição. As celebrações iniciam no “Domingo de Ramos”, que é o “Domingo da Paixão do Senhor”, em que se celebra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e também a sua paixão e morte de Cruz. A Semana Santa encerra com a celebração do grande Tríduo Pascal. O Domingo de Ramos reflete sobre a Paixão e Morte de Jesus.
Jesus morreu, provavelmente, no dia 14 de Nisã, segundo o calendário da época. Era a Páscoa dos judeus. As autoridades dos judeus o acusaram de blasfêmia por dizer que era o Messias, Filho de Deus e de subversão por ensinar a perdoar e a amar como expressão da vontade de Deus. Levado a Pilatos e a Herodes, foi acusado de promover desordem entre o povo e de se autoproclamar rei. (Lc 23,1-8). Jesus foi torturado e repudiado pelos soldados romanos. (Jo 19,1-5). Por fim, Pilatos lavou as mãos do sangue inocente de Jesus e o entregou para ser crucificado. (Mt 27,11-26). Ele carregou a própria Cruz até um lugar chamado Gólgota (lugar da caveira). Ali foi crucificado entre dois ladrões.
Acima da Cruz, constava o motivo: “O Rei dos Judeus” (INRI = Iēsus Nazarēnus, Rēx Iūdaeōrum). Geralmente, a cruz não passava da altura de um homem. Para se acomodar nela, a vítima devia ser pregada com os joelhos dobrados. Após várias horas de sofrimento, o crucificado tinha suas pernas quebradas, de modo a acelerar a morte. No caso de Jesus, não quebraram suas pernas. Para se certificarem de sua morte, deram-lhe um golpe de lança que perfurou seu peito, quando ele já se encontrava morto.
A sentença de morte não surgiu de repente na vida de Jesus; ela foi o preço que Cristo teve de pagar por sua opção fundamental e radical pelo Reino de Deus e sua justiça. Na Cruz, o Filho de Deus sofre e morre pelos últimos deste mundo: os pobres e injustiçados, doentes e rejeitados, pecadores e prostitutas. Jesus chama todos à conversão e revela que o amor é a medida de todas as coisas.
As palavras de Jesus eram fortes demais, e as multidões o seguiam. Aclamado como rei, entrou triunfalmente em Jerusalém. Como profeta destemido, apontava as infidelidades a Deus, denunciava as injustiças que o povo sofria e convocava todos à conversão. Como Messias, anunciava, com palavras e obras, a Boa-Nova da chegada do Reino de Deus. Jesus curava em dia de sábado, falava com samaritanos, tocava nos doentes.
Tudo isso desafiava os poderes políticos e religiosos estabelecidos na época. A crucifixão de Jesus foi decretada pelo poder romano como pena por agitar o povo e perturbar a ordem pública. Foi considerado um agitador, um perigo ao Império por ter sido aclamado rei pelo povo. A resposta do povo foi crucificar o “Rei dos Judeus”. A crucificação era a pena que se aplicava àqueles que se revoltavam contra a ordem social e política do Império Romano.
O amor do Pai, que Jesus revelou, teve uma resposta negativa por parte da humanidade. A doação total de Cristo na Cruz é a resposta à rejeição: “Maior prova de seu amor.” O mistério da Cruz revela o amor de Deus que deseja salvar todos, ainda que nem todos acolham esse sinal infinito de amor.
No Madeiro, todo ser humano sabe que, em seu sofrimento, tem alguém que lhe faz companhia, como bem rezou o Papa São Paulo VI: “Obrigado, Senhor, por esta piedosa solidariedade com nossa miséria. Obrigado, Senhor, por ter feito desta fraqueza uma fonte de expiação e salvação! Que eu sinta, como dirigidas a mim, as palavras de Santo Agostinho: ‘A força de Cristo te criou, a fraqueza de Cristo te redimiu’.”
Fonte: CNBB