O impacto da Inteligência Artificial na evangelização: o caso Chatgpt

Imagem por Freepik

A sociedade humana está em uma nova era com as descobertas científicas e invenções tecnológicas. O saber (ciência) e o fazer (técnica) estão transformando o humano.

 

Por Dom Edson Oriolo
Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG

As novas tecnologias desafiam os seres humanos. Atualmente, as comunicações são feitas pelo metaverso (mundo físico e digital). Há o uso dos protéticos (reposição artificial de partes do corpo ou ter membros controláveis por chips que provocam impulsos nervosos). Avança a nanotecnologia (criação de máquinas a partir de moléculas para operar no corpo humano). Crescem as redes neurais (sistemas computacionais com habilidades para aprender com a experiência, baseados no funcionamento do cérebro) e está em ato a manipulação genética (projeto genoma).

A sociedade humana está em uma nova era com as descobertas científicas e invenções tecnológicas. O saber (ciência) e o fazer (técnica) estão transformando o humano, levando a mente a enorme prolongamento, isto é, a inteligência humana está buscando crescimento e novas funcionalidades, por meio da inteligência artificial (IA). A inteligência artificial é uma virada tecnológica. “Feliz o homem que encontrou sabedoria, e que alcançou grande prudência” (cf. Pr 3,13)

A inteligência artificial já é uma realidade no nosso cotidiano. Quando usamos o celular, com centenas de recursos, somos impactados com a inteligência artificial, que nos apresenta mensagens onde estamos e opções para buscarmos o que queremos. A inteligência artificial está no carro, quando usamos aplicativos para navegar e nos deslocar. São milhares de aplicativos para solucionar inúmeros desafios em todas as dimensões, graças à inteligência artificial. A IA permite que máquinas possam realizar tarefas complexas no lugar da pessoa humana. Mas o ChatGPT tornou-se uma ferramenta de inteligência artificial, de fato, surpreendendo a humanidade.

ChatGPT veio como uma proposta totalmente diferente da que estávamos habituados. O programa é treinado sobre um conjunto de dados pré-definidos para tornar decisões precisas quando solicitamos. O usuário digite o que precisa e a ferramenta cria respostas coerentes a partir de dados armazenados. Ele produz ou gera textos, imagens, músicas, discursos, homilias, palestras, códigos e vídeos.

Basta lembrarmos da máquina de escrever, em que usamos as pontas dos dedos para escrever um texto. Eles funcionam graças aos 86 bilhões de neurônios do cérebro humano. Hoje, os mesmos dedos nos movimentam no espaço. Com os dedos somos capazes de transformar bens ociosos em recursos. Usamos os dedos para multiplicar dinheiro, ampliar o acesso ao conhecimento, transferir valor do material para o imaterial, para criar novas moedas de troca etc. Nesse mundo sempre acreditamos que aquilo que os dedos produzem são confiáveis.

Ao escrever um texto, em uma máquina de datilografia ou em um computador, a pessoa utiliza os expedientes racionais para transferir e materializar seus pensamentos sobre um determinado tema ou assunto. Assim, ela transforma as ideias em palavras concretas, criando artigos, textos, estudos a partir de processos racionais.

Destarte, quando entramos numa máquina ou ChatGPT não vamos explorar a nossa capacidade cognitiva para produzir algo. Porém, ao digitar perguntas vamos explorar a capacidade da máquina para criar textos, homilias, palestras, conceber imagens, elaborar slides, vídeos e preparar linhas de programação com um simples pedido. A máquina transforma a pergunta em totens e compara com os 175 bilhões de parâmetros que tem na memória. Consegue deduzir o tema em questão e constrói respostas usando palavras em frases sobre o assunto de uma maneira muito rápida, em segundos. Assim, é necessário convencer as pessoas sobre a confiabilidade ou não do que a máquina produz ao ser perguntada.

A IA-ChatGPT está avançando muito rápido, sendo fruto de uma nossa experiência humana.  Está indo além dos limites do humano que conhecemos.  Está mudando o jeito de como vivermos na sociedade. As soluções dadas pela IA no ChatGPT vêm impactando os diferentes modos de trabalho, abrindo perspectivas de futuro, impactando a medicina, a sociologia, a psicologia, a educação, a religião, a evangelização e influenciando no pensar e agir das pessoas. Ela é treinada em uma vasta quantidade de dados textuais e pode realizar diversas tarefas, como responder perguntas, escrever ensaios, criar conteúdo, produzir conhecimentos e muito mais. Sua principal capacidade é gerar respostas contextualmente relevantes e coerentes daquilo que solicitamos ao perguntar.

ChatGPT é uma ferramenta que pode ser usada para ajudar na criação de conteúdos para evangelização. Para usufruirmos do ChatGPT ao evangelizarmos temos que ter passos definidos e organizados, à luz do mandato missionário de Jesus Cristo. É indispensável definir bem “os processos e passos na evangelização”, “ter uma representação esquemática da instituição e dos processos e uma narrativa bem descritiva de como operacionalizar todo o processo de evangelização”. É necessário uma pessoa que tenha sensibilidade para interpretar os resultados gerados pela máquina. Isso se deve ao fato de que, nesses processos, o ser humano está por trás da máquina e deve avaliar e refletir sobre as respostas à luz da Palavra de Deus, conforme esclarecida pela tradição e pelo magistério ordinário e extraordinário da Igreja. A pessoa, com seus expedientes racionais, utiliza o ChatGPT de maneira eficaz e iluminadora, fazendo uma diferença significativa.

Trazendo para a prática evangelizadora, percebo que o ChatGPT inegavelmente faz parte do cotidiano dos adolescentes e jovens. Há uma tendência, devido ao choque de gerações, de nos opormos ao uso dessa ferramenta. Nesse sentido, entendo que a catequese poderia utilizar essa tecnologia para buscar uma linguagem adequada à transmissão da fé para essas novas gerações.

Além disso é bom ter presente a recomendação do papa Francisco, na mensagem para 58º Dia das Comunicações, em 12 de maio de 2024: “Compete ao homem decidir se há de tornar-se alimento para os algoritmos ou nutrir o seu coração de liberdade, sem a qual não se cresce na sabedoria. Esta sabedoria amadurece valorizando o tempo e abraçando as vulnerabilidades. Cresce na aliança entre as gerações, entre quem tem memória do passado e quem tem visão de futuro. Somente juntos é que cresce a capacidade de discernir, vigiar, ver as coisas a partir do seu termo. Para não perder nossa humanidade, procuremos a Sabedoria que existe antes de todas as coisas (cf. Sir 1,4), que, passando através dos corações puros, prepara amigos de Deus e profetas (cf. Sab 7,27): há de ajudar-nos também a orientar os sistemas de inteligência artificial para uma comunicação plenamente humana.

Fonte: Vatican News

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