“Se eles se calarem, as pedras gritarão” – Lc 19,40
Após dois anos de uma pandemia que impediu os católicos de saírem às ruas, as pedras mantiveram-se inertes no silêncio. O povo de Deus, no entanto, pôde voltar a cantar: “Hosana ao Filho de Davi. Bendito aquele que vem em nome do Senhor. Hosana no mais alto dos céus!” (Mt 21,9).
Não foram multidões às ruas, mas umas tantas dezenas de pessoas tomaram o caminho das procissões. De certa maneira, ainda com um engasgo no peito e na voz, com uma certa timidez, quase como se não acreditando que os ramos estavam novamente ali, prontos para serem agitados; que as procissões iam mesmo acontecer, que Jesus retomava o caminho, num jumentinho, para fazer história em nossa vida, para nossa redenção.
Mas aconteceu. O Senhor ouviu nosso grito de “Hosana”: salva-nos, ajuda-nos, liberta-nos! Salvou-nos!
O Domingo de Ramos
Um domingo que jamais será como outro qualquer. Não apenas porque é aquele domingo que abre a Semana Maior da nossa fé, da história do cristianismo. Mas por ter sido “O DOMIGO” da retomada de uma tradição, da retomada de uma fé e devoção que ficaram enjauladas por entre as paredes de casa, num isolamento que silenciou, em definitivo, milhares de vozes no Brasil e milhões em todo o mundo.
Na Paróquia Nossa Senhora da Saúde uma agitação interna tomou conta de todos. Tudo preparado com zelo, amor e um senso de acolhida para receber os irmãos e irmãs – muitos deles, há tempos afastados.
A primeira procissão aconteceu na Comunidade Nossa Senhora da Conceição, às 8h da manhã – na nossa “menininha”, a menor de nossas três comunidades e nem por isso menos dedicada e voltada para a centralidade da nossa vida: Jesus Cristo. Em meio ao impacto de voltar às ruas na Semana Santa, lá estavam também aqueles que, no ano passado, assumiram o ministério extraordinário da Sagrada Comunhão. O primeiro Domingo de Ramos nas ruas para esses novos ministros.
Às 10h, o povo de Deus se concentrou no Largo do Batistinha, de onde saíram para a Matriz Nossa Senhora da Saúde – numa procissão belíssima que nos lembrou, inclusive, que nem o sol, já um tanto escaldante para o horário, é capaz de paralisar os cristãos.
Na Comunidade Nossa Senhora de Fátima, os fiéis se reuniram na parte da tarde, às 17h, para a procissão e bênção dos ramos, de onde seguiram para a Igreja na qual várias pessoas já aguardavam para a Santa Missa.
A Santa Missa do Domingo de Ramos e da PAIXÃO
A gente sempre lembra da euforia dos ramos agitados, da alegria, dos gritos e cantoria e imagina a multidão recebendo Jesus como o rei que Ele é. A gente pensa nisso e segue pela procissão neste ritmo, até adentrar o templo.
Talvez não no instante da chegada, quando a igreja parece tão eufórica e ainda mais bela pela decoração, mas no instante em que mergulhamos o olhar sobre o altar nos damos conta de que a “festa” acabou.
A Semana Santa exerce este “poder” sobre cada um de nós: de partirmos da extrema alegria ao mais sufocante silêncio e dor. Partimos dos gritos de hosana, mergulhamos no absoluto vazio da morte do Senhor e findamos a jornada no êxtase da ressurreição. É muito para se viver em tão pouco tempo. Mas assim foi a vida do próprio Cristo, de uma intensidade e entrega absolutas à vontade do Pai. Entreguemo-nos também.
Foram quatro celebrações eucarísticas, duas na Matriz da Saúde e uma em cada comunidade paroquial, no domingo que começou com os ramos e findou o olhar no vermelho da paixão estendido no forro do altar, no tapete e nas vestes do padre.
As crianças
Mais focados, talvez, no alvoroço dos ramos, as crianças se destacaram no domingo. Nós adultos já estamos meio que acostumados, mas pra elas tudo é quase sempre uma novidade, ainda que se repita a cada ano.
A celebração das 10h na Matriz é para as crianças – há pelo menos três décadas! E elas fazem bonito, entregam-se ao serviço nas proclamações da Palavra, no comentário. São parte da comunidade de fé. São o futuro!
No colo, entre um banco e outro, elas se intercalam com os adultos e idosos – pais, mães, avós e/ou fiéis que preferem participar das missas dominicais neste horário.
A catequese torna tudo mais leve, preparando-os também para o Cristo da Cruz e não apenas para o Cristo da Páscoa. Então, são elas que dividem com o sacerdote a leitura de um dos evangelhos mais sofridos da caminhada cristã. Seguram os microfones e saltam de uma infância sem compromissos para uma infância com Cristo.
A beleza do verdadeiro sentido de “família cristã” salta aos olhos nas missas das crianças. Este ano, em especial, uma alegria genuína me furtou o fôlego.
Ali, entre tantos, os pequeninos, bem pequeninos, vivendo seu primeiro Domingo de Ramos e da Paixão. Quantos não se perguntam: o que tão pequenos fazem ali? O que entendem de tudo isso?
Entendem tudo! Embora não na dimensão que nós buscamos compreender. Paira sobre eles a doce pureza e entendimento do Espírito Santo – Aquele que faz perturbar nossos interiores com alegrias extremas e maturidade para compreender as dores. As crianças nadam nas sutilezas da compreensão das coisas de Deus. Não à toa, Jesus deixou claro seu imenso e incomparável amor por elas.
Fiquemos com a beleza das respostas das crianças: este olhar maravilhado e atento para tudo que está ali, bem diante delas, como a igreja adornada, os cantos, os silêncios, os joelhos dobrados, as toalhas vermelhas, os ramos espalhados, os santos cobertos.
A pequena *Laura, de 5 meses, deu conta de mais de uma hora no templo. Tão pequenina e já ali, fazendo seus primeiros contatos com a história e caminhada de Jesus. Talvez, no próximo ano, ela já seja capaz de segurar um raminho nas mãos e daqui uns 10, seja ela ali na frente do presbitério… a proclamar uma das falas do Evangelho da Paixão.
(…a Semana Santa faz isso com a gente: dispara alegrias e recolhimentos. Mas, e sobretudo, fé, muita fé de que há todo um futuro de pessoas para continuar a missão de levar Jesus e glorificar a Deus).
Hosana nas alturas!
Liliene Dante
* A pequena Laura é filha do casal Fabrícia Benevides e Rodrigo Bittencourt
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