Por Frei Clarêncio Neotti
Mais vezes dissemos que Lucas gosta de fazer contrastes. Hoje emprega o paralelismo, bastante comum na literatura do tempo: fogo-água (= batismo), desejo-angústia; acender o fogo-consumar o batismo. A associação água-fogo é característica da literatura apocalíptica hebraica, bastante comum também fora da Bíblia. O apocalipse era um gênero literário, como a poesia, o teatro, o romance. Ele era usado para descrever o julgamento de Deus sobre o mundo carcomido pelo pecado, invadido pela idolatria, e a construção de um mundo novo, fundamentado na piedade e na fidelidade a Deus.
Para nós ocidentais, o estilo apocalíptico apresenta dificuldade de compreensão. Mas o povo que escutava Jesus o compreendia muito bem. Jesus emprega, então, o estilo apocalíptico exatamente no momento em que se aproxima da etapa final de sua missão. A morte e a ressurreição representam para ele e para a humanidade o momento decisivo, o momento do julgamento divino: ou o discípulo aceita a morte de Cristo e morre com ele, para com ele e como ele ressuscitar, ou se escandaliza, isto é, recua diante do fato milagroso da Páscoa e se perde, porque não há outra porta para a eternidade fora da Morte e Ressurreição de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, Salvador.
O povo esperava que Deus mandasse fogo do céu para queimar as injustiças. Ou renovasse o dilúvio. Jesus sugere que o fogo destruidor e o dilúvio purificador serão sua morte na cruz.
Fonte: Franciscanos
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.