O Encontro

Momento do Encontro das imagens de Nossa Senhora das Dores e do Senhor dos Passos na Av. Mauro Ribeiro, em frente ao Santuário São Geraldo (05/04/2023) - foto/Pascom

Por Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

 

Ao longo da Semana Santa, a semana maior para nós católicos, acontecem diversas celebrações da piedade cristã para fortalecer a nossa fé e acompanhar os últimos passos de Jesus até a morte de Cruz e posterior ressurreição. É importante celebrar bem a Semana Santa e resgatar a fé popular no povo.  

A procissão do encontro normalmente acontece na terça ou quarta-feira da Semana Santa. Os homens saem de um ponto com o Senhor dos Passos e as mulheres de outro ponto com Nossa Senhora das Dores (aqui no centro do Rio de Janeiro, o Senhor dos Passos sai da Catedral e N. Sra. Das Dores da Matriz N. Sra. Da Glória no Largo do Machado). Todos chegam juntos em frente à paróquia ou em uma praça (aqui será no Largo da Glória, próximo da Paróquia do Coração de Jesus) e acontece o encontro de Jesus com sua Mãe, recordando o que aconteceu no caminho em direção ao Calvário. Ao chegarem no local profere-se o sermão e, em seguida, o povo reunido contempla as imagens e reza refletindo sobre os fatos.  

Nessa noite contemplamos o encontro do Filho com sua Mãe, observamos a dor de uma Mãe ao ver seu filho sendo entregue à morte. Nossa Senhora não se desespera, mas no silêncio guarda e observa tudo em seu coração. Jesus, com o peso da Cruz às costas, sendo levado como se fosse uma ovelha em direção ao matadouro. Sem contar que Jesus foi condenado inocentemente a morte, sem ter cometido crime algum, a única coisa que Jesus fez foi amar demais.  

Lembremos nessa noite de tantas mães que sofrem ao verem seus filhos na prisão ou até mesmo que enterrar os seus filhos, infelizmente mortos pelo tráfico de drogas ou por terem entrado no crime organizado. Ou mesmo aquelas mães que perdem seus filhos cedo, mortos por causa de alguma doença grave.  

Que Nossa Senhora das Dores ou da Consolação ou mesmo da Piedade, conforte essas mães e lhes dê a fortaleza da fé. Temos a certeza da ressurreição final e que um dia todos nós nos encontraremos na eternidade. A morte não tem a última palavra, nos separaremos por um tempo aqui, mas nos encontraremos no céu. Elevemos uma prece a Deus para que essas mães nunca percam a fé e a esperança em Deus.  

Ao voltarmos o nosso olhar a Jesus e observar que Ele olhava com misericórdia para sua Mãe, lembremos que os filhos devem ter esse sentimento por suas mães e não as abandonar ou desprezá-las. Um filho nunca deveria magoar as suas mães, pois foi por meio delas que eles vieram ao mundo. Que todos os filhos cuidem de suas mães até a velhice e não as abandonem. Fazendo este gesto de caridade cristã até seus pecados são perdoados como lembra a Palavra de Deus! 

Todas as celebrações da Semana Santa trazem para nós um significado especial e nos faz meditar e pensar. A celebração do encontro na terça ou quarta-feira santa é em especial voltada para as mães e para os filhos. Que as mães não precisem chegar ao ponto de enterrar os seus filhos, e os filhos cumpram aquilo que nos pede a lei de Deus, amar e honrar os pais até a velhice. Que em todos os lares haja espaço para o diálogo, amor e respeito. Quem em todos os lares sobretudo não falte Deus. Que pais e filhos saibam carregar as cruzes de cada dia e tenham respeito mútuo.  

Que após a celebração de hoje os filhos possam abraçar as suas mães, dizer a elas o quanto elas são importantes em suas vidas e o quanto eles a amam. Do mesmo modo que as mães possam abraçar os seus filhos e dizer o quanto eles são importantes, e que sempre vai amá-los, independentemente de qualquer coisa.  

A Campanha da Fraternidade deste ano concluída no domingo de ramos refletiu sobre a amizade social, e teve como lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). A partir dessa Campanha da Fraternidade reflitamos sobre a importância de os filhos serem amigos de seus pais, confiarem neles e contarem tudo o que lhes aflige. O melhor amigo dos filhos devem ser seus pais, pois as outras amizades são passageiras, mas a amizade dos pais é fiel, para uma vida toda. Infelizmente só damos valor quando perdemos alguma coisa, muitas vezes os filhos não dão o verdadeiro valor aos pais agora, mas quando os pais se forem sentirão saudades. 

Também nessa noite seria muito importante que refletíssemos sobre a cultura do encontro que fará a grande diferença nestes tempos de tantas polarizações e divisões, guerras e embates onde tantos perdem a vida em nosso tempo.  

A dores de Nossa Senhora foram tão grandes que é como se fosse uma espada que atravessasse a sua alma. A Igreja contempla as dores de Nossa Senhora na quarta-feira santa, além de celebrar o dia de Nossa Senhora das Dores em 15 de setembro, um dia após a exaltação da Santa Cruz. Maria, como sempre, guardava tudo em seu coração, e buscava compreender os planos de Deus para a sua vida. Cumpriu-se a profecia que o profeta Simeão havia dito: “Quanto a ti, uma espada de traspassará a alma” (Cf Lc 2). 

Por fim, podemos lembrar nessa celebração de tantas mães que veem seus filhos morrerem inocentemente e choram pela morte de seus filhos. Que Deus e o Espírito Santo as ilumine e conforte os seus corações e iluminadas pela fé possam crer na ressurreição final.  

Façamos o esforço de participar de todas as celebrações da Semana Santa e vivê-la com intensidade. Que esses momentos da piedade popular, junto com os litúrgicos possam reavivar em nós a esperança e a fé na ressurreição. Rezemos por todas as mães e seus filhos, para que Deus possa sempre livrá-los do mal. 

Fonte: CNBB

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