O associacionismo juvenil na Exortação Apostólica Christus Vivit

Imagem: foto de Rocío Acedo-Rico em Cathopic

Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar da Arquidiocese de Belém/PA

 

Uma vez que a abordagem sobre a pastoral juvenil no Sínodo para a juventude (ano 2018) foi muito profunda, ampla e pluridimensional, os padres sinodais não poderiam ter deixado de lado a significatividade dos grupos juvenis. Antes de concluir as reflexões sobre a importância do associacionismo na pastoral juvenil, recordemos o que nos apresenta a Exortação Apostólica, pós-sinodal Christus Vivit, do Papa Francisco (2019).

Grande parte das reflexões sobre o associacionismo juvenil presente no documento final do Sínodo, também se apresenta na Exortação Apostólica. Recordemos alguns tópicos do Documento final do Sínodo da Juventude: o associacionismo demanda acompanhamento e formação (cf. Documento Final, N. 16); é espaço de intercâmbio, amizade e sinal de senso de pertença (cf. Documento Final, N. 36,41,96); fora da Igreja há grupos de naturezas e finalidades diversas e até alguns violentos e de espírito bélico (cf. Documento Final, N. 41); os grupos juvenis estão em muitos contextos, tem sensibilidades diferentes e linguagens próprias (cf. Documento Final, N. 56) etc.

Nos parágrafos a seguir apresentamos o conteúdo sobre o associacionismo presente na Exortação Apostólica Christus Vivit. A diversidade de aspectos da experiência de grupos no mundo juvenil nos mostra o quanto que ela é significativa para os jovens e, portanto, excelente instrumento para educar e evangelizar.

1. Passar da experiência de grupo para a Amizade Social

O Papa Francisco convida os jovens a não se fecharem na experiência de amizade grupal, mas a serem capazes de promover o Bem Comum através da amizade social. “Proponho aos jovens irem mais além dos grupos de amigos e construírem a amizade social: buscar o bem comum chama-se amizade social. A inimizade social destrói. E uma família destrói-se pela inimizade. Um país destrói-se pela inimizade. O mundo destrói-se pela inimizade. E a inimizade maior é a guerra. E hoje vemos que o mundo se está a destruir pela guerra. Porque são incapazes de se sentar e falar” (CV, 169). A experiência da amizade no grupo deve transcender suas fronteiras e ser uma experiência promotora da paz social.

2. O associacionismo juvenil está em muitos ambientes

A experiência de grupo não está confinada na comunidade paroquial, de modo que a Pastoral Juvenil se estende a outros espaços onde se encontram os jovens e fazem a experiência da solidariedade. Também nesses ambientes a experiência de grupo é possível. “Graças a Deus, hoje, os grupos de jovens nas paróquias, escolas, movimentos ou grupos universitários costumam ir fazer companhia a idosos e enfermos, visitar bairros pobres, ou sair juntos para ajudar os mendigos nas chamadas «noites da caridade» (CV, 171).

3. O associacionismo juvenil fortalece a sinodalidade

O associacionismo tem uma dimensão sinodal e, sem as associações na vida da Igreja e da pastoral juvenil, a experiência de Igreja sinodal seria mais pobre. O grupo é um sujeito, com sua sensibilidade e carisma, que enriquece a comunidade eclesial. Mas há o desafio do caminhar juntos.

“A pastoral juvenil só pode ser sinodal, ou seja, capaz de dar forma a um «caminhar juntos» que implica «a valorização – através dum dinamismo de corresponsabilidade – dos carismas que o Espírito dá a cada um dos membros [da Igreja], de acordo com a respetiva vocação e missão. (…) Animados por este espírito, poderemos avançar para uma Igreja participativa e corresponsável, capaz de valorizar a riqueza da variedade que a compõe, acolhendo com gratidão também a contribuição dos fiéis leigos, incluindo jovens e mulheres, a da vida consagrada feminina e masculina e a de grupos, associações e movimentos. Ninguém deve ser colocado nem deixado colocar-se de lado» (CV,206).

4. O associacionismo juvenil estimula a partilha e o apostolado

A experiência de grupo é muito formativa para os jovens porque contribui para o amadurecimento de amizades, intercâmbio de bens, reforça as habilidades relacionais, estimula a vivência da fé, partilha, solidariedade, experiência de apostolado entre amigos.

«A amizade e o intercâmbio, frequentemente mesmo em grupos mais ou menos estruturados, possibilitam reforçar competências sociais e relacionais num contexto onde não se sentem avaliados nem julgados. A experiência de grupo constitui também um grande recurso para a partilha da fé e a ajuda mútua no testemunho. Os jovens são capazes de guiar outros jovens, vivendo um verdadeiro apostolado no meio dos seus próprios amigos» (CV, 219).

5. O associacionismo juvenil favorece a intimidade com Deus

O Papa Francisco auxiliado pelas reflexões dos padres sinodais também destaca outra grande riqueza da experiência de grupo de jovens na Igreja que é a possibilidade da experiência de Deus através de especiais momento de oração em grupo, por meio do silêncio, da adoração, da escuta da Palavra de Deus, da vivência dos sacramentos, da liturgia em geral.

“Muitos jovens são capazes de aprender a amar o silêncio e a intimidade com Deus. Aumentou também o número dos grupos que se reúnem para adorar o Santíssimo Sacramento e rezar com a Palavra de Deus. Não se subestimem os jovens como se fossem incapazes de abrir-se a propostas contemplativas; basta encontrar os estilos e modalidades adequados para os ajudar a entrar nesta experiência de tão alto valor. Relativamente aos setores do culto e da oração, em diferentes contextos, os jovens católicos pedem propostas de oração e momentos sacramentais capazes de tocar a sua vida diária, numa liturgia nova, autêntica e jubilosa» (CV, 224).

Por isso a Pastoral Juvenil é chamada a “valorizar os momentos mais fortes do Ano Litúrgico, particularmente a Semana Santa, o Pentecostes e o Natal. Prezam muito também outros encontros de festa, que quebram a rotina e ajudam a experimentar a alegria da fé” (CV, 224).

6. O associacionismo juvenil tem sensibilidade ecológica

Na experiência de grupo, os jovens são chamados a estarem abertos aos desafios e às inquietudes sociais da realidade que os cerca. Um desses desafios e, ao mesmo tempo, sinal dos tempos, é a grande sensibilidade mundial para com o meio ambiente. Através do grupo há a possibilidade da promoção de muitas atividades educativas de caráter ecológico, favorecendo aos jovens a experiência de envolvimento com a natureza.

“Em muitos adolescentes e jovens, desperta especial atração o contacto com a criação, sendo sensíveis à salvaguarda do meio ambiente, como no caso dos escuteiros e outros grupos que organizam dias de contacto com a natureza, acampamentos, caminhadas, expedições e campanhas ambientais. No espírito de S. Francisco de Assis, são experiências que podem traçar um caminho para se introduzir na escola da fraternidade” (CV, 228).

Para concluir, a experiência do perfil do associacionismo juvenil presente na Exortação Apostólica Christus Vivit, é profundamente aberta, pluridimensional, educativa; sobretudo, é uma estratégia de formação que estimula adolescente e jovens, a desde cedo, a crescerem na autêntica vivência da espiritualidade cristã, alicerçada na amizade, amor fraterno, da qual decorre a solidariedade, corresponsabilidade e sinodalidade. Por isso, na Pastoral juvenil, não há espaço para grupos fechados.

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

1. Qual é o perfil do associacionismo juvenil na Exortação Apostólica Christus Vivit?
2.  O que significa a sinodalidade do grupo juvenil?
3. Por que não há espaço para grupos fechados na Pastoral Juvenil?

Fonte: CNBB Norte 2

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