Antes da Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco encontrou cerca de quinze pessoas, dentre as quais sete crianças, que lhe contaram sobre a angústia que sentiram após o retorno dos Talibãs ao Afeganistão, antes da ousada chegada à Itália: “Ficamos trancados num porão por quatro dias e quatro noites por medo de sermos presos.”
O anel e a veste. Foi assim que Pary Gul se apresentou, na manhã desta quarta-feira (22/09), ao Papa Francisco, doando-lhe o seu anel – em memória de seu marido “engolido” pelo terror talibã – e a veste “que fala de uma vida de sofrimento”. Antes da Audiência Geral na Sala Paulo VI, o Papa recebeu o anel com uma condição: que Pary Gul o guardasse como uma promessa de amizade e um sinal de esperança. A mulher indicou a esperança nos olhos de suas três filhas, Adila, Robina e Setara, e de seu filho Nasim. Eles têm entre 25 e 14 anos. Foram as jovens que lançaram um SOS através de celulares e elaboraram a fuga de Cabul, para finalmente chegarem às suas novas casas em Bérgamo, na Itália, onde poderão recomeçar suas vidas graças a uma rede de solidariedade, coordenada pelo escritor Alì Ehsani, que fugiu de Cabul anos atrás, escondido debaixo de um caminhão e vendo seu irmão morrer na viagem, e à fundação Meet Human.
Três famílias cristãs conseguiram fugir: 14 pessoas, 8 mulheres e 6 homens. Os menores são sete (todos com um desenho feito especialmente para o Papa). O mais novo, Eliyas, tem apenas um ano e foi internado com urgência ao chegar à Itália, por causa de uma infecção grave. Agora ele está bem.
A história que as três famílias apresentaram ao Papa impressiona pela crueza e tem implicações dolorosas. O fato de serem cristãos provocou uma denúncia contra eles assim que os Talibãs entraram em Cabul. “O meu marido foi demitido e depois preso, e não tivemos mais notícias dele”, disse Pary Gul, 57 anos, cujo sobrenome é Hasan Zada. “Ficamos quatro dias e quatro noites trancados no porão por medo de sermos presos, provavelmente alguém nos denunciou porque éramos cristãos”, disseram eles.
Gholam Abbas e sua esposa Fátima, ambos de 32 anos, também conseguiram deixar Cabul com seus filhos Safa Marwah (9 anos) e Muhammad Yousouf (4 anos). Também com eles estavam Zamin Ali (35 anos) e Seema Gul (34 anos) com seus filhos Maryam (11 anos), Ali Reza (8 anos) e o pequeno Eliyas.
“Irmãos afegãos” é o slogan da campanha humanitária que a fundação Meet Human escolheu realizar no Afeganistão com a colaboração de instituições civis e militares italianas. Uma fraternidade que imediatamente se concretiza no apoio dado às três famílias para construir relacionamentos, encontrar trabalho e obter uma educação. Enfim, para voltar a viver, conservando “o anel do Papa”.
Fonte: Vatican News – Giampaolo Mattei