Por Frei Almir Guimarães
Mais um vez, pela leitura do evangelho deste domingo, somos levados a fazer uma viagem a Cesareia de Filipe. Mais uma vez ouvimos aquela pergunta feita lá, mas que parece sempre penetrar nossos ouvidos, esperando uma resposta que parta de nossa verdade mais profunda. “E vós quem dizeis que eu sou?” Sabemos perfeitamente que precisamos dar, em cada estação de nossa vida, uma resposta mais completa e mais satisfatória.
Nosso conhecimento de Jesus pode muito bem ter começado em nossa famílias, nas imagens do Coração de Jesus, no catecismo da primeira comunhão, nos santinhos que distribuímos aos parentes e amigos. Rezávamos o terço com os mistérios de Cristo…nascimento, morte, ressurreição… missa de domingo, comunhão, cuidado para não mastigar a hóstia… Talvez tenhamos nos acostumado. E ressoava aos nossos ouvidos afirmações dogmáticas Jesus é o Filho de Deus, homem e Deus. Noções cerebrais… Fomos vivendo com nossas certezas e nossas dúvidas que fomos abafando… e seguindo, quem sabe, apenas mais uma religião com suas tradições… alguns tivemos ocasião de continuar nossa busca… outros desistiram da religião e ficaram com uma vaga imagem de Cristo. Quem é Cristo para mim?
Estamos no universo da fé. Esse Jesus que percorreu os caminhos da terra, amou, viveu, encontrou pessoas, falou de um mundo novo que vinha propor da parte de um Pai que ele amava e que estava com ele, esse Jesus foi levado à morte e, segundo o relatos de pessoas da época, foi tirado da morte. Ele vive, ele é o ressuscitado, não tem mais esse corpo que temos mas se esconde em sinais: a Palavra que é proclama que encerra inaudito vigor, os mais abandonados da terra que escondem sua presença, o mistério pão e do vinho, a comunidade de dois ou três que se reúne em seu nome na certeza de sua presença…A primeira coisa a fazer é lutar para acreditar e se deixar acompanhar pelo ressuscitado que atravessa portas fechadas e paredes espessas. Era assim a postura das primeiras comunidades.
Os cristãos da primeira e da segunda geração nunca pensaram que com eles estava nascendo uma religião. De fato, não sabiam com que nome designar aquele movimento que ia crescendo de maneira insuspeitável. Viviam sob o impacto da lembrança de Jesus que sentiam vivo entre eles.
Crer em Cristo é ter a certeza de sua presença no meio de nós, como ressuscitado. É ter a sorte de ter se encontrado com ele. Para além dos costumes religiosos, do batismo e matrimônio recebidos como sacramentos há pessoas que, misteriosamente, foram colocadas diante dele e tiveram que responder: “Quem sou eu para você?”
Com claridade incomum ele se apresentou: no rosto de uma criança, numa Palavra do Evangelho que nos atingiu de modo particular, numa reunião de pessoas transparentes e belas que viviam de sua vida, no rosto de um homem não piegas que, ao morrer, levava nos lábios, o nome de Jesus. Certas palavras: Quem tem sede, venha a mim… eu sou o pão da vida… os que me seguem deixam tudo…” Por vezes um retiro, outras vezes uma leitura, ainda em momentos de silêncio, com a graça de Deus, temos vontade de dizer: “É o Senhor!”
Vivemos um tempo em que se tem a impressão que a fé em Cristo não anima a vida. José Antonio Pagola: “Digamos sinceramente, será que essa ausência de dinamismo cristão, está incapacidade de ir crescendo no amor e fraternidade com todos, essa inibição e passividade para lutar arriscadamente pela justiça, essa falta de criatividade evangélica para descobrir as novas exigências do Espírito não estão delatando uma falta de comunicação viva com Cristo ressuscitado?
Como chegar a viver um relacionamento vivo e pessoal com Cristo Jesus?
♦ Verificar se não andamos saciados demais com coisas que alimentam nosso ego e nos satisfazem. Até que ponto somos pessoas que sentimos sede de plenitude? Não se conformar com a mediocridade.
♦ Frequentar pessoal e comunitariamente as páginas dos evangelho mormente o sermão da montanha e as parábolas.
♦ Ter à mão um livro simples e claro e que nos fala da coisas da fé.
♦ Eliminar corajosamente de nossa vida tudo aquilo que nos torna homens carnais.
♦ Exames de consciência regulares para saber se entramos no caminho certo já que Jesus diz ser o caminho.
♦ Fazer de nossa missa dominical um acontecimento espiritual e não apenas um rito cumprido que tranquiliza a consciência.
A quem iremos, Senhor, só tu tens palavras de vida eterna.
Prece
Jesus,
tu me conheces e sabes o que quero.
Conheces meus projetos e minhas fraquezas.
Nada posso ocultar-te, Jesus.
Gostaria de deixar de pensar em mim
e conseguir dedicar mais tempo a ti.
Gostaria mesmo de entregar-me totalmente a ti.
Teria muito gosto de seguir teus passos
onde quer que fores.
Mas nem isso me atrevo a dizer-te porque sou fraco.
Tu o sabes melhor do que eu.
Sabes bem de que barro sou feito,
tão frágil e inconstante.
Por isso mesmo preciso mais de ti,
para que me guies, sejas meu apoio e meu descanso.
Obrigado, Jesus, pela tua amizade. Amém
Fonte: Franciscanos
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.