Por Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos/GO
Cristãos, foi em Antioquia que pela primeira vez recebemos este nome (At 11,26). Desde então nunca mais o abandonamos. Por boca dos pagãos que estavam se convertendo ao Ressuscitado, nos foi revelado a esta condição.
Antes de sermos assim conhecidos éramos chamados de seguidores do Caminho. Como Ele mesmo havia se definido, caminho verdade e vida.
Ser cristão é existencialmente diferente de ser seguidor do caminho. Por isso, o Espírito ajusta a nossa condição para outra muito mais exigente.
Recebemos este nome de maneira inusitada, nos informa Lucas. Alguns fieis, afligidos pela perseguição em Jerusalém, foram evangelizar em outros lugares. Um grupo chegou até Antioquia, com a intenção de pregar aos Judeus, mas outros irmãos, pagãos, também começaram a querer ouvir. O número deles cresceu, de modo que a notícia chegou a Jerusalém, que enviou Barnabé, um de seus mais significativos membros!
Também Barnabé se maravilhou com o que viu! O impensável! Os pagãos também estavam se convertendo ao Evangelho. Por isso, deixou-os por um momento e foi a Tarso, à procura de Saulo.
Ali, Paulo, pela primeira vez, entendeu que o Ressuscitado não respeitava fronteiras nem distinguia pessoas. Compreendeu que Deus mesmo é que semeia o campo da missão, e se tornará dócil a esta descoberta por toda a sua vida.
Seguidores do caminho já traduzia a vida dos discípulos de Jesus, não como observadores de regras ou de normas, de leis ou de ritos, mas seguidores de uma Pessoa!
A Pessoa que seguimos é, para nós, norma universal e vivente. A sua vida é o que consideramos de categórico. Vida inteira, encontrada e meditada no todo dos Evangelhos, e não apenas em parte deles. O amor ao Pai, a compaixão pelos mais pobres e pelos doentes, o socorro aos desemparados, a correção de tradições superadas, são linhas mestras desses Evangelhos que normatizam a vida dos seguidores do Caminho.
Em Antioquia, entretanto, essa relação se aprofundou um pouco mais. Aos sermos descritos com Cristãos a identificação tornou-se algo de existencial. O discípulo não apenas segue a normatividade de Cristo, ele mesmo tem algo de Cristo. Ele não segue, ele é!
Assim, cumpriu-se aquela palavra dita tempo antes: “Pai que todos sejam um”! Palavra desejada no íntimo da oração dAquele que agora se oferece como pertença aos que têm a coragem de segui-lo.
Os pagãos, inspirados por Deus, colocaram sobre nós a marca existencial que carregamos até os dias de hoje, aquela de sermos aquilo que de fato somos, Cristãos!
Fonte: CNBB