Por Frei Clarêncio Neotti
“Um menino nasceu para nós.” Essa frase do profeta Isaías, dita 700 anos antes do Natal, repercute em toda a liturgia de hoje e vê-se realizada na narração do evangelista Lucas: na noite de Belém, Maria deu à luz um Menino, a quem impôs o nome de Jesus. Não havendo lugar nas hospedarias públicas, recolheu-se a uma gruta e reclinou o filho em uma manjedoura de animais. A gruta lembra mistério. E o que aconteceu hoje, dentro da história, é o imenso mistério do nascimento em carne humana do Filho eterno de Deus. Inefável é aquilo que não se pode descrever com palavras. O mistério do Natal é o mistério inefável por excelência, também porque revestido da ternura de Deus, acalentado por uma mãe-virgem, assistido por um homem, que acredita que para Deus nada é impossível (Lc 1,37).
Esse menino, nascido na pobreza de uma gruta, é o Filho de Deus, da mesma substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro, como rezamos no Credo. Hoje ele nasceu no tempo. Entrou na história humana. Mas ele existia antes do tempo. O Evangelho de João o expressa com palavras teológicas: “Ele é o Verbo que já existia no princípio, o Verbo que estava com Deus, o Verbo que era Deus. Tudo o que foi criado, foi criado por meio dele” (Jo 1,1-3). E foi esse Verbo eterno de Deus “que se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,14). Para nosso benefício. As criaturas são fruto do amor de Deus. A plenitude do amor é Jesus, o “primogênito de todas as criaturas” (Cl 1,15). Ele nos foi dado hoje e “de sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça” (Jo 1,16).
Natal: festa do amor! “Deus amou de tal modo o mundo que deu seu Filho unigênito” (Jo 3,16). Foi-nos dado pelo Pai. Ele foi gerado no tempo por Maria para que “todos os que o receberem e nele crerem se tornem filhos de Deus” (Jo 1,12).
Em uma festa do Natal, dizia o papa São João Paulo II: “O nascimento do Filho de Deus é o dom sublime, a maior graça feita à criatura humana que a mente jamais teria podido imaginar. Ao recordarmos neste dia santo o nascimento de Cristo, vivemos, juntamente com esse acontecimento, o mistério da adoção divina do homem, por meio do Cristo, que vem ao mundo cheio de misericórdia e de bondade”.
Fonte: Franciscanos
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.