Dia 8 de janeiro de 2012, no Brasil, Solenidade da Epifania. Encontrava-me de férias numa praia catarinense com minha irmã. Para não interferir de última hora na programação da Paróquia e da Comunidade, decidi participar da Missa dominical como qualquer fiel.
Entrei na igreja uns 10 minutos antes das 9h30, o horário da Missa. Aos poucos, a capela foi se enchendo. Em vez de silêncio, havia sons de instrumentos ensaiando cantos. A equipe de celebração já se encontrava à porta da igreja. Tudo preparado para o início da “Missa”: Intenções, comentário inicial. Tudo levava a crer que se tratava de “Missa dominical”, ou seja, da celebração da Eucaristia. Não havia folheto ou livro de canto para o povo.
Convidados a ficar de pé, teve início o canto de entrada. Entram pela porta da frente os acólitos e o ministro. Cochichei para minha irmã: “Ele está usando paramentos de diácono. Será que vai ser Missa?” Contudo, tudo foi se desenrolando como na Missa. “Em nome do Pai” cantado. Ato penitencial longamente introduzido. Com imposição das mãos, todos invocando o perdão na “absolvição geral”, repetindo as palavras do “padre”. Um hino de louvor para iniciar o novo Ano: “Vinde, cristãos,… Glória…”, oração do dia improvisada, pouco ligada à solenidade da Epifania. Liturgia da Palavra muito bem conduzida. A pregação foi muito longa e pouco baseada nas leituras da solenidade da Epifania. Seguiram-se o Creio e as Preces, tudo conforme o “folheto” usado para a Missa.
Seguiu-se a preparação do altar. O “sacerdote” abriu o corporal e esperou, no centro do mesmo, sempre ladeado de dois coroinhas, um menino e uma menina, a apresentação do dízimo. Outras duas acólitas passaram os cestinhos para as ofertas dos fiéis. Comecei a desconfiar mais seriamente quando uma ministra extraordinária da Comunhão eucarística trouxe um cibório e o colocou sobre o corporal. Novamente, pedindo que todos estendessem a mão em sinal de oferta, o “sacerdote” fez uma longa “oração sobre as oferendas” ou seja, sobre as ofertas do dízimo. As senhoras que recolheram as ofertas saíram pela porta lateral da igreja e dirigiram-se para a sacristia.
Após a longa oração sobre o dízimo, realçando o seu significado, o “sacerdote” introduziu longamente a “Oração eucarística”. Finalmente, proclamou o diálogo do Prefácio, abrindo a ação de graças. E foi falando, livremente, louvando, agradecendo, pedindo e intercedendo. Como não chegasse ao Santo, fiquei mais desconfiado. De repente, sem mais, introduziu o Pai nosso e continuou exatamente como na Missa. Antes da Comunhão, entoou mais um canto. Depois vieram o Cordeiro de Deus e uma longa introdução à apresentação das Hóstias consagradas.
Quem estava presidindo a Celebração da Palavra na ausência do presbítero era, de fato, um diácono permanente. Feita a distribuição da Comunhão, seguiram-se novas preces. Entre elas, uma Ave Maria. Mais uma Ave Maria para concluir a apresentação de uma parenta de um falecido de 7º dia. Tudo como se fosse Missa.
Seguiram-se mais avisos e comunicações sobre a renovação do novo Conselho da Comunidade. Finalmente, a oração depois da Comunhão, também dita por todos, repetindo as palavras do presidente da celebração. A oração não tinha nada a ver com a solenidade. Finalmente, a bênção invocada e a despedida com o Vamos em paz.
Meu Deus! Que crueldade! Acontece cada coisa na Sagrada Liturgia! O fiel vai à Missa e lhe é imposta uma “missa de diácono”. Onde fica a distinção entre “celebração do Sacramento da Eucaristia” e uma “celebração da Palavra com Comunhão eucarística”? Estamos diante de uma fotocópia de Missa, de uma minimissa, uma imitação, um arremedo de Missa. Por amor de Deus! Como suportar tal massacre?!
Parece que estamos na Idade Média quando, para o povo, qualquer celebração era considerada missa. Ora, a celebração da Palavra de Deus pura e simples não possui a mesma estrutura ou o esquema da Missa. Possui, sim, uma estrutura própria, também quando presidida por um diácono.
Quando vamos chegar a uma formação adequada, tanto para diáconos permanentes como para ministros da celebração da Palavra de Deus para que possam exercer com competência o seu ministério? Para não ficarmos na crítica voltaremos, oportunamente, ao assunto da Celebração da Palavra de Deus na ausência do presbítero.
Fonte: Franciscanos – Especial Gotas de Liturgia /Frei Alberto Beckhäuser