Missa da Ceia do Senhor

Santa Ceia de Manuel da Costa Ataíde - obra de domínio público disponível em Wikimedia

Por Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

 

A liturgia da Quinta-feira Santa é um convite a aprofundar concretamente no mistério da Paixão de Cristo, já que quem deseja segui-lo deve sentar-se à sua mesa e, com o máximo recolhimento, ser participante de tudo o que aconteceu na noite em que iam entregá-lo. 

“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. 

Esta é a tarde que faz memória da Ceia Pascal de Jesus. Aquilo que o Senhor realizou durante toda a vida e consumou na cruz – isto é, sua entrega de amor total ao Pai, por nós –, Ele quis nos deixar nos gestos, nas palavras e nos símbolos da Ceia que celebrou com os seus. Naquela Mesa santa do Cenáculo, estava já presente, em símbolos e gestos, a entrega amorosa do Calvário. É isto que celebramos neste momento sagrado, momento de saudade, de aconchego e de despedida. Era em família que os judeus celebravam o Banquete pascal… Jesus celebrou com seus discípulos, conosco, sua família: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim,” até o extremo de entregar a vida, pois “não há maior prova de amor que entregar a vida pelos amigos” (Jo 15,13). 

São Paulo fala que lembrando a todas as comunidades cristãs o que ele mesmo recebeu: que aquela memorável noite a entrega de Cristo chegou a fazer-se sacramento permanente em um pão e em um vinho que convertem em alimento seu Corpo e seu Sangue para todos os que queiram recordá-lo e esperar sua vinda no final dos tempos, ficando assim instituída a Eucaristia. 

Esta é a tarde que faz memória da Ceia Pascal de Jesus. Aquilo que o Senhor realizou durante toda a vida e consumou na Cruz – isto é, sua entrega de amor total ao Pai, por nós –, Ele quis nos deixar nos gestos, nas palavras e nos símbolos da Ceia que celebrou com os seus. Naquela Mesa santa do Cenáculo, estava já presente, em símbolos e gestos, a entrega amorosa do Calvário. É isto que celebramos neste momento sagrado, momento de saudade, de aconchego e de despedida. 

A Eucaristia é o sacramento que sintetiza e resume todos os mistérios da vida de Jesus Cristo, máxime o seu Mistério Pascal (Paixão, Morte e Glorificação). Este sacramento permanece para que nós possamos entrar em contato com quem realmente nos salvou com seu poder e com suas obras poderosas: Jesus. 

A Santa Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, o próprio Cristo, o Pão vivo. Através da Eucaristia, entramos em comunhão com Deus, com a Igreja e com nossos irmãos. A Eucaristia é o sacrifício do Corpo e do Sangue do Senhor Jesus, que Ele institui para que fosse celebrado até o fim dos tempos. Na Eucaristia se explicita o sacrifício de Cristo na Cruz, onde o Senhor se oferece por nossos pecados. Cada vez que se celebra uma Eucaristia é como se abrisse uma janela no tempo e se repetisse aquele ato de entrega de Cristo na Cruz. 

A Santa Missa é então a celebração da Ceia do Senhor na qual Jesus, um dia como hoje, na véspera da sua paixão, “enquanto ceava com seus discípulos tomou pão…” (Mt 26, 26). Ele quis que, como em sua última Ceia, seus discípulos se reunissem e se recordassem d’Ele abençoando o pão e o vinho: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). 

Antes de ser entregue, Cristo se entrega como alimento. Entretanto, nesta Ceia, o Senhor Jesus celebra sua morte: o que fez, o fez como anúncio profético e oferecimento antecipado e real da sua morte antes da sua Paixão. Por isso “quando comemos deste pão e bebemos deste cálice, proclamamos a morte do Senhor até que ele volte” (1Cor 11, 26). 

Assim podemos concluir que a Eucaristia é o memorial da Morte de Cristo que é Senhor, e “Senhor da Morte”, isto é, o Ressuscitado cujo regresso esperamos de acordo com a promessa que Ele mesmo fez ao despedir-se: “Um pouco de tempo e já não me vereis, mais um pouco de tempo ainda e me vereis” (Jo 16, 16). 

Nesta celebração vimos o que o Senhor fez pelos seus, e o que Ele fez pode resumir-se nestas breves palavras de São João: “amou-os até o fim” (Jo 13, 1). Hoje é um dia especialmente apropriado para meditarmos nesse amor de Jesus por cada um de nós e no modo como estamos correspondendo. 

Fonte: CNBB

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