Misericórdia: uma condição para o apóstolo

O Chamado de Mateus (1599-1600). Por Caravaggio, atualmente na Capela Contarelli em San Luigi dei Francesi, em Roma - Wikipedia

Por Frei Clarêncio Neotti, OFM

 

Jesus não apenas se aproximou de Mateus. Não apenas mostrou tolerância. Jesus foi além e pede-nos para irmos além.

Sentou-se à mesa de Mateus e ceou com ele. Comer com alguém, na Sagrada Escritura e na cultura antiga do Oriente, significava ser amigo, ser íntimo, ser da família. Por isso Jesus comparou o Reino dos Céus a um banquete (Ap 19,9), em que todos formam uma ‘comunhão’ entre si e com Deus. Compreende-se o escândalo dos fariseus (v. 11). E Jesus apressou-se em dar a explicação. Comparou-se ao médico, cuja função é curar. Se, ao julgamento dos fariseus, os ‘publicanos e pecadores’ assentados à mesa com Jesus eram pessoas de religião impura, seria exatamente para eles que Jesus viera. E, como para os fariseus valia muito a autoridade dos profetas, Jesus citou Oseias, cujas profecias giravam em torno da justiça, da fidelidade e do amor: “Quero amor e não holocaustos” (Os 6,6).

A frase do profeta vem dentro de um contexto de conversão, de retorno do povo ao Senhor. Ora, a medicina trazida por Jesus é exatamente a conversão que, de forma nenhuma, se resume em atos rituais externos, mas em um reconhecimento interior do pecado que fizemos e da graça que nos é oferecida por Deus. É um ato do coração, isto é, de nossa pessoa inteira. Só depois desse reconhecimento, poderão vir um rito, um sinal externo e até público, que nos ajudem na fidelidade a Deus. O Senhor se aproxima de nós como Jesus de Mateus. Ceia conosco, abre seu coração.

Seja essa a segunda grande lição de hoje: Deus se aproxima de nós sem dedo acusador, ama-nos, abre-nos seu coração à espera de que nos voltemos para ele e nos lavemos na sua graça. Esse comportamento de Jesus se chama misericórdia. O mesmo comportamento devemos ter nós para com o próximo. Não segregar ninguém, não medir sua maldade com o metro da santidade que pensamos ter. Aproximar-se, acolher o outro. Essa atitude de ternura vale mais que holocaustos. A solidariedade, que o Evangelho chama ‘misericórdia’, é o mais eficiente remédio para a alma e para o corpo.

Fonte: Franciscanos


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

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