Misericórdia sem fronteiras

Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Por Frei Clarêncio Neotti

 

A lição de Jesus está em dizer que a misericórdia exige que se deixe de lado o bem-estar pessoal para socorrer um necessitado. Mas suponhamos que se insista na desculpa de não se poder tocar no defunto, para melhor servir a Deus no culto, observando a lei. É justamente nesse ponto que Jesus dá a grande lição: o irmão necessitado tem precedência, e, se não lhe dermos precedência, nossa oração será falha e errado será nosso culto. Em outra ocasião, Jesus foi ainda mais explícito, citando o profeta Oseias (Os 6,6): “Quero misericórdia e não sacrifícios” (Mt 9,13 e 12,7). Jesus referia-se aos sacrifícios dos animais no templo. A misericórdia tem precedência até mesmo sobre a obrigação da Missa dominical.

Observe-se que Jesus não menciona a nacionalidade ou a religião do infeliz que caiu na mão dos ladrões. Mas fica claro que quem fez a pergunta era um doutor da lei, judeu, portanto. E os judeus, sobretudo os do partido dos fariseus, restringiam muito os que podiam ser denominados próximo: eram só os familiares, os que tinham o mesmo sangue, os compatriotas observantes da Lei Mosaica, os pagãos que adotassem as leis, a fé e as tradições judaicas, desde que circuncidados. Ficavam expressamente excluídos os estrangeiros, os que trabalhavam para estrangeiros, os inimigos de qualquer espécie, a plebe ignorante, os que exerciam certas profissões que facilitavam a impureza legal – a pesca, o pastoreio, o curtimento de couros -, os pobres e os leprosos. A lição de Jesus é clara, nova e forte: a misericórdia não tem fronteiras religiosas, geográficas ou de sangue. A misericórdia não faz restrições. É obrigação de todos.

Fonte: Franciscanos

 


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

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