Mês da Bíblia: reconstruir a Casa Comum

No Mês dedicado à Palavra de Deus, história do rei Josias, pode iluminar significativamente o nosso presente. Temos o compromisso de cuidar da Casa Comum em sua totalidade, sob o olhar misericordioso do Verbo encarnado que sustenta todo o universo.

Em toda a América Latina, no mês de setembro celebra-se o Mês da Bíblia. A Igreja Católica celebra para comemorar São Jerônimo, autor da Vulgata, a primeira tradução da Bíblia para o latim, a Igreja Ortodoxa para enfatizar que os evangelhos sagrados e outros livros do Novo Testamento foram escritos em grego, e as Igrejas Evangélicas e Protestantes para comemorar a tradução dos textos bíblicos para o espanhol, a Bíblia Reina-Valera.

Rei Josias ilumina o nosso presente

A história do rei Josias, embora cronologicamente localizada nos anos 640-609 a.C. e com uma conotação histórica pré-babilônica e um contexto profético do Antigo Testamento, pode iluminar significativamente o nosso presente. Este Mês da Bíblia, nos países da América Latina, nos encontra imersos na fase mais crítica da Covid-19. O nosso continente foi atingido por uma pandemia que causou o colapso de grande parte do já frágil sistema de saúde e que se traduziu dolorosamente em milhões de pessoas doentes e milhares de mortes.

América Latina e a pandemia

Além disso, o colapso sanitário causado pelo vírus deu origem a crises alimentares, de emprego e sociais que aumentaram as taxas de pobreza e desemprego a níveis sem precedentes. Tudo isso no âmbito de uma crise ecológica que, tendo seu epicentro no ecocídio amazônico, está afetando toda a casa comum como chamamos “a grande pátria latino-americana”. Devemos começar o quanto antes a restauração da identidade como povos, a renovação da esperança comunitária, o retorno da confiança social em políticos justos, a recuperação do legado de paz intergeracional e a revalorização da fé simples, pura e popular como um ethos cultural.

Reconstrução integral e ecumênica

Nesta reconstrução integral e ecumênica da casa comum, devemos nos encontrar novamente com a Palavra de Deus. Não como um mero instrumento religioso, nem como um insensível instrumento literário, e muito menos como um amuleto da vazia simbologia política; mas como uma palavra de fé, esperança, caridade, reconciliação e fraternidade latino-americana. Como uma Palavra viva que sabe dialogar com os pobres da terra, com a terra generosa, com todas as culturas ancestrais e as confissões de fé popular maravilhosamente diferentes.

O Reino de Josias

Nos eixos centrais do Reino de Josias em Judá há a restauração da identidade como Povo de Deus, a renovação da esperança na comunidade, o retorno à confiança social em políticos justos, a necessidade de recuperar o legado de paz intergeracional e a revalorização da fé como um ethos nacional (cfr. 2 Rs, 22, 1-23, 30; 2 Crônicas, 34, 1-35, 27).

Começar pela casa de Deus

Mas uma semelhante reconstrução ecumênica, tendo raízes no habitat, e um olhar sobre o ser individual e social assim como uma projeção na espiritualidade ancestral, só poderia ser integral se começasse na casa de Deus, o espelho teológico da casa comum. Consciente da necessidade e urgência desta indispensável tarefa libertadora, após tantos anos de infortúnio, dor e morte, Josias finalmente empreendeu a reconstrução (cfr. 2 Rs, 22, 4-6). Assim que iniciaram os trabalhos de reconstrução, encontraram a pedra fundamental que mudaria o eixo e o sentido do reino restaurador do bisneto de Ezequias: a Palavra de Deus.

O texto bíblico

Assim narra o texto bíblico: “No momento que se retirava o dinheiro oferecido ao Templo do Senhor, o sacerdote Helcias encontrou o Livro da Lei do Senhor transmitido por Moisés” (2 Crônicas, 34, 14). Uma vez recebido o livro sagrado, Josias, após consultar a profetisa Hulda sobre os passos a serem dados, empreendeu a missão mais profunda de reconstruir seu reino de Judá, a casa comum, ou seja, a renovação dos votos do povo e dos governantes em torno do pacto com o Criador.

“Então o rei mandou reunir junto de si todos os anciãos de Judá e de Jerusalém, e o rei subiu ao templo do Senhor com todos os homens de Judá e todos os habitantes de Jerusalém, os sacerdotes, os profetas e todo o povo, do maior ao menor. Leu diante deles todo o conteúdo do livro da Aliança, encontrado no templo do Senhor. O rei estava de pé sobre o estrado e concluiu diante do Senhor, a Aliança que o obrigava a seguir o Senhor e a guardar seus mandamentos, seus testemunhos e seus estatutos de todo o seu coração e de toda a sua alma, para pôr em prática as cláusulas da Aliança escritas neste livro. Todo o povo aderiu à Aliança” (2 Re 23,1-3). Parafraseando o último texto bíblico citado, devemos, com todas as vozes da fraternidade americana, “exortar todas as nações, todos os representantes, dos idosos às crianças, a respeitarem as condições da Aliança”. E então todos os povos aceitarão o compromisso”. Compromisso de cuidar da casa comum em sua totalidade, sob o olhar misericordioso do Verbo encarnado que sustenta todo o universo (cfr. Hb, 1, 3).

Fonte: L’Osservatore Romano

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