Maria na infância de Jesus

A Madona Alba de Raffaello - Wikimedia

“Maria se torna presença na história salvífica da Humanidade, não só no anúncio do Arcanjo Gabriel, mas no nascimento, na apresentação do menino Jesus no templo, na perda e no reencontro de Jesus no templo, conversando com os doutores da lei, aos dozes anos.”

 

Por Jackson Erpen

A Virgem Maria, “lembrada de tudo o que lhe havia sido dito acerca deste seu Filho, na Anunciação e nos acontecimentos sucessivos, é portadora em si mesma da «novidade» radical da fé: o início da Nova Aliança. Este é o início do Evangelho, isto é, da boa nova, da jubilosa nova”. Ela sabe que “o Filho por ela dado à luz virginalmente, é precisamente aquele «Santo», «o Filho de Deus» de que lhe havia falado o Anjo.”

“Durante os anos da vida oculta de Jesus na casa de Nazaré – diz-nos a Carta Encíclica Redemptoris Mater de São João Paulo II – também a vida de Maria «está escondida com Cristo em Deus» mediante a fé”, que “efetivamente, é um contato com o mistério de Deus. Maria está constante e quotidianamente em contato com o mistério inefável de Deus que se fêz homem, mistério que supera tudo aquilo que foi revelado na Antiga Aliança. Desde o momento da Anunciação, a mente da Virgem-Mãe foi introduzida na «novidade» radical de autorrevelação de Deus e tornada cônscia do mistério.”  Mas, “como poderá então Maria «conhecer o Filho»? Certamente, não como o Pai o conhece; e no entanto, ela é a primeira entre aqueles aos quais o Pai «o quis revelar»”.

Aprofundando o tema sobre a Virgem Maria na Constituição Dogmática Lumen Gentium, Pe. Gerson Schmidt* fala sobre “Maria na infância de Jesus”:

“O Concílio não tratou de expor toda a doutrina sobre Nossa Senhora. Seria impossível falar de toda a riqueza das verdades sobre Maria. O propósito foi de inserir Maria no seu papel fundamental dentro da Igreja, na história da salvação dos homens. Estamos, por isso, aqui comentando os pontos que A Lumen Gentium aborda sobre Maria. Depois da anunciação, vemos a presença de Nossa Senhora na infância de Jesus, que os padres conciliares retrataram assim, no número 57: “Esta associação da mãe com o Filho na obra da salvação, manifesta-se desde a conceição virginal de Cristo até à Sua morte. Primeiro, quando Maria, tendo partido solicitamente para visitar Isabel, foi por ela chamada bem-aventurada, por causa da fé com que acreditara na salvação prometida, e o precursor exultou no seio de sua mãe (cfr. Luc. 1, 41-45); depois, no nascimento, quando a Mãe de Deus, cheia de alegria, apresentou aos pastores e aos magos o seu Filho primogénito, o qual não só não lesou a sua integridade, mas antes a consagrou (180). E quando O apresentou no templo ao Senhor, com a oferta dos pobres, ouviu Simeão profetizar que o Filho viria a ser sinal de contradição e que uma espada trespassaria o coração da mãe, a fim de se revelarem os pensamentos de muitos (cfr. Luc. 2, 34-35). Ao Menino Jesus, perdido e buscado com aflição, encontraram-n’O os pais no templo, ocupado nas coisas de Seu Pai; e não compreenderam o que lhes disse. Mas sua mãe conservava todas estas coisas no coração e nelas meditava (cfr. Luc. 2, 41-51)”.

Maria se torna presença na história salvífica da Humanidade, não só no anúncio do Arcanjo Gabriel, mas no nascimento, na apresentação do menino Jesus no templo, na perda e no reencontro de Jesus no templo, conversando com os doutores da lei, aos dozes anos. Esses mistérios o Povo de Deus contempla na oração do terço que essencialmente é uma oração cristocêntrica, que medita os mistérios importantes da vida de Cristo, onde Maria faz parte e presença como mãe e discípula.

Maria Santíssima colocou o recém-nascido numa manjedoura (cf. Lc 2,7), deixando claro que Jesus nasceu num estábulo, ambiente inadequado para o nascimento de uma criança. São Pedro Julião Eymard relaciona o fato de Jesus ser colocado na manjedoura – local onde é colocado o alimento para os animais – com a Eucaristia, presença real de Jesus nas espécies sacramentais do Pão e do Vinho: “Vem de longe a revelação da Eucaristia feita por Jesus. É em Belém – ‘a morada do pão’ – Domus Panis – que nasce. É sobre a palha que repousa e esta parece sustentar na verdade a espiga do trigo verdadeiro”28. Ou seja, Jesus ter sido colocado numa manjedoura, que servia de manjar para os animais, é uma prefiguração do Verdadeiro Manjar Eucarístico que Jesus vai oferecer. O próprio significa etimológico de manjedoura nos leva a esse banquete, ao alimento, ao festim que Deus nos quer proporcionar.

Maria “deu à luz o seu filho primogênito” (Lc 2,7), Jesus é aquele que antecede toda criatura, é o princípio e o fim de toda a nova criação. As primeiras testemunhas do nascimento de Jesus, exceto Maria e José, são os pastores (cf. Lc 2,8-9). Os pastores representam os pobres de Israel, isto é, os destinatários primeiros do amor de Deus.

“Maria, contudo, conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração” (Lc 2,19). Ela guarda essas coisas e as medita no seu coração como ponto que a iniciará na comunidade de fé pós-pascal, algo mais notável do que simplesmente comprovar que Maria documenta suas memórias, não é apenas uma fonte de recordações. “Guardar no coração”, em Maria não é simplesmente uma memória histórica, um registro temporal dos fatos. Ela guardava a Palavra e empregava suas forças para compreendê-la profundamente. Maria é o modelo do discípulo que ouve com profundidade a Palavra e não superficialmente. Esse tema é retomado em Lc 2,51: “Sua mãe conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração.” Essa repetição conclui as narrações da infância como forma de evidenciar a continuidade do gesto de Maria na perseverança do trabalho da fé.

Após o nascimento de Jesus, o evangelista mariano São Lucas salienta dois fatos, com a finalidade de destacar a obediência de seus pais. O primeiro, em Lucas 2,21, corresponde à circuncisão e a atribuição do nome a criança oito dias após o nascimento, sendo que a identificação através do nome é a realização do pedido do anjo feito à Maria. O segundo, em Lucas 2,22, é a apresentação do menino Jesus no templo, ocasião em que seus pais se purificam, evidenciando o fato de José e Maria estarem cumprindo a lei de Moisés, embora Maria era toda pura e cheia de Graça, concebida sem o pecado original.”

Fonte: Vatican News

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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