Maria, modelo da Igreja como Mãe

Papa Francisco preside a Santa Missa no Santuário Nacional de Sastin, Eslováquia (Vatican Media)

“A maternidade da Igreja transforma os crentes em filhos e filhas de Deus. A mãe Igreja dá a seus filhos plenitude e calor, saciando a fome e sede espirituais. Como mãe, a Igreja sara os feridos, consola os débeis e anima os fortes a fazerem com que sua força redunde em benefícios dos fracos”.

 

“O Sumo Pontífice Francisco, considerando atentamente quanto a promoção desta devoção possa favorecer o crescimento do sentido materno da Igreja nos Pastores, nos religiosos e nos fiéis, como, também, da genuína piedade mariana, estabeleceu que esta memória da bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja, seja inscrita no Calendário Romano na Segunda-feira depois do Pentecostes, e que seja celebrada todos os anos”, reza o Decreto Ecclesia Mater, publicado em 3 de março de 2018.

Assim como Maria é Mãe de Cristo e Mãe da Igreja, também a Igreja a tem como modelo em sua maternidade, dando “a seus filhos plenitude e calor, saciando a fome e sede espirituais. Como mãe, a Igreja sara os feridos, consola os débeis e anima os fortes a fazerem com que sua força redunde em benefícios dos fracos”. “Maria, modelo da Igreja como Mãe”, é o tema da reflexão do padre Gerson Schmidt* para esta quarta-feira:

“Comentamos na última oportunidade sobre imagem da Igreja como esposa e, consequentemente, como mãe. O Papa Francisco emprega, na Evangelli Gaudium, uma imagem comovente da Igreja como “mãe com o coração aberto”. O Papa diz que “muitas vezes agimos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa”.

O modelo dessa Igreja-mãe é Maria. Ela é o protótipo da fé, porque viveu a relação mais profunda com Jesus. Maria é caminho e indicadora da fé. A Igreja é mãe, em primeiro lugar, porque como Maria oferece Jesus Cristo aos seres humanos. Maria convida toda a Igreja a percorrer o caminho que leva a relação pessoal com o seu Filho. Esse convite é dirigido a toda a Igreja e a cada cristão em particular: ouvir a Palavra de Deus como Maria, de modo que a Palavra nos transforme. O Verbo divino se faça carne também no meio de nós, em nossas relações humanas, por meio do amor recíproco. Essa é a dimensão mariana da missão da Igreja: preparar o caminho para Cristo, para que possa ganha forma e oferecer-se ao mundo[1].

Lumen Gentium aponta: “Com efeito, no mistério da Igreja, a qual é também com razão chamada mãe e virgem, a bem-aventurada Virgem Maria foi adiante, como modelo eminente e único de virgem e de mãe. Porque, acreditando e obedecendo, gerou na terra, sem ter conhecido varão, por obra e graça do Espírito Santo, o Filho do eterno Pai; nova Eva, que acreditou sem a mais leve sombra de dúvida, não na serpente antiga, mas no mensageiro celeste. E deu à luz um Filho, que Deus estabeleceu primogénito de muitos irmãos (Rom 8, 29), isto é, dos fiéis, para cuja geração e educação Ela coopera com amor de mãe”(LG, 63).

A maternidade da Igreja transforma os crentes em filhos e filhas de Deus. A mãe Igreja dá a seus filhos plenitude e calor, saciando a fome e sede espirituais. Como mãe, a Igreja sara os feridos, consola os débeis e anima os fortes a fazerem com que sua força redunde em benefícios dos fracos[2]. A Igreja somente se torna mãe quando se abre à novidade de Deus, à força do Espírito Santo.  Acentua o Papa Francisco na Evangelii Gaudium: “A Igreja peregrina é chamada por Cristo a esta reforma perene. Como instituição humana e terrena, a Igreja necessita perpetuamente desta reforma». Há estruturas eclesiais que podem chegar a condicionar um dinamismo evangelizador; de igual modo, as boas estruturas servem quando há uma vida que as anima, sustenta e avalia. Sem vida nova e espírito evangélico autêntico, sem «fidelidade da Igreja à própria vocação», toda e qualquer nova estrutura se corrompe em pouco tempo” (EG, 26). Se as estruturas eclesiais não visibilizarem Jesus Cristo, então de nada servirão ao Evangelho. O Concílio Vaticano II apresentou a conversão eclesial como a abertura a uma reforma permanente de si mesma por fidelidade a Jesus Cristo: “Toda a renovação da Igreja consiste essencialmente numa maior fidelidade à própria vocação” (EG, 26).

Por um grande período da história da Igreja, se destacou bastante sua dimensão Petrina, acentuando-se a autoridade de Pedro e das lideranças eclesiásticas. A configuração do sacerdote com Cristo Cabeça – isto é, como fonte principal da graça – não comporta uma exaltação que o coloque por cima dos demais. Por isso, o papa Francisco acentua essa dimensão serviçal da Igreja-mãe: “Na Igreja, as funções «não dão justificação à superioridade de uns sobre os outros». Com efeito, uma mulher, Maria, é mais importante do que os Bispos. Mesmo quando a função do sacerdócio ministerial é considerada «hierárquica», há que ter bem presente que «se ordena integralmente à santidade dos membros do corpo místico de Cristo». A sua pedra de fecho e o seu fulcro não são o poder entendido como domínio, mas a potestade de administrar o sacramento da Eucaristia; daqui deriva a sua autoridade, que é sempre um serviço ao povo” (EG, 104).”

Fonte: Vatican News – Jackson Erpen

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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[1] AUGUSTIN, George. Por uma Igreja “em saída”. Impulsos da Exortação Evangelii Gaudium, Vozes, 2018, p. 79.

[2] Idem, p. 80.

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