Marca indelével

Foto Ensaio Insulae de Raphael Alves/Amazônia Real - sepultamentos em vala comum no cemitério público Nossa Senhora da Conceição em Manaus/AM

Por Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba

 

Revivemos o Dia de Finados, neste ano fazendo memória de mais de seiscentas mil pessoas falecidas no Brasil, por consequência da pandemia do coronavírus. É uma das marcas mais profundas e indeléveis, quase sem precedentes, na vida das famílias. Fica a marca da saudade e do vazio, mas também a força da esperança, que é sinal de superação e de fé, colocando todos nas mãos de Deus.

A Igreja celebra também a solenidade de todos os santos. Reconhece a marca de santidade na vida concreta de muitas pessoas, porque fizeram um caminho de construção do bem e de testemunho enraizado nos ensinamentos do Evangelho e de seguimento de Jesus Cristo. Essa conduta autêntica de vida consegue fazer frutificar, nas pessoas da comunidade, a via e o dom da santidade.

Determinadas marcas ficam muito visíveis na sensibilidade dos indivíduos, principalmente aquelas que afetam os sentimentos mais profundos, como é o caso da morte de um ente querido. Agora é olhar para frente e achar caminhos de superação do que foi perdido com a pandemia. É importante lançar mão na força da fraternidade e assumir novos tempos reinventando novas práticas na vida.

A marca da santidade nada mais é do que viver na condição de filho adotivo de Deus, participando da natureza divina. Isso supõe esforço humano, mas também abertura para o sobrenatural, ao que transcende as realidades temporais. O mundo, que envolve a história de cada pessoa, não permanece para sempre, ele passa e ficam apenas as obras realizadas na convivência cotidiana.

Hoje nós temos as marcas da cultura moderna, do cenário internacional, da realidade brasileira e de cada situação local, com sinais de provação, sofrimento, dependência e debilidade. O que não pode acontecer é deixar de confiar na misericórdia e na acolhida divina, onde é possível encontrar segurança, conforto e esperança. A pandemia está mostrando o nível da debilidade humana.

Não são suficientes as marcas do bem-estar, ter dinheiro, poder e prestígio para ser feliz, porque tudo isso passa num piscar de olhos. A questão fundamental é saber o que fica de santidade, aquilo que prova a identidade duradoura da pessoa. Isto significa andar na contramão das propostas induzidas pelo mundo, onde o indivíduo não consegue enxergar além dos limites da própria estatura.

Fonte: Arquidiocese de Uberaba

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