Por Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
A fundamental luz do mundo, aquela que supera todo tipo de escuridão, é a Pessoa de Jesus Cristo, mas o Cristo ressuscitado, misericordioso, pascal e presente na história da humanidade, porque ele põe coração e amor verdadeiro em tudo que as pessoas realizam. E é confiando em Deus que se consegue superar o fechamento, os medos e os desânimos que o cotidiano vai influenciando na vida.
Convivemos com uma sociedade ferida, que provoca muitas situações de sofrimento para o povo. Fazemos aqui uma analogia com as chagas do corpo de Cristo. Elas foram tocadas pelo apóstolo Tomé, num momento de falta de fé e de fragilidade, mas conseguiu superar sua incredulidade. Diante do sofrimento, não é saudável deixar que o desânimo e a omissão limitem o trabalho de libertação pessoal.
Não existe luz de misericórdia em espaço onde não há fraternidade, um estilo de vida capaz de fazer acontecer a prática cristã e de partilha solidária. Isto estava muito presente nas primeiras comunidades cristãs e no testemunho de convivência dos cristãos, porque se viam bem enraizadas no fato da ressurreição de Jesus, conforme os relatos do Livro dos Atos dos Apóstolos.
O seguimento dos passos de Jesus é uma prática sustentada pela fé em Deus, pela caridade como serviço e pelo amor ao irmão. Isto faz a comunidade ser excelente oportunidade a uma convivência comprometida com as carências dos irmãos mais necessitados, sendo para eles uma luz de misericórdia. A partir do compromisso batismal, as pessoas vão criando vínculos e atitudes fraternas de convivência.
A ressurreição de Jesus foi um acontecimento totalmente instigante para a vida dos apóstolos e dos discípulos. Estavam reunidos com as portas fechadas, Jesus apareceu no meio deles, desejou-lhes a paz e conversou de forma natural e com as aparências de um corpo físico, inclusive soprou sobre eles dando-lhes o Espírito Santo e o compromisso do perdão e da misericórdia (cf Jo 20,22).
Celebramos o domingo da misericórdia. Realmente estamos num mundo de grandes feridas, de cicatrizes totalmente abertas e solidificadas através de organizações mal intencionadas. O desafio maior é como tocar nelas de forma misericordiosa, conscientes da necessidade de fazer o bem, e surgir daí uma fraternidade de irmãos e irmãs, provocando desabrochar de uma verdadeira amizade social.
Fonte: CNBB