Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém
Introdução
A diversidade de desafios a serem administrados por um líder, em qualquer áreas de serviço, lhe exigem algo a mais, além da boa vontade e da generosidade. Para que sua missão seja cumprida com eficiência é preciso que tenha sensibilidade estratégica. Procuremos entender bem isso para considerarmos sua importância.
Sensibilidade estratégica significa questionar-se sobre o “como” fazer as coisas. Encontro em nossas comunidades muitos líderes leigos verdadeiramente cheios de boa vontade, virtuosos, esforçados, que servem a Igreja com muita dedicação. Mas muitas vezes, isso acontece à custa de muito sofrimento, angústia e solidão. Não é porque ninguém da sua comunidade ou grupo não queiram ajudar, mas é que muitas vezes falta a preocupação estratégica dos líderes.
Sensibilidade estratégica é arte de buscar os métodos, meios e processos para que possamos realizar um projeto. Ser estratégico significa ter habilidade, esperteza, astúcia, inteligência para resolver um problema ou conquistar um objetivo. Um líder com visão estratégica tende a obter mais resultados em seus investimentos do que aquele que não se preocupa com os meios adequados para conseguir seus objetivos.
Por falta de estratégias muitos líderes se assustam com a missão de liderar, não sabem o que fazer e, com medo e angustiados, ficam paralisados. Estratégia é a habilidade administrativa na busca dos recursos necessários para se alcançar metas desejadas.
A falta de visão estratégica por parte de um líder que tem sérias responsabilidades lhe gera cansaço, dispersão de esforços, preocupações estressantes, perda de oportunidades, pouco rendimento, ineficiência, crise, solidão, desânimo. Arquimedes (III a.C) estudioso grego de matemática e física afirmou: “Dai-me um ponto de apoio e levantarei o mundo”. Essa frase é muito ilustrativa para compreendermos o que significa a importância da estratégia.
Pensando nos desafios de gestão dos nossos líderes à frente de responsabilidades regionais, diocesanas, paroquiais, comunitárias ou de pastorais, grupos, movimentos e serviços, apresento três importantes campos estratégicos a serem objeto de contínua atenção: as estratégias relacionais, organizacionais e pedagógicas ou formativas.
1. Estratégias relacionais
A primeira e principal estratégia do serviço de liderança, sem dúvidas, é a capacidade de relacionamento. Um líder que tem dificuldade de relacionamento com os outros, está em grande desvantagem. O bom tratamento, marcado pela experiência da escuta, do diálogo, justiça, cordialidade, gentileza, capacidade de comunicação, atenção às pessoas, empatia, abrem muitas portas, estimulam a convergência e facilitam o fluxo do andamento dos compromissos dos liderados.
Por outro lado, um líder, ao menos na área pastoral, que tem um estilo de relacionamento marcado pelo fechamento, indiferença às pessoas, frieza, grosseria, arrogância, prepotência, antipatia, insensibilidade dificilmente, logrará bons frutos no seu serviço de líder. Isso vale para todas as dimensões da vida da sociedade.
Muitas vezes tais atitudes, nem sempre são por maldade, mas por falta de formação humana. Formação humana e liderança caminham juntas. A primeira dá condições para que a segunda aconteça. Dizia São Francisco de Sales: “pega-se mais moscas com uma gota de mel, do que com um barril de vinagre”. A frase nos alerta para atitudes desproporcionais, exageradas que promovem o desequilíbrio nas relações. Certo é que ternura e firmeza não podem faltar na liderança.
A capacidade de manter um bom relacionamento com todos, é na verdade, a condição básica para o bom êxito no serviço de liderança das pessoas. Quando isso não acontece, muitas vezes desonestamente, surge por parte dos liderados atitudes de indiferença, boicote, sabotagem, desvios, surdez etc. E dessa forma o serviço do líder fica atrofiado, com esforços em vão e solitário.
2. Estratégias organizacionais
Além do relacionamento e da motivação, são de grande importância no serviço de liderança, o uso de uma série de possíveis instrumentos que muito contribuem para o bom êxito da missão recebida. Estamos falando da necessidade de um plano estratégico, projetos específicos, programação concreta. Planos e projetos são instrumentos que estimulam a convergência e, por outro lado, visto que não brota da cabeça do líder, deve ser apresentado como missão institucional, evitando o personalismo.
Outro bloco de estratégias organizacionais diz respeito à definição de comissões (ou GT, grupos de trabalho). Essa estratégia é importante porque é sinal de descentralização das responsabilidades. Recordemos que no deserto, diante do povo cansado, faminto e disperso, após o surgimento dos pães e dos peixes, Jesus orou, pediu ao povo para se sentar em grupos e delegou aos discípulos a tarefa da distribuição dos alimentos (cf. Mt 14,15-21). Isso é corresponsabilidade.
Mais ainda, na organização do serviço de liderança, também é muito importante a agenda de compromissos definidos, como reuniões (com pauta), avaliação de atividades e processos. Em geral, onde não há agenda de compromissos, há choque de atividades, confusão, dispersão.
3. Estratégias pedagógicas e formativas
Este terceiro grupo de estratégias evidenciam a necessidade da preocupação com o processo de formação dos liderados, ou de modo particular, com os colaboradores mais próximos. Antes de tudo, é necessário considerar que no serviço eclesial não é bem-vindo o trabalho isolado. Quem lidera solitariamente, corre o perigo de desviar-se.
Tratando-se de busca de objetivos comuns, é importante que o foco da formação dos liderados (ou comissões) seja a assimilação do projeto a ser executado, com suas metas, objetivos, estratégias, linhas de ação. O estudo conjunto contribui para o crescimento da corresponsabilidade. Trata-se da articulação de processo de assimilação do projeto a ser colocado em prática. Sem isso, em geral, o projeto é engavetado.
A formação gera consciência e alimenta a memória dos ideais a serem vivenciados. A formação, estrategicamente, pode acontecer durante o processo de acompanhamento das atividades. Era assim que Jesus formava seus discípulos. Quando o líder não recorda continuamente os compromissos a serem assumidos, tende-se a se esquecer tudo. Além dessa formação ordinária, é importante que os líderes também se preocupem com a necessidade de assessoria; de pessoas competentes que possam ajudar na formação.
Enfim, dentro das estratégias formativas podemos considerar a importante experiência da oração, o aconselhamento espiritual, os sacramentos, a leitura orante da Palavra de Deus, retiros. Na estratégia espiritual está a força do bom ânimo que vem da oração. Não é pela espada e nem pela força dos braços que o líder garante vitórias, mas é pela força que vem de Deus (cf. Sl 44,3-4). À medida que Moisés mantinha suas “mãos para o alto” (em estado de oração) os israelitas venciam; quando as abaixava, venciam os inimigos. Moisés nos é apresentado como o líder orante, muito mais do que aquele que batalhava (cf. Ex 17,8-13). A oração nos dá imunidade contra muitos males; é antídoto contra os venenos da alma, porque estimula a esperança, suscita otimismo e nos convida à perseverança no serviço.
PARA REFLEXÃO PESSOAL:
- Por que é importante a sensibilidade estratégica para o líder?
- O que você entendeu sobre as estratégias relacionais?
- Por que podemos pensar na oração como importante estratégia?
Fonte: CNBB Norte 2