Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém
Introdução
Outro grande desafio que percebemos em nossas paróquias, comunidades, grupos, movimentos e, entre tantas outras, em relação aos líderes, é a questão da carência de espírito de iniciativa. Estamos diante de uma questão muito delicada porque denuncia o perfil negativo de um líder. O que se espera de um líder é que, diante de cada situação e no seu justo momento, tenha coragem de tomar iniciativas.
O que significa tomar iniciativa? O que é necessário para que um líder possa crescer na capacidade de iniciativa? O que acontece quando um líder não tem espírito de iniciativa? Quando o espírito de iniciativa, se torna um problema? Estamos diante de uma característica muito importante de todo líder que vale a pena ser refletido e aprofundado.
1. O que significa espírito de iniciativa?
Espírito de iniciativa é a capacidade de dar o primeiro passo em vista de resolver uma situação; é manifestação da capacidade de tomar decisão. Aliás, toda iniciativa é sempre consequência de uma tomada de decisão pessoal em vista de encaminhar processos como resposta a uma situação concreta. O espírito de iniciativa é a atitude através da qual o líder manifesta seu zelo, diligência e predisposição para empreender, mobilizando seus liderados.
O espírito de iniciativa é, com outras palavras, a capacidade do líder de tomar providência, assumindo atitudes necessárias e cabíveis, dentro de suas atribuições e competências, para resolver uma situação. A priori, nem sempre, o líder tem a função de resolver as questões que surgem e os problemas que aparecem. Mas sempre lhe cabe o dever da iniciativa de despertar os liderados para a realidade estimulando a buscar respostas conjuntas.
Isso significa que o líder é chamado continuamente a exercitar-se na capacidade de interferência, de intervenção, de acompanhamento e de propositividade. Essas são atitudes naturalmente atribuídas ao líder, porque assumiram a responsabilidade de serem guardiões, sentinelas e comandantes dos liderados. Ora, o que se pede de todo líder que assumiu essas funções é que não tem uma postura sonolenta, indolente, insensível, dormente, acomodada.
O espírito de iniciativa é ainda a atitude através da qual o líder manifesta sua paixão, sua sensibilidade, sua inquietude. Portanto, não é bem-vindo um líder que nunca toma atitude, medroso, passivo, neutro, apático e inerte diante de tudo aquilo que acontece ao seu redor. O bom líder é chamado a não cruzar os braços diante dos problemas e nem permanecer calado quando é necessária uma palavra de advertência, orientação, estímulo e gratidão.
Nos Atos dos Apóstolos 2,14-33, encontramos um exemplo muito significativo de espírito de liderança. Pedro, de pé, junto com os onze discípulos, levanta a voz, fala à multidão (cf. At 2,14). A iniciativa da manifestação de Pedro é uma atitude que revela sua firme liderança; trata-se de uma postura que sempre tomará nos momentos solenes, em situações de conflito, em momentos de discernimento e em outras circunstâncias. Ele encarna as atitudes de Jesus na liderança e no espírito de iniciativa diante dos seus discípulos. Pedro, líder, é autoridade, tem entusiasmo, fica de pé e fala com voz alta. Essa descrição revela uma atitude de coragem, de firmeza, de consciência da própria liderança gerindo o direito-dever de posicionar-se em nome da comunidade dos discípulos. O líder movido pela consciência da missão recebida é aquele que “se levanta”, “toma iniciativa”, “fica em pé” e, também, de acordo com os contextos, deve ter a coragem de “levantar a voz” diante dos desafios; ou seja, que age com segurança, clareza, que não foge por medo; o líder é aquele que zela pela comunhão do grupo em torno de um mesmo projeto de vida.
2. Espírito de iniciativa e senso de cuidado
Todo bom líder é cuidadoso e por isso, toma boas iniciativas diante dos seus liderados porque não quer perdê-los e nem ver nenhuma forma de prejuízo se infiltrando no grupo. Daí vem a sua inquietude, seu zelo, sua solicitude, sua prontidão em manifestar-se despertando a todos, colocando-os na situação de alerta e cientes de tudo. A inquietude é muito mais do que não estar sossegado, muito mais do que movimentação física, é na verdade, algo interior, psicológico, mental, afetivo, espiritual.
O espírito de iniciativa é dinamismo espiritual, mental, racional; é um permanente estado de alerta que, não só observa as necessidades e as ameaças, mas também significa atenção sobras conveniências, possibilidades, oportunidade, sonhos. Pessoas com espírito de iniciativa, não só se preocupam em dar resposta aos problemas, mas sobretudo estão atentas à manutenção do bem dos liderados (o grupo, a comunidade, a instituição), bem como, o seu crescimento.
Muitas vezes, nossas comunidades, grupos, movimentos não crescem com mais pujança, porque seus líderes não dão passos novos, não conseguem perceber oportunidades para novas iniciativas, novas conquistas, não ousam buscar novos horizontes, não enfrentam os problema reais, não almejam o desenvolvimento e nem a significatividade.
É típico do senso do cuidado, o desejo de não perder, por isso vamos encontrar diversas vezes, nas atitudes do bom Pastor, a clareza do espírito de iniciativa (cf. Ez 34,1-17;Jo 10,1-17). Dessa forma o espírito de iniciativa pressupõe clareza e consciência da missão recebida, generosidade, coragem, dedicação, bravura, ousadia. Por outro lado, descarta-se apatia, o medo de errar e de arriscar. Como bem nos diz São João evangelista: o amor supera o medo (cf. 1Jo 4,18).
O senso de cuidado é permeado pela preocupação preventiva. Quem tem sensibilidade preventiva se antecipa, tem espírito de iniciativa, chega antes do estouro dos problemas, evita que o mal aconteça. Não há sensibilidade preventiva sem espírito de iniciativa, porque a preocupação preventiva busca evitar o surgimento dos problemas.
3. Consequências da falta de iniciativa
Onde há falta de espírito de iniciativa os males aparecem com forte poder de destruição. Num grupo ou instituição que sofre pela carência de iniciativa de seus líderes encontramos problemas semelhantes como a dispersão, falta de senso de corresponsabilidade, comodismo, surgimento de outros líderes que agem paralelamente, concorrência, desorientação, desorganização, conflitos de competências, desordem, desânimo, pessimismo.
Todos esses males representam tudo aquilo que é natural do serviço de liderança. A falta do espírito de iniciativa, corresponde à ausência de liderança; uma vez que o espírito de iniciativa pressupõe o exercício da subjetividade do líder, a ausência da mesma acusa a insignificância do mesmo. É típico de quem não é líder, não tomar iniciativas; mas só agir quando é estimulado, mandado, motivado, empurrado. A carência do espírito de iniciativa de um líder, contribui para o subdesenvolvimento do grupo, atitude esta que não estimula à busca de melhores qualidades de vida e de superação de males.
Todavia, o espírito de iniciativa, para ser justo e harmonioso, precisa de parâmetros orientativos. É isso que iremos refletir no próximo texto.
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
- O que é o espírito de iniciativa?
- Como é o perfil de uma pessoa sem espírito de iniciativa?
- Quais são as consequências da falta de espírito de iniciativa?
Fonte: CNBB Norte 2