Jesus quebra costumes para buscar pecadores

Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Por Frei Clarêncio Neotti

 

O caminho que levava da Judeia à Galileia e vice-versa passava pela Samaria. Para os judeus era passagem penosa. Judeus e samaritanos se evitavam, odiavam-se. A Samaria já fora terra de hebreus. Lá estava o túmulo de José do Egito (Js 24,33). Lá estava o famoso poço, que Jacó dera de presente ao filho predileto José. Agora, sentado ao lado do poço, estava o Filho predileto do Pai do Céu, capaz de dar não apenas um poço de água corrente, mas água viva, que jorra para a vida eterna.

Em torno do ano 720 antes de Cristo, a Samaria foi invadida pelos persas, e, ao menos, 30 mil habitantes foram deportados. Em seu lugar trouxeram colonos assírios (2Rs 17,24). Com o tempo, esses colonos acabaram adotando a lei de Moisés e o monoteísmo judaico, conservando, porém, os costumes e as devoções próprias (2Rs 17,27-34). Construíam seus templos no alto dos montes, como o Ebal (938 m), onde a tradição dizia que Josué oferecera o primeiro sacrifício ao entrar na Terra Prometida (Dt 27,4-8) e o Garizim (868 m), defronte ao Ebal, até hoje sagrado para os habitantes.

Compreende-se, então, o duplo espanto da samaritana no Evangelho de hoje. Primeiro: nenhum homem decente abordava uma mulher em público, conforme o costume tanto judeu quanto samaritano. Segundo: um judeu que se prezasse não pedia jamais um favor a um samaritano. Jesus, portanto, quebrou dois preconceitos ao mesmo tempo, coisa que escandalizou os próprios discípulos (v. 27). E, pela narração do Evangelho, ficamos ainda sabendo que era uma mulher de vida irregular (v. 18), que vivia com homem que não era seu marido.

A história de Jesus com a samaritana é um exemplo claro da afirmação do próprio Cristo: “Eu vim chamar os pecadores à conversão”. Essa frase ou Jesus a pronunciou, muitas vezes, ou ela chocou muito os Apóstolos, já que três evangelistas a transcreveram (Mt 9,13; Me 2,17; Le 5,32). E por que teria chocado? Porque os hebreus evitavam os pecadores. No caso da samaritana, além de ser ‘pagã’ e de vida desregrada, era mulher. E nenhum rabino perdia tempo em passar ensinamentos a mulheres. Jesus hoje dá um exemplo da verdadeira misericórdia: abriu o coração a uma pessoa necessitada de ajuda.

Fonte: Franciscanos


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

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