Jesus, Pão descido do céu

Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Por Pe. Johan Konings

 

Continuamos nossa meditação sobre o capítulo 6 de João, que constitui o fio das leituras dominicais por este tempo. No domingo passado, Jesus se apresentou como o pão descido do céu, com palavras que lembravam as declarações de Isaías sobre a palavra e o ensinamento de Deus. Hoje aprofundamos o sentido disso. Jesus é alimento da parte de Deus por ser a Palavra de Deus (Jo 1,1), que nos faz viver a vida que está nas mãos de Deus – a vida que chamamos de “eterna”. (Esta não é mero prolongamento indefinido de nossa vida terrestre, o que não valeria a pena, mas é “de outra categoria”: da categoria de Deus mesmo. Neste sentido, vida eterna e vida divina são sinônimos).

Jesus nos alimenta para essa vida divina por tudo aquilo que ele é e fez. Sua vida é o grande ensinamento que nos encaminha na direção do Pai. Na antiga Aliança, Moisés e seus sucessores ensinavam o povo, mas nem sempre de melhor maneira. Agora, realiza-se a Nova Aliança, em que todos se tornam discípulos de Deus (Jo 6,45; Jr 31,33; Is 54,13). Quem escuta Jesus, que é a Palavra de Deus em pessoa, não precisa mais de intermediários (Jo 1,17). Ninguém jamais viu Deus, a não ser aquele que desce de junto dele, o Filho que no-lo dá a conhecer (6,46; cf. 1,18). Jesus conhece Deus por dentro. Escutando Jesus, aprendemos a conhecer Deus, sem mais intermediários.

Escutar Jesus alimenta-nos para a vida com Deus, para sempre. Ora, João diz que quem crê já tem a vida eterna (5,24). Como é essa vida eterna, divina? Será talvez esse bem-estar incomparável que sentimos quando ficamos mortos de cansaço por nos termos dedicado aos nossos irmãos até não poder mais? Quando arriscamos nossa vida na luta pela justiça e o amor fraterno. Quando doamos o melhor de nós, material e espiritualmente. A felicidade de quem dá sua vida totalmente. Pois é isso que Jesus nos ensina da parte de Deus. E porque ele fez isso, ele é o ensinamento de Deus em pessoa.

Para Israel, o ensinamento de Deus está na Escritura e na tradição dos mestres: é a Torá, a “Instrução” (termo traduzido de modo inadequado por “Lei”). Para nós, a Torá viva é Jesus.

Sabemos que o tipo de vida que Jesus nos mostra e ensina é endossado por Deus, como ele comprovou ressuscitando seu filho dentre os mortos. É a vida que Deus quer. E o pão que alimenta essa vida é Jesus. Alimenta-a pela palavra que falou, pela vida que viveu, pela morte de que morreu: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu…. O pão que eu darei é minha carne dada para a vida do mundo”(6,51, evangelho do próximo dom.).

Fonte: Franciscanos


PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022.  Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

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