Por Frei Almir Guimarães
Que o Pastor seja, pela humildade, um companheiro dos que fazem o bem; e, contra os vícios dos que praticam o mal, possua um enérgico senso de justiça. Não se considere melhor do que os outros homens de bem e, quando a culpa dos perversos o exigir, tome imediatamente consciência do poder que lhe advém de sua autoridade. (São Gregório Magno)
Domingo do Bom Pastor. Pastor, pão, alimentação. Uma antiga raiz originária do indo-europeu pa deu em latim panis e pastor. Pastor e pão apontam para alimentação, nutrição, cuidado para que a pessoa, o outro, cresça. Jesus ressuscitado é o Pastor bom que dá a vida pelas ovelhas. Não era como os pastores de antigamente que, segundo Ezequiel, se aproveitavam da ovelhas. Jesus é aquele que busca as ovelhas desgarradas e procura para elas pastos verdejantes. Com sua fala e seu comportamento está sempre reunindo os dispersos: que ouçam sua voz, voltem ao redil, aceitem um alimento substancioso. Jesus ressuscitado é o Bom Pastor. Ontem e hoje.
Normalmente falando pastores são os bispos e os sacerdotes. O Papa Francisco, por sua vez, é o supremo cuidador. Podemos dizer que os pais, os educadores cristãos, os agentes de pastoral são pastores de seus respectivos “rebanhos”. Levam as pessoas a prados verdejantes e a fontes borbulhantes. Os sacerdotes, de modo especial, refazem em suas vidas o perfil do Bom Pastor. Nisto consiste o esplendor da vocação para o sacerdócio ministerial: terem os traços do Pastor por excelência. Quais são as ovelhas?
Há aquelas que frequentam regularmente os espaços geográficos de nossas comunidades. Muitas dessas pessoas são sinceras e vivem em profundidade o amor a Cristo. Trazem traços de Cristo em seus semblantes e em suas vidas.
Outras costumam colocar ritos religiosos, fazer orações, viver práticas mas que pouca adesão existencial deram, de fato, ao Evangelho. Frequentam nossos espaços, batizam os filhos, declaram-se pessoas católicas, mas nunca tiveram efetivamente encontros pessoais e comunitário verdadeiros com o Senhor. Não rejubilam com a vivência da fé. A fé é como uma veste que usam de quando em vez: aos domingos, nas horas de aflição, como coisa que está aí, mas que não faz a vida vibrar. Depois ela é guarda no armário das tradições familiares.
Há aqueles que andam desejosos de viver uma grande intimidade, de conviver com as Escrituras, de se comprometerem com ações que transformem o mundo. Sentem que o Senhor anda rondando suas vidas para que sejam muito generosos. Experimentam sede de Deus e de amor ao próximo. Não encontram comunidades que os acolham de verdade. Quem orientará a todos esses?
Há ainda aqueles que devido a uma catequese deficiente carecem de uma compreensão alegre da Boa Nova do Evangelho. São pessoas que vivem uma decepção ou um desencantamento. Alguns abandonam a Igreja, revoltados. Há ainda pessoas que nunca tiveram ocasião de encontrar a Igreja, o Evangelho e vivem assim.
Quais as qualidades do pastor?
“No oficio de pastor uma tarefa importantíssima é a de conduzir as ovelhas por caminhos seguros, protege-las de todo possível dano, liberta-las de qualquer perigo, tira-las do atoleiro, curar as feridas que possam ter sofrido. Em Jesus encontramos tudo isso. Ele foi a misericórdia e a compaixão em pessoa: foi transparência da misericórdia divina, o rosto misericordioso do Pai. É o Bom Pastor que procura a ovelha perdida e não descansa até encontra-la. E ao encontra-la enche-se de felicidade. Nele, a ovelha ferida, cansada e oprimida, pode encontrar segurança e descanso, como ele mesmo prometeu: ‘Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos e eu vos darei descanso’ “ (Salvador Valadez Fuentes, Espiritualidade Pastoral, Paulinas, p. 86).
A imagem do pastor está carregada dos simbolismo religioso na tradição bíblica. O pastor simboliza o chefe que governa e dirige o povo. Sua principal tarefa é vigiar, guiar e proteger o rebanho. Sua principal tarefa é vigiar, guiar e proteger o rebanho. Deus é “pastor de Israel porque conduz o povo, vela por ele o protege.
Quando os primeiros cristãos falam de Jesus como o Bom Pastor não o fazem para apresenta-lo como chefe e comandante de um povo, mas para destacar sua preocupação pela vida das pessoas. Jesus é, de modo particular, o Bom Pastor porque dá a sua vida pelas ovelhas.
Para a reflexão
“Nós cristãos cremos que só Jesus pode ser guia definitivo do ser humano. Só com ele podemos aprender a viver. O cristão é precisamente aquele que, a partir de Jesus, vai descobrindo dia a dia qual a maneira mais humana de viver. Seguir Jesus como Bom Pastor é interiorizar as atitudes fundamentais que ele viveu, e esforçar-nos por vive-las hoje a partir de nossa própria originalidade, prosseguindo a tarefa de construir o Reino de Deus que ele começou. Mas enquanto a meditação for substituída pela televisão, o silêncio interior pelo ruído e o seguimento da própria consciência pela submissão cega à moda, será difícil escutarmos a voz do Bom Pastor que pode ajudar-nos a viver no meio desta “sociedade consumo” que consome os consumidores”
Pagola, O caminho aberto por Jesus
João, p. 153
Oração
Já que Cristo ressuscitou,
podemos começar uma vida nova
de mulheres e homens ressuscitados
e irmãos, agora mesmo.
Já que Cristo ressuscitou,
temos seu espírito entusiasta,
e queremos trazê-lo bem visível
para que contagie muitos.
Já que Cristo ressuscitou,
estamos em sua renovação permanente;
é preciso transformar o mundo
a partir dos fundamentos.
Já que Cristo ressuscitou,
é preciso construir uma cidade solidária
onde o homem não seja lobo,
mas companheiro e irmão.
Já que Cristo ressuscitou,
cremos numa terra nova
onde haverá amor e casa para todos.
P. Loidi
Fonte: Franciscanos
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.