Por Frei Clarêncio Neotti
O sexto símbolo é o próprio pão, elemento encontradiço em quase todos os livros da Bíblia. Era o principal alimento dos israelitas. Os pobres comiam, sobretudo, o pão de cevada (v. 9), os ricos comiam o pão de trigo. Dos quatro Evangelistas, João é o único a dizer que o pão era de cevada, isto é, pão de pobre. Talvez sugerindo uma comparação com a multiplicação dos pães de cevada feita por Eliseu, como encontramos na primeira leitura de hoje (2Rs 4,42-44). O profeta com pães alimentara cem pessoas. Jesus, com cinco, alimenta cinco mil. Logo mais, promete com um só, seu corpo, alimentar a todos, em todos os tempos e lugares.
Misturava-se muita coisa no pão, conforme o gosto e a técnica de cada família. Desde muito cedo a farinha ou o pão eram elementos para o sacrifício. Muitas vezes, no Antigo Testamento, o pão tinha forte carga simbólica, a começar com os pães da proposição: sobre uma mesa preciosa, revestida de ouro, no santuário, permaneciam doze pães (Êx 25,30), considerados sagrados, mudados aos sábados, feitos da flor da farinha e que só os sacerdotes podiam comer (Lv 24,5-9). Sabe-se, pela história, que nos banquetes oferecidos aos visitantes, nos tempos mais antigos do judaísmo, a refeição começava com a bênção do pão, pronunciada pelo dono da casa: “Louvado sejas, Javé, nosso Deus, Rei do mundo, que fazes crescer o pão da terra”. E todos respondiam: ‘Amém’. Então, o dono da casa partia o pão e o distribuía a todos. Era o pão da amizade. Jesus veio repetir esse gesto como dono da casa da nova família. Ele, nosso Deus, Senhor e Rei, vai dar-se como pão. Pão da fraternidade. Pão da salvação. Pão da nova e eterna aliança. Pão da vida sem-fim.
Fonte: franciscanos.org.br
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.