“Também sou teu povo, Senhor! E estou nesta estrada”
Três anos após o rompimento da barragem de rejeitos de minério em Fundão, as famílias, vítimas de um dos maiores desastres ambientais da história do país, ainda estão sem chão. Ao que começou, sobretudo por elas, somam-se agora as perdas irreparáveis das quase trezentas mortes em Brumadinho. Duas barragens de rejeitos rompidas e um saldo traduzido em uma tragédia sem precedentes.
É com este histórico de perdas, inclusive as ambientais – deixadas pela lama que encobriu o Rio Doce -, que a IV Romaria das Águas e da Terra chega à Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano. Depois de percorrer as cidades das outras dioceses da Província Eclesiástica de Mariana, é a vez de Itabira acolher o ‘grito’ daqueles que clamam por justiça em meio a inércia e ao silêncio dos “poderes”.
A Igreja que não cala, em saída, bate às portas, convida, conclama: vem com a gente!
Desde o início do ano, foram realizadas várias reuniões preparatórias para a romaria que será realizada em Itabira no dia 2 de junho. Leigos e sacerdotes das dioceses de Itabira-Coronel Fabriciano, Governador Valadares, Caratinga, Arquidiocese de Mariana, e também das dioceses de Guanhães e Colatina, participaram dos encontros. No dia do evento, são esperados cerca de 4 mil romeiros provenientes das dioceses localizadas ao longo da Bacia do Rio Doce – desde Minas Gerais até o estado do Espírito Santo.
Para receber tantas caravanas, foi preciso estabelecer toda uma logística que envolveu diversos organismos das três Regiões Pastorais da Diocese de Itabira. Na semana que antecede a romaria, de 27 de maio a 1º de junho, também acontecerá a Semana Missionária. Cerca de 150 pessoas, que farão as visitas domiciliares, serão acolhidas por famílias das várias paróquias da cidade.
Os romeiros se concentrarão, no dia 2, no estacionamento do Estádio Israel Pinheiro (estádio do Valério). De lá, eles seguem em caminhada rumo à portaria da Vale. A Missa será celebrada na praça em frente à Igreja Nossa Senhora da Piedade, no bairro Campestre.
Dada a situação de Itabira, diante das tensões oriundas das barragens no município, o tema da IV Romaria das Águas e da Terra não poderia ser mais condizente: “Bacia do Rio Doce, Nossa Casa Comum” e o lema: “Vão-se os bens da criação, ficam miséria e destruição! E agora, José?”
História da Romaria
Os primeiros passos desta caminhada foram dados em março de 2016, em Mariana, durante o Seminário “Bacia do Rio Doce, Nossa Casa Comum”. A partir deste encontro, que teve o objetivo de discutir as consequências da tragédia provocada pelo rompimento da barragem de Fundão (5/11/2015), a romaria foi incluída, na chamada ‘Carta de Mariana’, como uma das atividades a serem promovidas pelas lideranças que participaram do seminário – foi um grito de alerta e um pedido por justiça!
A I Romaria das Águas e da Terra aconteceu poucos meses depois, na cidade de Resplendor, município da circunscrição eclesiástica da Diocese de Governador Valadares, no dia 5 de junho de 2016. Reuniu aproximadamente 3 mil romeiros. No ano seguinte, em 4 de junho, a II Romaria foi realizada em Caratinga e atraiu mais de 5 mil fiéis, provenientes das dioceses mineiras e capixabas localizadas ao longo da Bacia do Rio Doce. Em 2018, quem sediou o encontro foi a Arquidiocese de Mariana, que recebeu os romeiros em Ponte Nova. Em uma de suas falas, Dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo emérito de Mariana, afirmou: “Não podemos silenciar diante de governos em âmbito federal, estadual ou municipal e de órgãos públicos que se omitem em sua tarefa de fiscalizar os empreendimentos minerários, especialmente nesta região. Mais uma vez denunciamos o desrespeito aos direitos dos atingidos e atingidas, pelo rompimento da barragem de Fundão, no distrito de Bento Rodrigues, município de Mariana e que causou graves danos às pessoas e ao meio ambiente em toda a extensão do Rio Doce”.
A 4ª edição da Romaria será em Itabira, sede da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano. Várias reuniões preparatórias aconteceram desde o início do ano. A última, 8/05, realizada no salão comunitário da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, anfitriã da romaria, reuniu representantes da Província Eclesiástica de Mariana (dioceses de Itabira-Coronel Fabriciano, Caratinga, Governador Valadares e Arquidiocese de Mariana) e de outras dioceses da Bacia do Rio Doce, como a de Guanhães.
Tema/lemas das 4 edições da romaria
I – “Bacia do Rio Doce, Nossa Casa Comum/ lema: Corresponsabilidade de todos frente à vida ameaçada”
II – “Bacia do Rio Doce, Nossa Casa Comum/ lema: Povos, terras e águas clamam por justiça”
III – “Bacia do Rio Doce, Nossa Casa Comum/ lema: Cuidando da terra e plantando água com justiça e soberania popular”
IV – “Bacia do Rio Doce, Nossa Casa Comum/ lema: Vão-se os bens da criação, ficam miséria e destruição! E agora, José?”
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Assessoria de Comunicação