Inabitação Divina

“Porque Pai é o Pai e não Filho, e o Filho é Filho e não Pai. Igualmente, o Pai está no Filho e o Filho no Pai. Ambos doam o Paráclito, ou seja, o Espírito Santo, não o Pai a sua maneira e o Filho a sua; mas antes se concede aos santos da parte do Pai, por meio do Filho. Em consequência, quando dizemos que o Pai dá, também o Filho dá, por meio do qual tudo nos é concedido; e quando dizemos que o Filho dá, quem dá é o Pai, já que o Pai concede todos os bens. E que o Espírito Santo também seja divino e não de outra natureza em comparação com o Pai e o Filho, parece-me que a nenhuma pessoa de bom-senso restará dúvida alguma, já que a razão se impõe as nós com força. Pois se alguém dissesse que o Espírito não é de natureza divina, como pode participar de Deus a criatura que recebe o Espírito Santo? Ou como poderiam chamar-nos ou poderíamos ser templos de Deus, se recebêssemos um espírito criado e alheio ao ser divino em vez do Espírito que procede de Deus? Ou como seriam consortes da natureza divina aqueles que, conforme os santos, participam do Espírito, se a ele devêssemos contá-lo entre as criaturas e não viesse a nós da própria natureza divina? Não é que ele administra-nos essa natureza divina como alguém que fosse alheio a ela; mas por assim dizer convertendo-se dentro de nós em certa qualidade divina: assim ele habita e permanece sempre nos santos, se você limpar sua mente fazendo todo tipo de bem, e se conservam a graça mediante um esforço contínuo.

Cristo diz que aqueles que são do mundo não pode nem compreender nem contemplar, isto é, aqueles que somente pensam no que é mundano e amam as coisas terrenas; mas já os santos facilmente o veem e entendem. Por que motivo? Porque os primeiros, manchados com uma impureza que dificilmente pode se purificar, e com o raciocínio obscurecido, não são capazes de bem considerar o que é próprio da natureza divina, nem capitam a lei do Espírito, uma vez que estão subjugados inteiramente pelos apetites da carne.

Porém, os bons e sóbrios mantém o coração alheio aos males mundanos e livremente introduzem no âmago do seu interior ao Paráclito; e tendo recebido o conservam, e, quanto é possível um ser humano, o contemplam com sua mente, e assim produzem frutos grandiosos e valiosos. Por que ele os santificará, os fará realizar todo tipo de boas obras, e, tirando lhes as vergonhosas cadeias da escravidão, os honrará com a filiação adotiva. Paulo dá testemunho deles dizendo: E já que sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito do seu Filho que clama: Abbá, ó Pai!”

São Cirilo de Alexandria – doutor da Igreja (Séc. V).

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