Por Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
Na Solenidade da Imaculada Conceição somos convidados a equacionar o tipo de resposta que damos aos desafios de Deus. Ao propor-nos o exemplo de Maria de Nazaré, a liturgia convida-nos a acolher, com um coração aberto e disponível, os planos de Deus para nós e para o mundo. Neste dia bendito, com esta solenidade, respira-se a proteção divina e a sua promessa. A presença de Deus na história da humanidade é uma presença de cuidado maternal.
Desde o século XI esta Solenidade se insere no contexto do Advento-Natal, unindo a espera messiânica e o retorno glorioso de Cristo com a admirável memória da Mãe. Nesse sentido, este período litúrgico deve ser considerado tempo particularmente oportuno para o culto da Mãe do Senhor. Recomendo, vivamente, a récita diária do Santo Rosário, a récita da Ladainha de Nossa Senhora e a devoção mariana mais acurada, considerando que Maria é toda Santa, isenta de toda mancha de pecado, pelo Espírito Santo como que plasmada e feita nova criativa(LG, n 56).
A segunda leitura(Ef 1,3-6.11-12) garante-nos que Deus tem um projeto de vida plena, verdadeira e total para cada homem e para cada mulher – um projeto que desde sempre esteve na mente do próprio Deus. Esse projeto, apresentado aos homens através de Jesus Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem subterfúgios.
A primeira leitura(Gn 3,9-15.20) mostra (recorrendo à história mítica de Adão e Eva) o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência… Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte. O jardim do Gênesis é um grande indicativo da realidade que respira a proteção divina e a sua promessa, ao colocar homem e mulher na esfera do divino, o ser humano é convidado ao patamar mais alto; é elevado. Essa elevação, no entanto, é mantida pela coerência de fé, pelo desejo de estar unido ao Criador. Na falta dessa dimensão, acontece o afastamento. A memória dos primeiros pais, no Gênesis, é uma memória do afastamento. Ainda, assim, o que se verifica é o cuidado de Deus. A ambos protege, a ambos assegura a sua presença.
O Evangelho(Lc 1,26-38) apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a autossuficiência e preferiu conformar a sua vida, de forma total e radical, com os planos de Deus. Do seu “sim” total, resultou salvação e vida plena para ela e para o mundo. São Lucas nos traz hoje uma pérola das suas páginas. Esse canto magnífico soa aos nossos ouvidos neste Tempo do Advento e as riquezas de cada palavra são como pingos de ouro para a nossa vida cristã: o Senhor vem até uma jovem, dialoga com ela, escuta suas dúvidas e a aconselha com mansidão. Ao final, seu “sim” repercute, elevando aos céus um novo louvor de ação de graças. Maria é convidada a “alegrar-se”; a “não ter medo”; a saber que “encontrou graça diante de Deus”. Esses são os presentes maravilhosos que Ela nos entregará em seu sim e na fiel perseverança desse sim.
Imaculada Conceição: a santidade na espera do Natal! Maria é a Virgem que conceberá e dará a luz a um filho cujo nome será Emanuel. Com esta brilhante celebração no meio do tempo do Advento, tempo marcado de doce esperança cristã, louvemos a gravidez da Virgem Santa e peçamos a Nossa Senhora que nos ajude a seguir seu filho na mesma alegria que o anjo cantou: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!”. Como o Senhor esteve e está sempre com Nossa Senhora, a Imaculada Conceição, peçamos que esteja sempre conosco para trilharmos o caminho da santidade para bem viver as alegrias do Natal.
Fonte: CNBB