Por Frei Gustavo Medella
A ilusão – ainda que inconsciente – da imortalidade tem sido causa de grandes desgraças na vida do ser humano e da humanidade. Trata-se de uma postura delirante que, no tempo presente, se mostra destruidora e, considerada em retrospectiva, manifesta-se ridícula: “Vaidade das vaidades”…
Destruidora no presente porque leva a uma visão enganosa da pessoa em relação a si mesma e aos bens da natureza. Quem não se dá conta de sua própria finitude tem grande tendência de estender sua compreensão em relação aos bens criados, explorando-os em próprio benefício como se também fossem inesgotáveis. Levar a sério e acreditar em tal delírio torna a pessoa cega para perceber que sua pretensa vida imortal se constrói à custa da morte da natureza e de seus semelhantes. É uma loucura!, conforme adverte Jesus no Evangelho deste 18º Domingo do Tempo Comum (Lc 12,13-21).
Ridícula quando olhada sob o prisma do passado porque revela a perecibilidade de tudo que a seu tempo parecia de fundamental importância e agora não passa de cacareco, tranqueira, quinquilharia: o carro de último tipo, hoje, não sai mais do lugar: virou ferro velho; as muitas mãos que lhe davam tapinhas nas costas foram rareando à medida que o dinheiro foi ficando escasso; a fortuna guardada sob o colchão, hoje, não passa de um amontoado de papel velho todo comido pela traça que nem para acender fogão a lenha serve mais.
Seguir o conselho de Jesus e perceber que a vida do ser humano não consiste na abundância de bens é sinal de maturidade na fé e na vida, agraciando quem assim compreende a própria existência com a sabedoria de investir suas melhores forças nos bens que não passam: o companheirismo, a solidariedade, o cultivo de relações de respeito, a prática gratuita e desinteressada do bem, o desejo de caminhar em proximidade com o Senhor. Estes são os valores que permanecem com a pessoa na eternidade, depois de seu último suspiro sobre a terra. Nem sempre é fácil aprender essa lição. Os tombos da vida, às vezes, ensinam. O melhor é pedir a Deus a graça de perceber o quanto antes que o Papa Francisco tem razão quando diz que nunca viu cortejo fúnebre acompanhado de caminhão de mudança.
Fonte: Franciscanos
FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2011 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.