“Quando Cristo funda a Igreja, estabelece-se a nova e definitiva aliança que supõe e implica a criação do novo povo de Deus. A Igreja brota do lado aberto de Cristo, simbolizados pela água e sangue que brotam de seu lado aberto, símbolos do Batismo e da Eucaristia.”
Por Jackson Erpen
Mas para perscrutar o mistério da Igreja, é conveniente meditar primeiro sobre a sua origem no desígnio da Santíssima Trindade e sobre a sua progressiva realização na história. A Igreja, de fato, é um desígnio nascido no coração do Pai, prefigurada desde a origem do mundo, preparada na Antiga Aliança, manifestada pelo Espírito Santo e consumada na Glória.
Dando continuidade a sua série de reflexões sobre a Igreja, padre Gerson Schmidt* nos fala hoje sobre “Igreja e Trindade no Vaticano II”:
A Constituição Dogmática Lumen Gentium aponta no número 02: “E, aos que creem em Cristo, decidiu chamá-los à santa Igreja, a qual, prefigurada já desde o princípio do mundo e admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança(1), foi constituída no fim dos tempos e manifestada pela efusão do Espírito, e será gloriosamente consumada no fim dos séculos. Então, como se lê nos Santos Padres, todos os justos depois de Adão, «desde o justo Abel até ao último eleito» (2), se reunirão em Igreja universal junto do Pai”(LG, 2).
Deus Pai tem a iniciativa da Igreja, pois tem criado o mundo para salvar-nos em Cristo e, portanto, por meio da Igreja. Este é um fato. O mundo tem sido criado em Cristo e com vistas a Cristo. Recorda o teólogo Philips que o Concilio se abstém de entrar no aspecto especulativo do problema do sobrenatural. O mundo de fato tem sido criado em Cristo, conforme a Carta aos Efésios e a carta aos Colossenses (Ef 1;Col 1,15). O concílio se limita a um fato: a encarnação e, portanto, a Igreja tem sido decretada por Deus Pai para elevar o homem à participação da vida divina e, caído no pecado, não o abandonou, mas que lhe dirigiu sempre sua ajuda e atenção a Cristo Redentor.
A Igreja já estava prefigurada nas origens da humanidade, quando em Adão, o homem havia sido elevado à vida divina. O teólogo Hermas escreveu: “o mundo foi criado em vistas à Igreja”.
O concílio de Trento diz que Adão foi constituído em santidade e justiça. A graça que Adão possuía não pode ser uma graça a margem de cristo e, portanto, a margem da Igreja. A graça é nossa entrada no seio mesmo da Trindade, e entramos como filhos, como filhos no Filho. Gonçalves Gil diz que “toda elevação supõe a encarnação; toda a graça sobrenatural é, por sua natureza intrínseca, graça de Cristo”[1]. Por isso, somos filhos do Pai, irmãos de Cristo, no amor do Espírito Santo. Somos filhos da Santíssima Trindade. Em virtude da encarnação e do envio do Espírito Santo em Pentecostes, entramos na Santíssima Trindade como filhos do Pai. Diz o teólogo José Antonio Sayés: “O espírito nos assimila a Cristo e, em Cristo, nos fazemos partícipes de sua filiação. A conclusão é clara: não há mais graça de Deus que a que não tenha sido dado em Cristo por seu Espírito”[2].
A vocação propriamente da Igreja começa com a vocação de Israel, com a vocação de Abraão, pai do povo hebreu. Com sua chamada nasce a promessa do povo de Deus. Em sentido próprio, o judaísmo não é, todavia, a Igreja, pois esta nasce na plenitude dos tempos, pois Deus interveio em Israel para preparar e anunciar a chegada do Messias, e os justos do Antigo Testamento serão justificados em virtude da graça de Cristo que se tem de encarnar. Com Cristo chegou a plenitude dos tempos. Quando Cristo funda a Igreja, estabelece-se a nova e definitiva aliança que supõe e implica a criação do novo povo de Deus. A Igreja brota do lado aberto de Cristo, simbolizados pela água e sangue que brotam de seu lado aberto, símbolos do Batismo e da Eucaristia.
Fonte: Vatican News
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] M. GONZALEZ GIL, Cristo, mistério de Dios, Madrid, 1976, II,585.
[2] SAYÉS, José Antonio. La Iglesia de Cristo, Curso de Eclesiologia, Editora Pelicano, Madrid, 1999, p.34-35.