“O Espírito Santo constitui a Igreja, a comunidade de fé. Por isso, a Igreja é o que é pela ação do Espírito Santo. Nele, ela adquire o seu “eu”, a sua identidade”.
Por Jackson Erpen
“O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo, e dentro deles ora e dá testemunho da adoção de filhos. A Igreja, que Ele conduz à verdade total e unifica na comunhão e no ministério, enriquece-a Ele e guia-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos e adorna-a com os seus frutos”.
O número 4 da Constituição Dogmática Lumen Gentium retrata muito bem a consciência pneumática da Igreja. O Espírito Santo, de fato, unifica, rejuvenesce a Igreja, animando-a por dentro, constituindo-a em sua identidade. Dando continuidade a suas reflexões sobre a Igreja, padre Gerson Schmidt* volta a falar no programa de hoje sobre a sua dimensão pneumática, nos trazendo “a Igreja como comunidade no Espírito”:
“Aqui já falamos da dimensão pneumática da Igreja, mas precisamos aprofundar a Igreja como comunidade no Espírito. Dizíamos que o Espírito Santo não vem apenas para dar vigor à estrutura da Igreja, mas é verdadeiramente seu cofundador, animando-a por dentro. A relação não é mera “assistência” à Igreja, mas é essencial, a ponto de constituí-la. O Espírito Santo constitui a Igreja, a comunidade de fé. Por isso, a Igreja é o que é pela ação do Espírito Santo. Nele, ela adquire o seu “eu”, a sua identidade[1].
O Espírito Santo age em toda a comunidade. Torna a comunidade coesa, unida num só corpo e comunhão. Não se pode estender a ação do Espírito Santo como uma operação e atuação somente nos leigos e nos clérigos. A primeira carta aos Coríntios descreve que o Espírito Santo pode atingir todos os que pertencem à comunidade de Cristo. Mais ainda. Pode atuar onde e quando quiser, nos dons que bem lhe aprouver. O Espírito Santo não só santifica e conduz o Povo de Deus por meio dos sacramentos e ministérios e o adorna com virtudes, mas «distribuindo a cada um os seus dons como lhe apraz» (1 Cor 12,11).
O Concílio Vaticano II vê o perigo do subjetivismo e coloca aos membros da hierarquia o dever de provar ou comprovar os dons carismáticos[1]. Diz assim a Lumen Gentium no número 12: “A totalidade dos fiéis que receberam a unção do Espírito Santo (cfr. Jo 2, 20 e 27), não pode enganar-se na fé; e esta sua propriedade peculiar manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da fé do povo todo, quando este, «desde os Bispos até ao último dos leigos fiéis» manifesta consenso universal em matéria de fé e costumes. Com este sentido da fé, que se desperta e sustenta pela ação do Espírito da verdade, o Povo de Deus, sob a direção do sagrado magistério que fielmente acata, já não recebe simples palavra de homens, mas a verdadeira Palavra de Deus (cfr. 1 Tes 2,13), adere inevitavelmente à fé uma vez confiada aos santos (cfr. Jud 3), penetra-a mais profundamente com juízo acertado e aplica-a mais totalmente na vida”.
E continua a descrever a LG: “Estes carismas, quer sejam os mais elevados, quer também os mais simples e comuns, devem ser recebidos com ação de graças e consolação, por serem muito ordenados e úteis às necessidades da Igreja. Não se devem porém, pedir temerariamente (ou seja, de maneira imprudente), os dons extraordinários nem deles se devem esperar com presunção os frutos das obras apostólicas; e o juízo acerca da sua autenticidade e reto uso, pertence àqueles que presidem na Igreja e aos quais compete de modo especial não extinguir o Espírito mas julgar tudo e conservar o que é bom (cfr. 1 Tess. 5, 12. 19-21)” (LG, 12). Cabe, portanto, à hierarquia da Igreja o juízo sobre os dons na comunidade, o discernimento e também a não extinção do Espírito, conservando o que o bom e o que vem realmente de Deus.”
Fonte: Vatican News
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] HACKMANN, Geraldo B. Concílio Vaticano II. 40 anos da Lumen Gentium (Coleção Teologia 27). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005, p.95.
[2] SCHMAUS, Michael. A fé da Igreja, Volume IV, 2ª Edição, Vozes, Petrópolis, 1983, p.64.