Ideologias

Por Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica São João Maria Vianney

 

Embora tenha muitos significados, ideologia pode-se definir como um conjunto de ideias, doutrinas ou visões do mundo, no fundo falsas ou ilusórias, formando uma consciência errônea, que se reflete num modo errado de viver e agir.

Há ideias e ações corretas no começo ou em parte, que podem infelizmente se tornar ideologias. Há muitos “ismos” que podem ser bons; mas há muitos que são ideologias. Cristianismo, catolicismo, civismo, catecismo, etc. são ideias boas. Já outros “ismos” nem tanto. Dou alguns exemplos

Somos a favor da doutrina da criação do mundo, feita por Deus; mas não aderimos ao criacionismo, ideologia que defende erroneamente a interpretação literal da Bíblia como parâmetro da ciência.

Podemos reconhecer algum valor em certas análises feitas por Friedrich Engels, recolhidas por Karl Marx; mas não podemos adotar o Marxismo, ideologia baseada no materialismo e na luta de classes, bases da ideologia comunista.

Podemos aceitar certos postulados da teoria da evolução; mas não o evolucionismo, ideologia materialista que ensina a evolução total com a ausência do Criador. Engels e Marx utilizaram a teoria da evolução para propagar a ideologia materialista ateia do comunismo.

Reconhecemos que a liberdade, o livre arbítrio, é um dos mais importantes dons de Deus a nós concedido, junto com a inteligência e a vontade. Mas o liberalismo, a exaltação exagerada da liberdade, é uma ideologia malsã.

O capitalismo, quando significa a economia de mercado, ou seja, o sistema econômico que reconhece o papel fundamental e positivo da empresa, do mercado, da propriedade privada, da livre criatividade humana no setor da economia, submetido a parâmetros legais e morais, é aceitável; mas não o capitalismo, sinônimo de ganância e busca do lucro a qualquer preço, “avidez para o mero lucro econômico” (Papa Francisco), significando um sistema onde a liberdade no setor da economia se considera acima das leis morais e do respeito pela pessoa humana (cf. S. J. Paulo II, Cent. Annus, 42).

No campo religioso, aceitamos com reservas os valores do mundo moderno; mas não adotamos o modernismo, ideologia condenada por São Pio X, como negadora das verdades da Fé.

O tradicionalismo, entendido como o apego sadio à Tradição, aos valores perenes a nós transmitidos, na fidelidade ao Magistério perene da Igreja, é bom e louvável. Por exemplo, a correta conservação, em comunhão com a Igreja, do antigo rito romano da Santa Missa, um tesouro litúrgico da Igreja, que santificou muitas gerações, usado pelos santos, e onde se preserva de modo especial a dignidade do sagrado. Os que procedem assim, e são muitíssimos no mundo inteiro, merecem o nosso louvor.

Mas o tradicionalismo que que não é fiel ao Magistério da Igreja e assim não reconhece o Concílio Vaticano II como um dos Concílios Ecumênicos da Igreja Católica, nem aceita a sua doutrina “compreendida à luz da santa Tradição e referida ao perene Magistério da própria Igreja” (S. João Paulo II, 5/11/1979), levando em conta a qualificação teológica de cada documento, como foi estatuída pelo próprio Concílio (CDF 23/12/1982); que não aceita a validade do rito romano na forma atual quando celebrado corretamente; e que se considera exclusivamente como a verdadeira Igreja, transforma-se em uma ideologia perniciosa, heterodoxa e inaceitável.

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