Teve até movimento na internet pela volta da Santa Missa – “Devolvam-nos a missa” – como se a missa fosse propriedade privada. Devolver implica em restituir, entregar ao outro aquilo que, por pertença, lhe foi tirado.
A grande “bandeira cristã” da Igreja Católica é a defesa integral da vida – este princípio contém, em síntese, todas as “recomendações” feitas por Nosso Senhor Jesus Cristo e explicitadas nos quatro evangelhos. Portanto, mais vale, neste momento, a vida de cada fiel, de cada indivíduo, do que o preceito de participação na Santa Missa aos domingos.
Os pastores da Santa Igreja Católica entenderam isso muito bem – alguns fiéis, não!
Suspensão do preceito dominical
Assim como em boa parte do mundo atingido pela pandemia do novo coronavírus, a Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, por meio de decreto do bispo Dom Marco Aurélio Gubiotti, suspendeu o preceito das missas dominicais assim que as medidas preventivas já sinalizavam o fechamento das igrejas. Desta maneira, não só estaríamos resguardados das aglomerações nos templos como também isentos do pecado grave de não participar da missa dominical.
Chegamos, finalmente, ao tão esperado instante da reabertura gradual das igrejas em nossa Diocese. As que já estão abertas, e na segunda fase do protocolo de reabertura, podem receber no templo até 30 pessoas – contando-se os fiéis e a equipe litúrgica.
Agora, pasmem! Muitos que espernearam para voltar aos templos… não parecem ter pressa de participar do banquete Eucarístico. A pergunta é: por quê?
Hipocrisia? Ou ignorância?
Na Matriz Nossa Senhora da Saúde, em Itabira, a missa é celebrada diariamente e desde o fechamento das igrejas, em março, vem sendo transmitida pela internet.
Com a reabertura, a participação dos fiéis está condicionada ao agendamento prévio – por meio do qual, garante-se que o número de pessoas permitidas no templo não ultrapassará o estabelecido nos decretos diocesano e municipal.
Com uma lista de espera que já teve mais de 200 pessoas aguardando o “seu” dia de participar da celebração, é de surpreender que algumas faces tenham sido reconhecidas no templo em mais de uma Santa Missa. Surpresa maior foi saber o motivo: “a maioria das pessoas quer agendar para o domingo; quem aceita vir durante a semana, acaba tendo a oportunidade de celebrar mais vezes”.
Se o preceito dominical continua suspenso, por que a maioria dos fiéis só quer participar da missa aos domingos? Toda Santa Missa celebra o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo – não importando o dia da semana.
Vale o questionamento: diante de Jesus, neste momento, eu seria denominada hipócrita ou um dos pequeninos aos quais o Pai escolheu revelar “todas essas coisas”?
Não obstante as dificuldades particulares de cada um: quanto de esforço tenho feito para participar do banquete Eucarístico? Por que me ‘entusiasma’ apenas a participação aos domingos? Tenho verdadeiramente sentido falta de Jesus Eucarístico ou tenho na Missa um mero hábito?
Com todos os cuidados, as portas das igrejas estão reabrindo. É um bom momento para se questionar sobre alguns valores cristãos que estavam, para muitos, enterrados antes da pandemia. A participação na Santa Missa é apenas um deles – a pontualidade e compromisso com as coisas de Deus, são outros.
Também surpreende que pessoas tão desejosas de celebrarem o Mistério Pascal de Cristo não consigam chegar no horário agendado e ainda se sintam no direito de reclamar porque o portão já estava fechado.
A pandemia pode servir de crescimento ou de endurecimento. É a gente que escolhe sair mais suave ou mais duro desta experiência. Somos nós que decidimos se vamos permitir, ou não, ser convertidos pela comunhão com o Cristo Eucarístico – se aceitamos a comunhão como plenitude ou apenas como parte de um capricho habitual.
Que o Senhor nos abençoe e nos oriente para o caminho das boas escolhas.
Liliene Dante