Gallagher: a Igreja já condenava a fúria antissemita em 1919

Foto: Calendarr Brasil

Em uma mensagem em vídeo, o Secretário de Relações com os Estados do Vaticano anunciou a descoberta de uma correspondência do início do século XIX entre a Santa Sé e o Conselho dos Rabinos Askenazi de Jerusalém, que reiterava que o princípio da fraternidade não poderia ser pisoteado. Suas palavras referem-se à campanha #StopAntiSemitism, por ocasião do Dia de Memória do Holocausto que Israel comemora hoje

Melhor compreensão recíproca no plano teológico “mas também social e político”. Estes são os passos em frente registrados nos últimos anos entre a Santa Sé e o Estado de Israel identificados pelo Arcebispo Paul Gallagher, Secretário para as Relações com os Estados, como testemunha o acordo bilateral com o qual foram estabelecidas relações diplomáticas. A ocasião é do Dia do Holocausto de hoje (08/04), Yom HaShoah, que cai no 27º dia do Nissan no calendário judaico, com a campanha #StopAntiSemitism, promovida pela Embaixada de Israel junto à Santa Sé como parte do 55º aniversário da Declaração Nostra Aetate, já em andamento há alguns meses.

Um clima de paz e serenidade

No seu pronunciamento em vídeo, o prelado destacou que esse mesmo documento fomentou a relação entre o povo de Israel e a Igreja Católica, “um processo histórico de reconciliação e compreensão mútua, resultado desse mesmo diálogo do qual fala Nostra Aetate“. Um confronto, salientou Dom Gallagher, que é sempre necessário e que “deve ser aberto e respeitoso para que se torne frutífero”. “O respeito ao direito dos outros à vida e à integridade física, às liberdades fundamentais, isto é, à liberdade de consciência, de pensamento, de expressão e de religião, nos permite construir juntos um clima de paz de fraternidade, como recordado muitas vezes pelo Papa Francisco em sua encíclica Fratelli tutti“.

A condenação do antissemitismo

Nas suas palavras, Dom Gallagher reiterou “a condenação do antissemitismo em todas as formas e espécies”, já presente na Nostra Aetate. Uma condenação “que não surgiu de repente”, explicou, mas que é “fruto de atitudes amadurecidas no decorrer dos anos anteriores”. Reforçando este pensamento, foi a descoberta de “uma pequena pérola” no arquivo histórico da seção de Relações com os Estados da Secretaria de Estado. É uma correspondência de 1919 entre o Conselho dos Rabinos Askenazi de Jerusalém e a Santa Sé, o Conselho pedia ajuda a Bento XV para que usasse “toda sua influência e força espiritual para pôr fim a atos de intolerância e medidas antissemitas”, dos quais eram vítimas as comunidades judaicas da Europa Oriental.

Fraternidade a não ser pisoteada

Assim “já em 1919, dentro destes nossos muros, circulava – explicou Dom Gallagher – a firme convicção de que o princípio da fraternidade não poderia ser pisoteado pela fúria antissemita e se esperava que o direito à religião fosse respeitado”. Para o prelado, o que foi relatado é um exemplo “de uma gota d’água no mar” que deixa claro que não se podia “tolerar qualquer forma de antissemitismo” e que era necessário trabalhar para contrastá-lo. Uma ação marcante como a tomada pelo então núncio apostólico na Hungria, Dom Angelo Rotta, reconhecido como “Justo entre as Nações” por Yad Vashem por seus esforços para salvar os judeus do Holocausto. Um trabalho meticuloso e cuidadoso que foi possível – salientou Gallagher – graças também à ajuda de Dom Gennaro Verolino.

Fonte: Vatican News – Benedetta Capelli

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