A primeira solicitação do Papa às famílias é que “vivam a gratuidade do amor”, tema sobre o qual se desenvolve a exortação pós-sinodal Amoris laetitia, que em português se traduz exatamente “A alegria do amor”.
Fr. Darlei Zanon, – Religioso Paulino
Nesta semana o Papa Francisco apresentou, através do já tradicional vídeo do mês, a sua intenção de oração pelas famílias. Depois de rezar especificamente pelos jovens (maio), e na espera de colocar os idosos no centro das suas orações (julho), este mês o Papa nos convida a rezar por toda a família e por todas as famílias, “para que com gestos concretos vivam a gratuidade do amor e a santidade na vida quotidiana”.
Trata-se de uma intenção muito concreta e objetiva, para a qual o próprio Papa já deu diversas indicações, sobretudo nas suas exortações apostólicas Amoris laetitia (2016) e Gaudete et exsultate (2018). De fato, os dois pedidos específicos do Papa na sua intenção de oração deste mês se alicerçam nessas duas exortações. De que modo?
A primeira solicitação do Papa às famílias é que “vivam a gratuidade do amor”, tema sobre o qual se desenvolve a exortação pós-sinodal Amoris laetitia, que em português se traduz exatamente “A alegria do amor”. Este documento, dividido em nove capítulos e cerca de 300 parágrafos, apresenta as reflexões do Papa Francisco após o Sínodo dos Bispos sobre a Família, realizado em duas etapas: outubro de 2014 e outubro de 2015. Como linha condutora de todo o texto do Santo Padre está o amor, que é colocado acima de qualquer norma, pois é ele que dá fecundidade à família. Diversas vezes o Papa insiste que devemos superar a esterilidade para gerar vida nova no amor. Com isso reforça e ressalta a importância do matrimônio e da família sobretudo nos tempos sombrios e adversos pelos quais passamos.
No 6º parágrafo da exortação o próprio Papa sintetiza o conteúdo de todo o documento, desse modo: “No desenvolvimento do texto, começarei por uma abertura inspirada na Sagrada Escritura, que lhe dê o tom adequado. A partir disso, considerarei a situação atual das famílias, para manter os pés assentes na terra. Depois lembrarei alguns elementos essenciais da doutrina da Igreja sobre o matrimônio e a família, seguindo-se os dois capítulos centrais, dedicados ao amor. Em seguida destacarei alguns caminhos pastorais que nos levem a construir famílias sólidas e fecundas segundo o plano de Deus, e dedicarei um capítulo à educação dos filhos. Depois deter-me-ei sobre um convite à misericórdia e ao discernimento pastoral perante situações que não correspondem plenamente ao que o Senhor nos propõe; e, finalmente, traçarei breves linhas de espiritualidade familiar.”
Além de citar constantemente os relatórios conclusivos do Sínodo, o Santo Padre recorda algumas de suas catequeses, além de pronunciamentos de seus antecessores e de diversas Conferências episcopais de todo o mundo, reforçando assim o seu espírito sinodal. O aspecto da “gratuidade” do amor, mencionado na intenção de oração deste mês, é ilustrado na Amoris laetitia a partir do filme “A Festa de Babette”. Vale a pena reler o número 129 para aprofundar este conceito de gratuidade que o Papa enfatiza.
A segunda solicitação de Francisco às famílias é que “vivam a santidade na vida quotidiana”, e aqui devemos retomar a exortação Gaudete et exsultate, exatamente sobre “a chamada à santidade no mundo atual”. A família de Nazaré é apresentada como modelo de santidade na cotidianidade, mas são enormes os exemplos e “dicas” do Papa para que possamos viver a santidade na simplicidade do nosso lar, nos nossos relacionamentos, no nosso dia a dia, concreto e palpável. Ser santo não é algo mágico ou distante, sublinha o Papa, mas é uma vocação à qual todo batizado é chamado. Todos devemos procurar “encarnar a santidade no contexto atual, com os seus riscos, desafios e oportunidades, porque o Senhor escolheu cada um de nós para ser santo e irrepreensível na sua presença, no amor” (GE n. 2). As bem-aventuranças (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6,20-23) revelam a essência da santidade cotidiana, por isso se tornam linha guia para todos nós. Nas palavras do Papa, as bem-aventuranças “são como que o bilhete de identidade do cristão” porque “nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida” (GE n. 63).
Recordar e revalorizar estas duas exortações apostólicas certamente nos ajudará a responder melhor ao pedido feito pelo Papa Francisco no seu vídeo deste mês de junho, mas sobretudo ajudará todas as famílias a viverem melhor a própria vocação ao amor e a encontrar “gestos concretos” para expressar este amor.
Fonte: Vatican News