Cada símbolo e gesto, dentro do âmbito litúrgico, expressa algo que vai além do que se visualiza, realidades de fé capazes de levar-nos mais facilmente à comunhão com Deus.
No decorrer da história da Igreja e na evolução da compreensão litúrgica, os sinais e gestos foram sendo, alguns reafirmados e outros incorporados no contexto litúrgico. Vejamos agora alguns deles:
ÁGUA: Símbolo da vida e de purificação. Presente desde a criação do mundo (Gn 1, 1). Por ela morremos para o pecado e ressurgimos para a vida em Cristo. Remete-nos ao batismo. É também chamada de Sacramental (sinal presente no Sacramento). A água é um símbolo presente no batismo, no rito da aspersão, nas bênçãos, na Celebração Eucarística, etc.
ÓLEO: Símbolo da eleição divina e da fortaleza de Deus. Os escolhidos por Deus eram ungidos (recebiam a força de Deus) para atuar em favor do povo (Rei Saul – 1 Sm 9,10; Rei Davi – 2 Sm 2,4). Também os enfermos devem receber a unção com o óleo (Tg 5, 14). O óleo é utilizado nos sacramentos do batismo, crisma, ordem e unção dos enfermos.
PALAVRA: Para o povo de Israel a Palavra era o sinal da presença de Deus no meio da comunidade. Segundo o evangelista João, Jesus é o logos criador (Palavra de Deus encarnada) pela qual o mundo foi criado (Jo 1, 1ss). Assim, o cristianismo, com o passar do tempo, incorpora a Revelação de Jesus, através dos Evangelhos e das Cartas, como Palavra de Deus, formando e constituindo a Sagrada Escritura que hoje conhecemos. A Palavra é proclamada em todas as celebrações litúrgicas e reuniões da comunidade cristã.
PÃO: Alimento corporal e símbolo visível do alimento espiritual (Corpo de Cristo). Remete-nos à partilha, à doação e ao serviço (preparar do pão). Jesus, na última Ceia, tomou o pão e partiu-o entre seus discípulos, alimentando-os corporalmente e espiritualmente. Jesus se utiliza desse símbolo para perpetuar sua presença real entre nós (sacramento da Eucaristia).
VINHO: Assim como Jesus, que foi crucificado, morto e ressuscitou no terceiro dia, a videira (plantação de uva) também remete seu ciclo de vida a uma simbologia do sagrado: ela perde sua folhagem e hiberna no inverno — como se estivesse morta — e renasce na primavera para dar o fruto que será fermentado e transformado em vinho. Pela nossa fé, o vinho, durante a ação litúrgica, se transforma no próprio sangue de Jesus Cristo, bebida que nos alimenta espiritualmente.
INCENSO: O queimar incenso ou a incensação exprime reverência e oração, como vem significado na Sagrada Escritura (cf. Salmo 140, 2; Ap 8,3). Através da fumaça que sobe até Deus, nossos pedidos são também acolhidos por Deus. O perfume nos remete ao “bom odor”, ou à sensação agradável da pertença a Cristo.
VELA: As velas na celebração significam a alegria e a festa, mas também a presença do mistério que se manifestou a Moisés como “sarça ardente” (Ex 3,2). A vela nos simboliza no sentido de que estamos diante do mistério que nos ilumina e nos consome, transformando-nos. O símbolo da luz nos diz: Cristo é luz e vida, proximidade, felicidade, festa, amor…
CRUZ: O símbolo da cruz demonstra o caminho do cristão e não o seu horizonte; no horizonte está a Ressurreição, mas antes vem a cruz, por isso a sua importância. A cruz é o grande símbolo cristão. Em uma celebração ela deverá sempre trazer a imagem do crucificado (Jesus Cristo), para que ao olharmos para ele possamos compreender seu projeto de salvação da humanidade.
CÍRIO PASCAL: O Círio Pascal, que é imagem de Cristo ressuscitado, não equivale às velas, e por isso não se pode substituir as velas pelo Círio Pascal. O Círio Pascal deve ser aceso na Vigília da Páscoa e durante o Tempo Pascal. Deve ser colocado ao lado do ambão, sinalizando a presença do Ressuscitado que dali é anunciado à assembleia orante. Após o Tempo Pascal deve ser colocado ao lado da pia batismal.
O Círio Pascal deve ser preparado e aceso na Vigília Pascal. Ao acendê-lo pela primeira vez, o padre pronuncia as seguintes palavras: “a luz do Cristo que ressuscita resplandecente dissipe as trevas do nosso coração e da nossa mente”. Ele nos recorda a importância de vivermos iluminados pelo Ressuscitado.
Além desses principais símbolos, acima destacados, a liturgia também se faz mediante os gestos que a assembleia celebrante realiza. Assim, seja ao recitarmos uma oração, ou ainda, ao ouvirmos a Palavra de Deus, precisamos estar dispostos (com o corpo) àquilo que elaboramos em nossa mente e pronunciamos com nossos lábios. Vejamos:
ESTAR EM PÉ: para louvar, cantar. É atitude de estar atento para acolher e participar e exprime a dimensão sacerdotal do povo de Deus.
AJOELHAR-SE: e súplica, de humildade e também de penitência. Na celebração é atitude de adoração Eucarística ajoelha-se durante a consagração.
CAMINHAR: deslocar-se em procissão como, por exemplo, para comungar, ou para iniciar o rito. É expressão do Povo de Deus peregrino que caminha para a Jerusalém Celeste, a realização plena do Reino de Deus.
SENTAR-SE: para ouvir, acolher e meditar a Palavra. É a atitude do discípulo (a) que ouve e atende ao apelo do mestre.
LEVANTAR AS MÃOS: atitude que imita Cristo na Cruz, súplica, louvor, pedido de perdão e de bênção.
APLAUDIR: com moderação indica aprovação e alegria. Nos tempos litúrgicos marcados pela penitência (Advento e Quaresma) deve-se evitar os aplausos.
SILÊNCIO: é também um gesto corporal e uma atitude litúrgica; deve ser observado antes da celebração para que todos se disponham bem a celebrar, e também nos momentos celebrativos prescritos (após as leituras e, em especial, após a homilia).
Vale ressaltar que os gestos e sinais humanos, quando realizados, vividos e compreendidos de forma harmoniosa e na inteireza do ser humano, com o que se pronuncia e se expressa, são capazes de nos levar à verdadeira comunhão com Deus. Se pensarmos neles isoladamente não terão tanto sentido, porém, dentro de um contexto oracional eles tornam verdadeiros “canais” que nos ligam ao sagrado.
Por fim, vale lembrar que, além dos gestos e símbolos, também há a experiência com o Ressuscitado, que jamais poderá ser esquecida. Sem ela, nosso rito torna-se um mero cumprimento de preceito e não produz fruto nenhum em nós. Podemos até fazer celebrações maravilhosas, porém, sem a experiência de fé, de nada valeriam aos olhos de Deus. A experiência com o Ressuscitado nos impulsiona e nos garante o sentido de todas as coisas.
Texto: Site Diocese de Amparo
Foto: Vatican Media