Por Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo/RS
Com o Rito das Cinzas, na quarta-feira, os católicos entraram na Quaresma. É tempo de preparação para a Páscoa e tempo de conversão, penitência e revisão de vida. A Igreja, como mãe e mestra, chama os seus membros a renovar-se no espírito, a orientar-se para Deus e renegar o que impede de viver no amor. É um tempo favorável para redescobrir a fé em Deus, como critério fundamental da nossa vida e da vida da Igreja. O Deus no qual se tem fé não é um Deus abstrato, fruto da imaginação e da fantasia, mas um Deus que se manifesta na história e nos fatos como atesta a liturgia do primeiro domingo da quaresma (Deuteronômio 26, 4-10, Salmo 90, Romanos 10,8-13, Lucas 4,1-13). Uma fé que nasce da Escritura professada pela boca e com o coração.
Fazemos a quaresma com Campanha da Fraternidade. Fraternidade e Educação é o grande tema deste ano. Ele nos lembra que todas as pessoas humanas, do nascimento até a morte, são educadas e educadoras. Todos os ambientes são educativos. Porém, alguns ambientes assumem esta missão por direito e dever começando pela família, a escola, a Igreja e a sociedade nas suas múltiplas organizações. Na visão cristã, o educador por excelência é Jesus Cristo que “fala com sabedoria e ensina com amor” como diz o lema para a Campanha da Fraternidade.
Três ensinamentos de Jesus marcam a liturgia dominical. Jesus cheio do Espírito Santo sofre a oposição do espírito do mal, do tentador. São tentações para falsificarem a sua imagem e o desviarem da missão. As tentações também procuram deformar a imagem da pessoa humana. As respostas de Jesus impedem que se forme uma imagem deformada de Deus e uma visão parcial do ser humano.
A primeira resposta cheia de sabedoria é “Não só de pão vive o homem”. O ensinamento é uma resposta ao tentador de reduzir a vida humana à mera dimensão material onde tudo se explicaria pela ordem econômica e pela produção de bens materiais. Numa visão reducionista o filósofo Ludwig Feuerbach afirmou que o “homem é o que ele come”. A resposta de Jesus não nega a dimensão material da vida, mas também afirma que não se vive “só de pão”.
A segunda tentação refere-se ao poder ilimitado de dominar nações e povos e expandir os territórios. É a proposta de considerar um humano digno de adoração e fazer dele uma divindade. A história da humanidade, passada e presente, convive com personagens que se consideram divindades e por isso autorizadas a invadirem países vizinhos. A resposta de Jesus é clara: “Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás”. A resposta de Jesus lembra que os humanos são limitados, frágeis e não divindades. E quando alguns se consideram divindades e exigem adoração, depois de matarem muito, fazerem muitos sofrerem e causarem grande destruição entram na história pela sua maldade.
O terceiro ensinamento cheio de amor de Jesus é sobre a dimensão transcendente ou religiosa do ser humano. “Não tentarás o Senhor teu Deus”. A relação com Deus deve ser de confiança e filial. Não pode ser uma relação de desafio e nem querer que Deus intervenha para realizar caprichos humanos ou a instrumentalizar Deus para os próprios interesses.
O caminho quaresmal rumo à Páscoa é um tempo favorável de discernimento e de aprofundamento da compreensão de Deus e do ser humano.
Fonte: CNBB