Névoas que matam…
Encontrava-me já há alguns anos em Roma, quando uma manhã recebemos uma notícia chocante. Um acidente causara a morte de um excelente colega, um sacerdote inglês chamado Philip.
Estando na Irlanda, durante uns dias de formação mais intensa – a formação permanente de que todo padre precisa –, father Philip aproveitou um intervalo de descanso para dar, com um companheiro de curso, um passeio pelo campo contíguo à casa, um pasto verde, ondulado, típico das terras da Irlanda.
Inopinadamente baixou uma névoa forte, que se foi adensando, de modo que os dois colegas mal conseguiam ver-se, embora continuassem a andar e conversar. Devagar, confiando no terreno conhecido, foram dando a volta para regressar. Num dado momento, porém, o colega percebeu que father Philip não respondia. Estranhou, chamou-o várias vezes. Silêncio. Correu o mais que pôde, naquela escuridão, para pedir ajuda e acabaram por encontrá-lo. Escorregara, sem perceber nem fazer barulho, e despencara num barranco escarpado, que a névoa lhe ocultava. Acharam-no morto. Deus sabia que era a hora de tomá-lo para sempre em seus braços.
Lembrei-me do bom father Philip, pensando que, se a neblina já causou mortes físicas, causa ainda mais mortes espirituais.
O mundo atual anda confuso. A verdade e os valores estão ocultos as olhos de muitos, como se uma forte cerração os envolvesse. Tudo parece difuso, impreciso, discutível, sem contornos claros, balançando na dúvida. Há verdades mutiladas que andam de braço dado com erros (meio Cristianismo, meio espiritismo, meio esoterismo, meio hinduísmo, meio ateísmo). Há valores morais transtornados, como a glorificação pública do aborto e o ataque ao casamento estável, que deixam esbatidas e cada vez menos perceptíveis as fronteiras entre o bem e o mal.
Ao constatar, entre jovens e velhos, essas confusões que grassam no terreno adubado da ignorância religiosa e dos erros morais predominantes, vem desejos de gritar-lhes: “Vocês não veem que não é possível ter bom rumo na vida com neblina, com escuridão ética e religiosa em vez de luz na alma?”.
Aquele meu colega, por causa da névoa, despencou sozinho num barranco mortal. Os pais, os educadores e os pastores de almas desorientados, impregnados de equívocos e lacunas, nunca vão despencar sozinhos: arrastarão atrás de si os filhos, os alunos, os fiéis cristãos que Deus lhes confiou.
Que Deus nos ajude a compreender e transmitir a outros a necessidade vital de adquirir e assimilar a verdadeira “doutrina católica”, as verdades eternas da fé e a moral cristã.
Adaptação de um trecho do nosso livro A força do exemplo – Padre Francisco Faus