A festa em honra à Santa Cruz é celebrada neste sábado (14/09) para meditar sobre o símbolo da nossa fé. O bispo diocesano de Juína – MT, dom Neri José Tondello, assina artigo com reflexão sobre a esperança que nasce da cruz de Jesus: o sinal feito pela manhã pede proteção pelo novo dia; à noite, é de gratidão pela jornada. “Ao fazer o Sinal da Santa Cruz, o cristão sente-se protegido por uma bênção traçada sobre seu corpo em forma orante: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.”
Por Dom Neri José Tondello
Bispo Diocesano de Juína (MT)
A Igreja exalta a Santa Cruz, como “sinal do mais terrível entre os suplícios, é para o cristão a árvore da vida, o tálamo, o trono, o altar na nova aliança. De Cristo, novo Adão adormecido na cruz, jorrou o admirável sacramento de toda a Igreja. A cruz é o sinal do senhorio de Cristo sobre os que, no Batismo, são configurados a ele na morte e na glória (cf. Rm 6,5). Na tradição dos Padres, a cruz é o sinal do Filho do Homem que comparecerá no fim dos tempos (cf. Mt 24,30). A festa da Exaltação da Cruz, que no Oriente é comparada Àquela da Páscoa, relaciona-se com a dedicação das basílicas constantinianas construídas no Gólgota e sobre o sepulcro de Cristo” (Missal Romano, Festa da Exaltação da Santa Cruz, 800p)
Na vida cristã, automaticamente ao levantarmos pela manhã, o nosso dia começa com o Sinal da Santa Cruz. Assim, pedimos que a Cruz de Jesus nos proteja durante todo o novo dia e em todas as nossas atividades. Ao dormir, da mesma forma, o cristão conclui a jornada de vida e labor com a bênção do Sinal da Cruz como sinal de gratidão a Deus Trindade. Ao fazer o Sinal da Santa Cruz, o cristão sente-se protegido por uma bênção traçada sobre seu corpo em forma orante: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém. Se, a cruz é libertadora e redentora, também a cruz representa os tantos crucificados que, como Jesus, esperam que os tiremos da cruz do abandono, da indiferença, do descaso e da morte certa. “É preciso tirar os crucificados da cruz”, diz também Jhon Sobrino.
Crucificados pelo pecado do mundo, pecado da injustiça, falta de educação de qualidade para todos. Muitos não têm acesso à saúde. Muitos morrem antes de chegar ao primeiro socorro. Muita cruz, também pesa sobre os ameaçados pela ação de despejo da terra. A cruz sobre aqueles que sofrem por não saberem onde vão dormir amanhã. “Onde vão dormir os pobres” crucificados sem casa e sem trabalho? A Cruz de Jesus não pode esquecer as vítimas do racismo e as vítimas da violência doméstica. Tamanha é a cruz dos dependentes químicos. Mas, a cruz dos sem fé e sem religião pode ser ainda maior. A cruz dos sem Cruz. A cruz pesada que carrega o Pantanal e a Amazônia pelas chamas criminosas da destruição. A Casa de todos, Casa Comum, está queimando. Os rios estão morrendo. A cruz do planeta todo sofre o pecado do descaso. A natureza perdeu o caráter sagrado. A Tecnologia a domesticou e a tem subordinado à mão humana a ação violenta contra a natureza, tirando a sua espiritualidade para esgotar todo poder econômico possível. Aquilo que era, no princípio, um Jardim para todos, está ladeira abaixo aumentando as temperaturas, ameaçando cidades, desequilibrando a biodiversidade, pondo em risco todo o tecido da vida no planeta.
Contudo, e apesar de tudo, a esperança, nasce da Cruz de Jesus, porque morreu nela para que fosse Cruz salvadora, não mais a Cruz do sinal opróbrio da morte. Isto é, morreu nela, para dar-nos toda a vida em nova árvore verdejante, oxigênio imprescindível – porque, “somos filhos das folhas”. Os povos originários ainda conservam em muito a espiritualidade na sua relação de amizade e cuidado com a natureza. Sabem-se e sentem-se natureza. Por outra parte, o divórcio de profanação da natureza permitiu uma união adúltera sem escrúpulo. O Sinal da Santa Cruz, por si e em si, é semáforo dos limites que se deve impor às forças ocultas e visíveis do mal, do ódio e da raiva, contra Deus, contra o mundo e contra a pessoa humana. Toda vez que avistamos uma cruz, damo-nos conta de que o mal e a morte foram vencidos por Jesus, que diz: “Eu venci o mundo”, que quer dizer: vencer as forças malignas da destruição violenta e todas as causas e formas que levam à morte, ou seja, impõe limites ao mal.
“Pusestes, no lenho da cruz, a salvação do gênero humano para que, onde a morte teve origem, aí a vida ressurgisse; e o que venceu na árvore do paraíso, na árvore da cruz fosse vencido, por Cristo, Senhor nosso” (Prefácio à Vitória da Cruz Gloriosa).
Fonte: Vatican News