Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém – PA
Introdução
Neste ano a Igreja do Brasil é chamada a renovar a sua atenção para com a educação. Temos dois fortes motivos que nos convidam a essa atitude. De um lado, temos a Campanha da Fraternidade deste ano que terá como tema “Educação e Fraternidade” e lema, “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26). O segundo grande motivo que temos para renovar a nossa atenção para com a educação é o aprofundamento do “Pacto Educativo Global” lançado pelo Papa Francisco.
Nestas últimas décadas houve uma forte diminuição das escolas católicas no Brasil. Diversos motivos estão proporcionando essa mudança, tais como: a melhoria da educação escolar no Brasil por parte do governo que significa o fim do serviço suplente das congregações, a diminuição da população estudantil, a crise vocacional das congregações religiosas, o redimensionamento das presenças das congregações na vida da sociedade.
Todavia, isso não significa que a Igreja deixará de atuar futuramente no campo da educação. O mundo da educação vai muito além das atividades técnicas e pedagógicas de uma escola.
- A missão da Igreja
A missão da Igreja é evangelizar, ou seja, apresentar a pessoa de Jesus Cristo ao mundo. Mas isso não acontece sem um processo de educação. Desse modo, há uma íntima relação entre evangelizar e educar. A vivência dos valores evangélicos não é automática; o primeiro anúncio, que é a apresentação das informações fundamentais sobre a pessoa de Jesus Cristo (o kerígma), deve ser assimilado através de um processo educativo para que possa ser vivido e testemunhado. A catequese é o processo educativo da fé que conduz o fiel a crescer em todas as dimensões, que na sua plenitude, é a maturidade de Cristo (cf. Ef 4,13).
Não há verdadeiro testemunho de Jesus Cristo sem educação pessoal e comunitária; a fé cristã comporta a assimilação de novos horizontes para a dimensão intelectual, afetiva e moral do fiel. A educação é também uma exigência que brota da fé.
Dessa forma, a evangelização, pressupõe um processo de continuidade através da educação da fé. Lá onde a evangelização não estimula o processo de educação seguindo o dinamismo da fé a mesma fica reduzida a ideias abstratas, ao culto sem vida e sem impacto positivo na vida concreta das pessoas. A educação da fé exige o desenvolvimento humano integral inspirado pela vida de Jesus Cristo.
- O Concílio Vaticano Il e a Educação
Com a declaração “Gravissimum educationis” do Concílio Ecumênico Vaticano II, a Igreja reconheceu a importância da educação para a vida da pessoa e da sociedade. A educação contribui decisivamente para o progresso social; é um bem necessário para o desenvolvimento humano reconhecido pela Igreja.
O referido documento ressalta a importância da presença da Igreja no mundo da educação. “Os homens, mais plenamente conscientes da própria dignidade e do próprio dever, anseiam por tomar parte cada vez mais ativamente na vida social, sobretudo, na vida econômica e política; os admiráveis progressos da técnica e da investigação científica e os novos meios de comunicação social dão aos homens a oportunidade de, gozando por vezes de mais tempo livre, conseguirem mais facilmente a cultura intelectual e moral e de mutuamente se aperfeiçoarem…” (GE,1).
A constituição pastoral “Gaudium et spes”, sobre a Igreja e sua relação com o mundo contemporâneo, afirma que “é próprio da pessoa humana necessitar da cultura, isto é, de desenvolver os bens e valores da natureza, para chegar a uma autêntica e plena realização. Por isso, sempre que se trata da vida humana, natureza e cultura encontram-se intimamente ligadas”… A palavra «cultura» indica, em geral, todas as coisas por meio das quais o homem apura e desenvolve as múltiplas capacidades do seu espírito e do seu corpo; se esforça por dominar, pelo estudo e pelo trabalho, o próprio mundo; torna mais humana, com o progresso dos costumes e das instituições, a vida social, quer na família quer na comunidade civil; e, finalmente, no decorrer do tempo, exprime, comunica aos outros e conserva nas suas obras, para que sejam de proveito a muitos e até à inteira humanidade, as suas grandes experiências espirituais e as suas aspirações” (GE,53).
A cultura, que implica mentalidade e modo de organização da sociedade, é produto da educação. A educação gera cultura. A mudança cultural, da mesma forma é consequência de um profundo processo educativo em diversos níveis.
O Concílio Vaticano II reconheceu a educação como meio eficaz e imprescindível para promover um mundo novo gerando diferentes modos de uso e relação com as coisas, de trabalhar e de se exprimir, de praticar a religião, de formar os costumes, de estabelecer leis e instituições jurídicas, de desenvolver as ciências e as artes e de cultivar a beleza, de formar estilos de vida e escalas de valores (cf. GS,53).
A educação integral contribui decisivamente para a promoção da unidade do gênero humano porque estimula o autêntico aprimoramento do ser sujeito, levando a compreender as exigências profundas da sua vocação, seus limites e possibilidades favorecendo a experiência do verdadeiro sentido da sua autonomia e responsabilidade como ser capaz de promover a justiça, a fraternidade e a paz. A educação é capaz de promover um “novo humanismo” no qual o homem se define, antes de tudo, pela sua responsabilidade com relação aos seus irmãos e à história (cf. GS,54-55).
- Educar e evangelizar
Esse dinamismo da educação que se faz presente na totalidade da vida da sociedade, acolhe a evangelização e, esta por sua vez, a assume inteiramente. Há uma íntima relação entre evangelizar e educar, daí brota a importância da promoção da pastoral da educação.
A pastoral da educação é a ação evangelizadora da Igreja no mundo da educação. “A Igreja evangeliza educando e educa evangelizando”. Não se pode pensar num processo de evangelização e de transformação da sociedade que não leve em conta o desenvolvimento humano integral. A Igreja tem uma grave contribuição em relação a esse campo de missão.
A presença da Igreja no mundo da educação, não é de caráter administrativo, técnico, científico ou instrutivo, mas basicamente ético, moral e espiritual. Essas são dimensões fundamentais do ser humano. A Igreja defende e promove a educação como promoção integral do desenvolvimento humano, ou seja, que leva em conta a totalidade das potencialidades e dimensões da pessoa. Não é digno do ser humano, um modelo de educação reducionista, tecnicista, economicista, conteudista… porque gera desequilíbrio na pessoa.
A preocupação da Igreja para com a educação está baseada na sensibilidade de Jesus. Ele não foi um mero pregador de temas religiosos, mas se interessou pela promoção integral da vida das pessoas, assim disse: “eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Por onde passava, Jesus educava! Era aberto às instituições do seu tempo, conversava com as autoridades, estava disponível.
Jesus é o mestre da dignidade humana, da promoção humana integral: soube acolher as pessoas, tinha um qualificado relacionamento com elas, sabia perceber necessidades, identificava suas potencialidades, era firme e delicado nas intervenções, promoveu e defendeu os injustiçados, ensinou, educou para a vida, se opôs aqueles que usavam do conhecimento e das competências que tinham para manipular as pessoas; Jesus foi um educador, passou a sua vida promovendo as pessoas!
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
- Por que a educação é importante para a Igreja?
- Por que a educação de inspiração cristã é capaz de gerar a renovação positiva da sociedade?
- Por que a educação reducionista, tecnicista, economicista, conteudista… gera desequilíbrio na pessoa?