Por Frei Almir Guimarães
Estamos novamente com Marcos. Breve, sucinto sem muitos desdobramentos. Começa a hora dos discípulos. Foram formados para irem pelo mundo. Esse ir nunca foi tão importante como em nossos dia. Uma Igreja e saída… dirigindo-se às periferias existenciais… sem medo. Nós que convivemos com o Mestre sentimos uma obrigação de amor de dirigirmo-nos aos homens e mulheres de nosso tempo. Nossas comunidades paroquiais fazem o que podem para serem significativas para os que estão fora. Pode ser que estejamos pensando ainda que nossa “força” de influenciar consiga resultados. O mundo está fora do alcance de nossas práticas. É hora de ir…É hora de criar novos modos de ir.
♦ Segundo Marcos Jesus permitia que ao irem pelo mundo os discípulos levassem um bastão para a caminhada, objeto quase imprescindível para defesa pessoal, sandálias sem as quais se feririam os pés nos caminhos pedregosos. O que interessa a Jesus é o espírito de simplicidade e de renuncia. Os apóstolos deverão postergar tudo o que não lhes é estritamente necessário: sacola, cinturão, duas túnicas, dinheiro. Chegando a um lugar que procurassem logo acomodação, evitando de ir de casa e casa a fim de não abusar da hospitalidade. Seja seu principal intento pregar a salvação A renúncia a todas as coisas supérfluas acentuará sua mensagem: a salvação de Deus vai aos pobres, mas exige a um tempo fé e conversão. Quem não receber os missionários fica excluído da salvação. Em sinal de que os missionários nada têm em comum com tais localidades, sacudam contra elas até o pó de seus pés. Apesar de sua pobreza exterior, os embaixadores de Cristo estão revestidos de poder e dignidade
♦ Ir pelo mundo… buscar as pessoas… como encontra-las? Onde reuni-las? Como atingir o seu íntimo e constatar que entraram num processo de conversão, que se revestem de Cristo, das cores do Sermão da Montanha, que estão num sério propósito viver humanamente e estarem se abrindo a Alguém que as ama… como? onde?
♦ Antes de mais anda nossas paróquias precisam ser espaços de acolhida, de diálogo, locais abertos e não somente cuidar de sacramentos. Locais de encontro de oração, de fóruns, de liturgias belas, sem “rubricismos” e firulas, lugar de reflexão onde se conversa abertamente sobre todas as questões do homem e da sociedade, onde se fala na verdade sem retóricas ultrapassadas. Suas portas não podem ser fechadas muito cedo nem apressadamente. As pessoas têm seus horários. A reforma de nossas paróquias comporta um ir pelo mundo, estar à disposição de todos, mesmo que não nos desloquemos fisicamente.
♦ A criação de pequenas comunidade é indispensável. Grupos que se reúnam frequentemente. O estilo das comunidades de base deveria ser proposto novamente. Não esquecer que o Ressuscitado se faz presente quando pessoas se reúnem em seu nome. Pequenos grupos onde se faz a experiência do amor fraterno, onde somos conhecidos pelo nosso nome, grupos da ajuda e onde se poderia regularmente rezar e celebrar a Eucaristia. Grupos de casais e de famílias, grupo dos catequistas. Mas atenção nada de “panelas”. De quando em vez uma reunião de todos numa noite ou tarde, com música, alegria e a partilha coisas gostosas. Todos saindo e perguntando quando será o próximo encontro. Imprimir em tudo simplicidade e verdade, não deixar que alguns monopolizem tudo. Não exagerar no tempo de duração dos encontros. Bom senso.
♦ Não se pode limitar o ir pelo mundo ao quadro paroquial. Há que inventar meio e modos de estar mais perto dos pobres envergonhados, de criar mecanismos de reunião dos jovens para além de encontros com violão. Os movimentos precisarão rever seus objetivos Eles existem em benefício da evangelização. Não são elite da Igreja. Vivendo seu carisma que estejam perto dos sem teto, nos que estão sob o ponto do suicídio, dos que buscam uma mão para sair de um atoleiro.
♦ Ir pelo mundo…abrir os olhos. O conhecido e o antigo método da Ação Católica pode nos ajudar: ver, julgar e agir. Examinar os dramas do mundo e, devagar e discretamente, dar nossa colaboração em grupo, dois a dois e não dar tiros de livre atiradores. Ver…casamentos frágeis, juventude sem critérios de discernimento, insolidariedade, cristianismo superficial e emocional, indiferentismo, publicidade que corrói. Ver e reagir dentro de nossas limitações.
♦ Reavivar o dinamismo da compaixão. Vejamos o que os diz José Antonio Pagola: “A partir de sua experiência radical de compaixão, Jesus introduz na história um princípio decisivo de ação: “Sede compassivo como vosso Pai é compassivo”. A compaixão é a força que pode mover a história para um futuro mais humano, A compaixão ativa e solidária é a grande lei da dinâmica do reino. A lei que nos levará a reagir diante do clamor dos que sofrem e mobilizar-nos para construir um mundo mais fraterno. É esta a grande herança de Jesus que nós cristãos precisamos recuperar hoje em nossas paróquias e comunidades” (Pagola, Voltar a Jesus, p 76).
Estado de missão
Espero que todas as comunidades se esforcem por usar os meios necessários para avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária que não pode deixar as coisas como estão. Nesse momento não nos serve uma ‘simples administração’ . Constituamo-nos em estado permanente de missão em todas as regiões da terra
Papa Francisco, “A alegria do Evangelho”, 25
Oração
Não tens mãos
Jesus, não tens mãos.
Tens apenas as nossas mãos para construir um mundo
onde habite a justiça.
Jesus, não tens pés.
Tens apenas os nossos pés para por em marcha
a liberdade e o amor.
Jesus não tens lábios.
Tens apenas os nossos lábios para anunciar aos pobres
o reino de Deus.
Jesus não tens meios.
Tens apenas a nossa ação para fazer com que homens e mulheres sejam irmãos.
Jesus, nós somos o teu Evangelho, o único Evangelho que as pessoas podem ler para acolher teu reino.
(Anônimo)
Fonte: Franciscanos
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.