Escuta e diálogo

Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Por Frei Clarêncio Neotti

 

Jesus tinha poderes divinos e, portanto, podia curar o surdo. No entanto, “eleva os olhos para o céu” (v. 34), como fizera antes do milagre da multiplicação dos pães (Me 6,41), para significar que toda a força vem do alto, do Pai, origem de todos os bens. Saliva, língua, mão, doença, são coisas e fatos reais. Coisas físicas, diríamos. Jesus une maravilhosamente a realidade ao espiritual, a criatura necessitada e fragilizada ao Criador sempre desejoso de repartir seus dons. Todos nós, ainda que batizados, trazemos um pouco do surdo de hoje, quando não sabemos ligar as realidades terrenas a Deus, Sumo Bem e fonte de toda a vida.

Observe-se ainda que primeiro se lhe abrem os ouvidos, depois o mudo começa a falar. Isso não é por acaso. Na prática, uma criança primeiro escuta, depois aprende a falar. Acontece na caminhada da fé a mesma coisa. Primeiro devemos escutar (lembremos mais uma vez que ‘escutar’, na Bíblia, tem mais o sentido de ‘pôr em prática’, ‘encarnar, ‘vivenciar’, do que ouvir fisicamente com os ouvidos). Só pode proclamar a alegria da fé quem a vive. Se falo de Deus, sem havê-lo escutado primeiro, certamente estarei falando de mim mesmo. Aliás, quem não sabe escutar não sabe dialogar.

A frase dita pelo povo: “Fez bem todas as coisas” (v. 37) evoca o texto do Gênesis, ao criar Deus o homem: “Deus viu tudo quanto havia feito e achou que estava muito bom” (Gn 1,31). O homem curado por Jesus, que escuta a palavra de Deus e a proclama, fazendo comunhão com Deus e com a comunidade, é a criatura elevada novamente àquela dignidade primitiva, antes do pecado. A missão de Jesus pode ser definida como uma recriação do mundo.

Fonte: franciscanos.org.br


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

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