Por José Antonio Pagola
Muitos cristãos vivem hoje num estado intermediário entre o cristianismo tradicional que alimentou os primeiros anos de sua vida e uma descristianização que foi aos poucos invalidando-o totalmente.
Talvez sem expressá-lo com palavras, muitas pessoas vivem com a secreta inquietude de que as profundas mudanças socioculturais que estão acontecendo ameaçam fazer desaparecer de nosso povo a fé cristã, da qual vivemos até há pouco.
É normal então esse cristianismo “na defensiva”, que se observa em não poucos crentes, desconcertados diante de costumes e propostas que arrasam o sentido cristão da vida, e perturbados por tanto embuste e ataque desrespeitoso à fé.
Uma fé exposta a tantas críticas e combatida por tantas frentes só pode ser vivida com autenticidade por aqueles que descobrem a alegria de encontrar-se com a realidade do Deus vivo. Cada um tem de fazer sua própria experiência. Pertencer à Igreja e confessar com os lábios a doutrina cristã não protege mecanicamente contra a incredulidade. Hoje é mais necessária do que nunca “a experiência religiosa”.
De pouco servirá aos cristãos confessar rotineiramente suas crenças, se não descobrem a fé como experiência feliz, calorosa e revitalizadora. O decisivo é sempre encontrar “o tesouro escondido no campo”. Encontrar-se com o Deus de Jesus Cristo e experimentar que é Ele que pode responder de maneira plena as perguntas mais vitais e os anseios mais profundos.
Mais do que nunca precisamos rezar, fazer silêncio, livrar-se de tanta pressa e superficialidade, deter-nos diante de Deus, abrir-nos com mais sinceridade e confiança a seu mistério insondável. Não se pode ser cristão por nascimento, mas por uma decisão que se alimenta na experiência pessoal de cada um.
Fonte: Franciscanos
JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.