Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém/PA
Introdução
A Igreja, desde a sua fundação, sempre se mostrou muito sensível para com a educação. O ser humano é vocacionado, ou seja, chamado ao desenvolvimento integral e sem a promoção da educação, isso não é possível.
A Igreja é educadora e sempre zelou por essa responsabilidade. A Evangelização tem uma dimensão educativa; implica processos de crescimento, amadurecimento, de conquista de virtudes, por isso diz, São Pedro: “façam esforço para pôr mais virtude na fé, mais conhecimento na virtude, mais autodomínio no conhecimento, mais perseverança no autodomínio, mais piedade na perseverança, mais fraternidade na piedade e mais amor na fraternidade. De fato, se vocês tiverem essas virtudes em abundância, elas não permitirão que vocês se tornem inúteis ou infrutíferos no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Pe 1,5-8).
A Igreja reconhece que a educação também é instrumento estratégico de transformação da sociedade. É nesse horizonte transformador e libertário que o Papa Francisco nos convida a pensar na grandeza da educação e, assim, nos propõe o Pacto Educativo Global (PEG). Vamos aprofundar esse importante assunto.
- Uma Aliança Educativa Global
O Papa Francisco, com sua profunda sensibilidade humanista, já nos lançou dois grandes convites com abrangência universal: na carta encíclica “Laudato si”, convidou a humanidade a trabalhar pelo cuidado da «casa comum», o nosso planeta. Consequentemente estamos todos envolvidos nessa árdua tarefa.
O segundo convite global do Papa Francisco é de natureza estratégica para podermos alcançar o primeiro e encontrarmos soluções para tantos outros dramas da humanidade. Trata-se do “Pacto Educativo Global» (2020). O ser humano é chamado aprofundar a consciência da própria identidade para poder qualificar o seu universo de relações consigo mesmo, com o outro, com a sociedade, com a natureza e com Deus.
O PEG não é um documento, não é uma carta, não é um discurso, não é uma tese… Trata-se de uma atividade social, é um desafio educativo, um exercício, uma proposta, um caminho a ser percorrido. O próprio Papa Francisco diz que se trata de reunir esforços para a promoção de uma ”ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar fragmentações, contrastes e reconstruir o tecido das relações em ordem a uma humanidade mais fraterna”.
- Qual modelo de educação?
O PEG é consequência da sensibilidade para com os problemas do mundo e a busca de soluções. O Papa Francisco nos convida a sair da condição de vítimas ou meros expectadores da realidade para sermos sujeitos transformadores do mundo através da educação. A mais profunda e autêntica transformação do ser humano é consequência da educação. A educação implica processos de transformação interior, mental, afetiva que proporciona a qualificação das relações humanas.
É urgente um PEG porque atualmente há na sociedade uma profunda fragmentação das relações entre a família, a escola, os poderes e a sociedade. A educação profunda é capaz de reconstituir os vínculos fragmentados das relações humanas na sociedade que promove a consciência humanitária, a ética nas relações e o senso profundo de corresponsabilidade.
Segundo o Papa Francisco, a fonte da resolução de todos esses problemas se chama “educação”. A educação pode renovar a humanidade; mas que seja uma educação coerente com a dignidade humana, profunda, ampla, dinamicamente libertária e integral.
Somente um sério e permanente investimento na educação integral e de qualidade o ser humano poderá atingir o máximo do seu potencial, tornando-se um ser consciente de sua identidade, vocação, livre e responsável.
Continua advertindo o Papa Francisco que a educação proposta pelo PEG deve ser capaz de pensar nas gerações vindouras e no futuro da humanidade. Portanto, não pode ser uma educação de caráter presentista, funcionalista e imediatista voltada unicamente para as necessidades econômicas, técnicas, profissionais e materiais. Trata-se de uma educação capaz de integrar a linguagem da cabeça, com a linguagem do coração e a linguagem das mãos (pensar, sentir, agir).
- Por que um Pacto Educativo Global?
Há no mundo atualmente graves situações de violação dos direitos humanos e tantas outras legítimas aspirações que devem ser acolhidas, mas sem uma educação pautada na dignidade do ser humano isso não será possível. Vejamos algumas dessas realidades mundiais dramáticas que demandam uma resposta da educação aliada à promoção da dignidade humana.
Há no mundo graves situações de injustiça em relação a promoção da dignidade humana, uma delas se reflete no baixo índice de educação e bem-estar, pois há uma íntima relação entre educação e o desenvolvimento humano integral.
Há no mundo uma séria crise humanitária, que é fruto da crise de identidade do ser humano marcada pelo reducionismo antropológico, ou seja, da perda da visão da totalidade das dimensões da pessoa humana. Sem a visão holística do ser humano promove -se o hedonismo, o consumismo, o tecnicismo, o utilitarismo, o racionalismo, o espiritualismo, o subjetivismo, o voluntarismo etc.
Diante desse quadro de graves problemas que atingem a humanidade, reconhecemos que a educação tem uma profunda e séria Responsabilidade Social. Como bem frisou o Papa Paulo VI, o progresso econômico e tecnológico não basta; é preciso acima de tudo, um sério e amplo investimento no desenvolvimento do ser humano.
- Os sujeitos envolvidos
Há um provérbio africano que diz que “para educar uma criança é necessário a ação de uma aldeia toda”. O PEG nos convida a participarmos de um verdadeiro mutirão em prol da transformação do mundo. São chamados a tomar parte dessa ação conjunta mundial o maior número possível de sujeitos, como por exemplo, a família, parentes e amigos, a escola, os governos em todos os níveis (municipal, estadual, nacional), as instituições, as associações, os movimentos sociais, as religiões, as igrejas, as empresas, os profissionais de todas as áreas e categorias. Todos esses sujeitos tem uma responsabilidade para com a educação; devem contribuir educativamente para que o mundo seja melhor.
A educação, por ser um Bem Comum da humanidade, não deve ser delegada à escola, nem à universidade, muito menos ser reduzida ao seu aspecto formal. Cada sujeito deve contribuir com a educação a partir da própria missão a serviço da sociedade.
As competências das instituições devem somar com a promoção da justiça e a paz. Na perspectiva do Pacto Educativo Global cada educador, líder e instituição são chamados a se perguntar sobre o que poderão fazer para que o mundo seja melhor.
PARA REFLEXÃO PESSOAL:
- O que você entendeu sobre o Pacto Educativo Global?
- O que significa “educação reducionista”?
- Por que a humanidade precisa de um Pacto Educativo Global?
Fonte: CNBB Norte 2